Inhotim sedia o Museu de Arte Negra idealizado por Abdias Nascimento
Quadro de Abdias do Nascimento. Foto: Acervo Museu de Arte Negra
Quadro de Abdias do Nascimento. Foto: Acervo Museu de Arte Negra
Exposição no Inhotim em parceria com IPEAFRO traz diálogo entre as obras de Abdias Nascimento e Tunga
Por Maria Luiza Cunha | Culturadora
Em parceria com o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), o Inhotim irá sediar o Museu de Arte Negra (MAN) com um programa de exposições previsto para os próximos dois anos. O primeiro ato: Abdias Nascimento e Tunga, vai de 4 de dezembro a 10 de abril de 2022. A exposição traz pinturas, desenhos, fotografias e instalações que explicitam o diálogo entre Tunga e Abdias Nascimento, amigos de longa data.
A exposição será dividida em quatro atos, cada um com duração de cerca de cinco meses. O primeiro, que estabelece relação entre as obras de Abdias Nascimento e Tunga, está montado na Galeria Mata. Ela fica próxima à Galeria True Rouge, que expõe de forma permanente a instalação de título homônimo de Tunga.
Abdias Nascimento (1914-2011) foi poeta, escritor, dramaturgo, curador, artista plástico, professor universitário, pan-africanista e parlamentar. O artista foi indicado oficialmente ao prêmio Nobel da Paz em 2010 e se envolveu na luta contra o racismo.
A exposição é realizada no ano em que o falecimento de Abdias Nascimento completa uma década. Sendo assim, é uma forma de homenagear o artista. A iniciativa surgiu através de conversas entre Inhotim e IPEAFRO, que zela pelo legado de Abdias, por cerca de um ano.
O Museu de Arte Negra, é um projeto idealizado pelo Teatro Experimental do Negro criado sob a liderança de Abdias Nascimento no início dos anos 1950. Ele foi pensado para ser um “museu voltado para o futuro” com o objetivo de recolher e divulgar a obra de artistas negros.
Dessa maneira, o acervo do MAN conta com obras doadas por Tunga. “Isso por si só já basta para a gente pensar em qualquer tipo de conexão ou de relações (entre as obras), para além de questões estéticas. Porque um dos primeiros trabalhos desenvolvidos pelo Tunga, ainda com 15 anos de idade, foi uma gravura que ele doou para o MAN. Então, isso de alguma forma afeta o trabalho dele, inclusive, ele fala em algumas entrevistas de como as ideias do Abdias foram importantes para a construção da carreira dele, dos pensamentos e como aquilo mudou e transformou ele”, conta Deri Andrade, curador assistente do Inhotim e pesquisador à frente do Projeto Afro.
“A arte negra, o pensamento de Abdias Nascimento, para mim, é um pensamento libertador”, afirma Julio Menezes Silva, coordenador do projeto Museu de Arte Negra do IPEAFRO no ambiente virtual.
O coordenador ressalta, ainda, a intenção de estabelecer uma interação entre a exposição e o público local. “A gente não quer perder de vista essa visão reparatória. O que a gente quer fazer daquele espaço? A gente não está muito preocupado com o resultado, o que vai acontecer, mas como nós vamos fazer isso. E como nós vamos fazer isso é tentando manter um diálogo aberto com a comunidade local e ouvindo as necessidades, do que eles querem, do que nós queremos que aquele espaço se transforme ao longo de dois anos“.
De acordo com Douglas de Freitas, curador do Inhotim, o projeto é uma oportunidade de rever conceitos e processo de trabalho. “Para o Inhotim [a exposição] toca em questões tanto de revisão de coleções, de revisões de histórias da arte contemporânea também. Eu acho que olhar para esse acervo do Abdias é de fato fazer, com um grande atraso, o exercício que ele propõe com o museu, que é olhar para esse legado, que já existia na arte moderna, dessa presença da cultura negra na arte moderna”.
“Só o fato do projeto acontecer a partir de uma parceria, de uma colaboração entre duas instituições tão importantes, aí já tem uma certa novidade, principalmente para o Inhotim, que recebe o IPEAFRO, recebe o Museu de Arte Negra. Apesar do IPEAFRO já ter feito parceria com outras instituições. Dessa maneira, para o Inhotim, essa é com certeza uma das grandes novidades do projeto e da história mesmo do instituto.” conta Deri Andrade.
Local: Galeria Mata, Instituto Inhotim.
Visitação:?de?quinta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30.
Ingressos:?R$ 22 (meia) e R$ 44 (inteira) no?Sympla.
Entrada gratuita na última sexta-feira de cada mês, exceto feriados, mediante retirada prévia?através do?Sympla?
Moradores de Brumadinho cadastrados no programa Nosso?Inhotim?e Amigos do?Inhotim?também possuem entrada franca.
Maria Luiza Cunha é jornalista em formação e colaboradora do Culturadoria. Ama entrevistas, ler e colecionar curiosidades.
Publicado por Por Maria Luiza Cunha | Culturadora
Publicado em 03/12/21