Pare pra pensar por cinco segundos. Você com certeza já se perguntou qual é o seu propósito ou a sua missão na vida. Além disso, o que te move e te faz feliz? Esses questionamentos constantemente nos cercam e são ponto central na animação Soul, filme da Pixar lançado pela Disney na plataforma de streaming Disney+. O longa emociona ao tratar com delicadeza e profundidade de temáticas tão sensíveis e pouco palpáveis.
Dirigido por Pete Docter (Up e Divertidamente) e Kemp Powers (roteiro em Star Trek: Discovery), Soul narra a história de Joe Gardner (Jamie Foxx), o primeiro personagem negro da Pixar. Ele é um professor de música e pianista apaixonado por jazz que sonha em ser um grande músico e viver da arte. Depois de uma audição, quando finalmente consegue a oportunidade de tocar com uma das maiores artistas de Nova York, ele sai saltitante, se fere e vai para outra dimensão. É uma espécie de coma. A partir daí, embarca em uma jornada para fazer a própria alma se conectar novamente com o corpo. Fica aqui de antemão que não tem nada de religioso ou espiritual, mas sim uma experiência profunda e a exploração de questões metafísicas para a construção da narrativa.
Filme para criança?
No momento pós-vida no qual Joe se encontra, está em uma esteira em direção ao “grande além”, a famosa luz no fim do túnel. Quando percebe que é a hora da “passagem” ele foge e cai no “grande antes”, o local anterior à vida. Lá, as almas adquirem a personalidade, encontram o propósito e vão finalmente para a Terra. Nesse ponto, a gente se pergunta se realmente se trata de um filme para o público infantil. Entretanto, o poder da animação oferece camadas para todos os públicos. Ao mesmo tempo em que tem piadas simples, sutis e trocadilhos, há a angústia de Joe em querer voltar para o seu corpo e realizar o grande sonho da sua vida a todo custo. Ou seja, a sua missão de ser um músico aclamado depois de tantos anos lutando.
A sensibilidade do filme se torna ainda mais evidente quando Joe fica responsável por ajudar a personagem 22 a encontrar a sua personalidade/missão para finalmente ir para Terra. Acontece que ela já resistiu a Carl Jung, Madre Teresa de Calcutá e até Mohamed Ali para não passar para a próxima fase. De jeito nenhum quer viver em pele e osso. Dessa forma, juntos, eles começam a procurar uma saída para o retorno de Joe. Entretanto, a dupla dinâmica só mostra o quão importante é viver a vida e os pequenos detalhes de verdade. Sobre como admirar o céu, sentir o vento no rosto e viver o momento pode fazer diferença.
Temática da morte
As últimas produções da Pixar têm a morte como tema recorrente, como Viva, a vida é uma festa (2017) e Dois irmãos: uma jornada fantástica (2020). Assim como esses, Soul começa na superfície, no corriqueiro, e vai se aprofundando. Mesmo que o longa não fale diretamente de morte, o tema está sempre presente permeada por uma estética e ambientação conflitantes. Enquanto em Nova York, cidade de Joe, é tudo caótico, a dimensão das almas é clean, minimalista e calma.
Em resumo, assim como os filmes anteriores da Disney Pixar, Soul impressiona pela técnica e pelos efeitos visuais. Não podemos, claro, deixar de citar a trilha sonora incrível, já que é um filme no qual o protagonista é apaixonado por música.
Mensagens
É claro que o final feliz fecha o filme com chave de ouro. Mas o sabor está no meio e essa é justamente a principal mensagem de Soul. Além de viver a jornada nos detalhes e no momento presente. Outro recado fundamental é a importância de acreditar nos sonhos. Sim, da forma mais clichês mesmo. Muitos altos e baixos atravessam o caminho. Só que tudo isso é importante no processo de amadurecimento e até mesmo de autoconhecimento. É sempre bom se dar uma segunda chance.