
Marina Sena - Foto: Fernando Tomaz
O novo projeto é um ecossistema ideal para que Marina Sena destile talento, colocando a cantora na rota da grandeza
por Caio Brandão | Repórter
O ano de 2021 foi, no mínimo, peculiar. Agindo como uma transição entre o inferno pandêmico e o retorno à vida “normal”, esse recorte de tempo foi marcado por uma euforia quase boêmia, como se todos estivessem se arrumando para uma grande festa.
Nesse sentido, a trilha sonora desse período tinha que ser memorável. Surge, então, Marina Sena. A cantora lançou, naquele fatídico agosto de 2021, o álbum de estreia, intitulado “De Primeira”, e o impacto foi instantâneo.
Não havia escapatória: vários estabelecimentos de BH tocavam os hits da artista. Sendo assim, não demorou muito para que os olhos da indústria musical virassem para ela, afinal era óbvio o potencial que existia ali.
A voz única, presença de palco e, acima de tudo, a habilidade ímpar de entregar ao público o que ele quer, foram fatores que posicionaram a cantora como uma bomba relógio. Era apenas questão de tempo até Marina virar uma estrela do pop, e tudo indica que esse momento chegou.
Vício Inerente
O palco estava pronto para Marina, e, assim, o aguardado segundo álbum, “Vício Inerente”, foi lançado no dia 27 de abril.
A obra é, basicamente, a manifestação artística da gigantesca ambição da cantora: Sena quer ser enorme, e isso define o trabalho. Um anseio explosivo por grandeza, que é, ao mesmo tempo, metódico e calculado, permeia o álbum.
Marina sabe onde quer chegar, bem como o que fazer para alcançar os objetivos. “Vício Inerente” é a prova disso. Assim, a assimilação de vários estilos musicais que já estão presentes no mainstream é um grande aspecto da obra.
O ônus e o bônus do sucesso
Tendo tudo isso em vista, é necessário colocar o processo descrito no último parágrafo em uma balança. Digo isso pois, em alguns momentos, Marina parece querer se enquadrar em um molde, no caso, a indústria do pop brasileiro.
Desse modo, o álbum incorpora gêneros que já estão no mainstream no Brasil. Trap, Reggaeton, Funk e até mesmo a MPB, estão presentes no disco, assim como na maioria dos trabalhos de outras grandes cantoras no panorama musical brasileiro atualmente.
Marina pareceu abandonar certos aspectos da primeira obra, em detrimento de um encaixe no hype. Dito isso, é claro que esse tipo de raciocínio não é intrinsecamente defeituoso, afinal de contas vários artistas fizeram, e fazem, isso com sucesso durante as respectivas carreiras. Inclusive, também não acho que Marina seja uma exceção a essa lógica. “Vício Inerente” é, sim, um bom álbum.
Contudo, o que me incomoda é que essa última obra não dá a mesma sensação refrescante que “De Primeira”. Não que eu ache que os dois projetos deveriam ser iguais, muito pelo contrário: a evolução de perspectivas e a ousadia são imprescindíveis para qualquer grande artista, mas é justamente essa ousadia que poderia ter sido mais presente.
O background e o primeiro plano
“Vício Inerente”, em suas composições, não está muito preocupado em inovar ou experimentar demais. Sendo assim, a parte instrumental se ergue, principalmente, partindo de trends contemporâneos.
Porém, mesmo que essa decisão seja um pouco confortável demais, ela é, no final das contas, o rumo certo a se tomar quando se considera a intenção da obra. Marina está mirando nas estrelas. Ela tem convicção de que acertará.
Nessa perspectiva, os instrumentais presentes no projeto concedem à cantora algo análogo à uma tela branca, sob a qual ela destila seu talento e personalidade. Quando Marina Sena canta, você instantaneamente reconhece, e isso não é diferente dessa vez.
As produções são como passarelas para que a artista caminhe sobre, e não acho necessário que eu diga que ela tem o talento e a presença para tirar isso de letra. A essência de Marina está ali, mais forte do que nunca, e ela não dá sinais de satisfação. O céu é o limite, etc.
Foco e grandeza
Portanto, “Vício Inerente” é um sucesso, já que ele é, sem esforço algum, o que se propõe a ser: a tentativa de Marina de alcançar o status de diva pop e, pelas reações do público, parece que esse é um futuro bem plausível.
O álbum não se preocupa em tentar revolucionar, mas sim em se estabelecer. Pessoalmente, me incomoda um pouco o quão confortável a obra é, e gostaria de ver mais experimentação em futuros trabalhos da cantora. Mas, considerando os objetivos da artista, talvez esse realmente não seja o momento de correr riscos desnecessários.
Assim, “Vício Inerente” faz parte do que promete ser a continuidade da ascensão meteórica de Marina Sena, que mais uma vez, soltou um trabalho marcante, focado e, principalmente, autoconsciente. Basicamente, a cantora sabe muito bem o que faz, e esse último projeto deixa isso claro.
Você pode ouvir “Vício Inerente”, na íntegra, pelo link.