Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“Zé”, livro que inspirou filme de Rafael Conde, ganha nova edição

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Escrito pelo cearense Samarone Lima e lançado em 1998, “Zé”, o livro, estava fora de catálogo há quase dez anos

O ponto de partida do filme “Zé”, de Rafael Conde, em cartaz na cidade, foi o livro “Zé – José Carlos Novais da Mata Machado, Uma reportagem”, escrito por Samarone Lima e lançado em 1998. Antes de partir para a escrita, o autor investigou a vida do militante por cinco anos, em arquivos da repressão, entrevistas com militantes contra a ditadura, familiares e amigos. Nascido em março de 1946 e assassinado em outubro de 1973, o personagem-título do longa participou da Ação Popular Marxista-Leninista (APML).

Ocorre que o livro que deu origem ao filme – lançado, à época, pela Mazza Edições – está fora de catálogo há pelo menos 10 anos. No entanto, o escritor Samarone Lima acaba de lançar uma campanha de pré-venda de uma segunda edição, revista e atualizada. A entrega está prevista para o início de 2025.

Na foto, cena de "Zé", filme de Rafael Conde, baseado no livro homônimo (Embaúba Filmes/Divulgação)

Fatos e versões

Samarone conta que a versão oficial sobre a morte de Zé, divulgada em vários jornais do país, inclusive no “Jornal Nacional”, foi a de que ele teria morrido num tiroteio, no Recife, com os próprios companheiros de organização. Assim, foi enterrado como indigente, junto ao também mineiro Gildo Macedo Lacerda. “Ninguém sabia, mas seu cunhado, Gilberto Prata Soares, vinha trabalhando para a repressão desde fevereiro daquele ano, como “infiltrado” na AP. A delação do cunhado de Zé provocou o assassinato de ao menos seis pessoas.

“Nenhum deles participou de ações armadas. Num caso raríssimo do período, a família Mata Machado conseguiu resgatar o corpo do Zé, mesmo tendo sido enterrado como indigente. Pesou a favor a forte denúncia internacional que Edgar da Mata Machado, seu pai, conseguiu dar ao caso, através especialmente dos intelectuais franceses e europeus, com quem mantinha intensa relação de amizade. A advogada pernambucana Mércia Albuquerque, defensora de dezenas de presos políticos, conseguiu enviar os restos mortais do Zé para Belo Horizonte”, expõe Samarone.

Entrevistas

O escritor de “Zé” acrescenta que, pela absoluta falta de documentos oficiais, no contexto político do início dos anos 1990, o livro foi escrito a partir de fontes orais. “Com seus companheiros de militância, presos políticos e familiares, além de notícias de jornais. Samarone entrevistou mais de 60 fontes, em Recife, João Pessoa, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Londrina. Três pessoas entrevistadas viram o Zé no DOI-CODI do Recife, e uma delas o viu agonizante, em uma cela”.

O livro “Zé” foi descrito como ‘emocionante’, pelo jornalista Elio Gaspari, no seu livro “A ditadura escancarada”. A obra tem citação no momento em que ele fala dos infiltrados nas organizações de esquerda.

A nova edição

Samarone diz que, com o avanço da democracia no Brasil, bem como com a criação da Comissão da Verdade, em 2011, foi possível encontrar documentos oficiais sobre diversos crimes da ditadura. “A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, de Pernambuco, criada pelo governador Eduardo Campos, em 2012, se debruçou sobre o caso do suposto tiroteio no Recife, em outubro de 1973 (que vitimou “Zé”). Ouviu parentes, militantes da AP, e levantou uma grande quantidade de documentos referentes ao caso. Acompanhei toda a investigação e consegui cópias dos depoimentos oficiais e depoimentos”.

Ele lembra que a infiltração de Gilberto Prata na AP, que resultou na prisão de Zé e seus companheiros de Ação Popular, recebeu o nome de Operação Cacau. “No relatório do Exército, há depoimentos de presos, registros, relatos de ações que estavam sendo monitoradas. Tal qual e fotos do Zé, ao lado de sua companheira, Madalena Prata Soares, em Salvador, pouco antes de sua prisão”.

Em julho de 2020, Samarone resolveu fazer uma nova pesquisa. Desse modo, entrevistou outros amigos de Zé. Tal qual, velhos militantes da AP, “irmãos que não tinham falado na primeira pesquisa”. Entre eles, Dorival Mata Machado, que nasceu em 1972, quando os pais eram militantes clandestinos, na periferia de Fortaleza. Samarone pretende aprofundar o tema da “luta desarmada”, que terá dois outros volumes, até 2026.

Serviço

Nova edição do livro “Zé”, de Samarone Lima.

O interessado deve enviar um pix no valor de R$ 100 para [email protected] (em nome de Samarone Lima). Feito pagamento, enviar o comprovante para o WhatsApp do escritor: (81) 99988-4003.

?A nova edição do livro está prevista para janeiro de 2025.

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