
Cena de Transformers Premake. Foto: Universo Produção/Divulgação
É inegável que estamos cada vez mais conectados com as telas, sejam elas das TVs, smartphones, computadores ou tablets. Então, é apenas natural que as produções acompanhem esse movimento. Tanta conexão deu origem ao gênero de cinema desktop movie, também conhecido como screenlife.
Basicamente, são filmes que se desenrolam em uma tela e dentro de um dispositivo. As imagens e áudio são capturados pelo mesmo, ou seja, sem gravações ao ar livre.
Com a popularização de câmeras e aparelhos de gravação, no início do século vimos muito conteúdo diferente surgir. Um exemplo é o longa de terror que mostra toda a história pelo olhar do personagem, como “A Bruxa de Blair”. O screenlife é praticamente uma versão exacerbada disso.
O gênero “desktop movie” é uma das novidades na programação da Mostra CineBH. A 15ª edição do evento, marcada para o período de 28 de setembro a 03 de outubro, vai explorar o tema Cinema e Vigilância. Sendo assim, pelo menos dois documentários da Mostra Temática que serão exibidos online e gratuitas foram feitos dessa maneira. Confira aqui a programação completa!
Canções Engarrafadas 1-4 é uma série de cartas em vídeo trocadas entre os realizadores Chloé Galibert-Laîné e Kevin B. Lee. Eles investigam online a propaganda audiovisual produzida pela organização terrorista Estado Islâmico. Já Transformers: The Premake, de Kevin B. Lee, é um documentário que reúne uma série de imagens de bastidores feitas pelos fãs da franquia. Ambos serão exibidos gratuitamente entre os dias 29 de setembro e 03 de outubro.
Modo de fazer
Utilizando os próprios dispositivos e softwares de edição, filmes, séries e documentários são revolucionários ao mostrarem não apenas as pessoas, mas o que se passa na tela de cada uma delas. Afinal, uma das melhores formas de entender alguém em um mundo digitalizado é observando seu comportamento online.
Por que o gênero se popularizou na pandemia?
A pandemia de COVID-19 impediu a socialização presencial, tornando a maior parte dos encontros virtuais. Quer cenário mais propício que esse? Os longas se passam em um ambiente muito familiar para todos – o digital.
Outro motivo que levou este gênero a prosperar durante os tempos de quarentena é a possibilidade de realizar gravações à distância, sem uma equipe enorme e com um orçamento bem mais baixo que o comum das grandes produções. O resultado: filmes próximos do público, sem perigo para os idealizadores e com um menor custo.
Contudo, mesmo com uma interação física menor, cada nuance de um filme screenlife ajuda a montar a narrativa de formas que podem até passar despercebidas. Só a maneira de digitar, alternar entre janelas repetidamente ou pesquisar algo no Google entrega o que o personagem sente, pensa e faz quando pensa que mais ninguém está vendo.
E tudo indica que o gênero continuará crescendo mesmo em um cenário pós-pandêmico. A Universal Studios já assinou contrato com uma produtora de filmes deste formato para lançar pelo menos 5 longas em breve.
Proximidade assustadora
É perceptível que grande parte dos produtos são de terror. Isso se deve à fácil identificação de quem assiste com os personagens. Ao vê-los na tela, é natural relacionar o que eles passam com o que nós mesmos vivenciamos ao participar de uma reunião virtual entre amigos, por exemplo.
A trilha, as imagens, o volume, tudo é “escolhido” pelo personagem, o que permite uma proximidade e entendimento não comumente vistos em filmes gravados da maneira “convencional”.
Não existem apenas filmes de terror screenlife, o formato já foi utilizado em documentários e até mesmo em séries de comédia. Entretanto, é inegável que o fator proximidade faz com que esses longas sejam os mais bem-sucedidos do tipo.

Dicas: 5 filmes do estilo screenlife para conhecer (e onde assistir)
Amizade Desfeita (2014)
Um dos precursores do gênero, Amizade Desfeita é um filme que lucrou mais de US$64 milhões mundialmente. Ele conta a história de um grupo de amigos que é assombrado por uma força sobrenatural. A entidade usa a conta da rede social de uma amiga que faleceu para revelar segredos sobre o grupo. Está disponível no Telecine Play.
Buscando… (2018)
Do mesmo criador de Amizade Desfeita, Buscando mostra o desespero de David para encontrar sua filha desaparecida. Sem saber de nenhuma pista, ele decide olhar o computador da garota, seguindo seus rastros digitais para encontrá-la o mais rápido possível. É um thriller muito interessante e que usa bem o screenplay. Está disponível no Now.
Host (2020)
Um dos “filhos da pandemia”, Host é mais um filme de terror que se passa no meio da quarentena. A história começa quando um grupo de amigos contrata uma médium para fazer uma sessão xamânica via Zoom. As coisas começam a dar errado, e então eles percebem que o perigo está dentro de casa, também. Você pode assistir na Netflix.
C U Soon (2020)
Mostrando a realidade nua e crua dos relacionamentos virtuais, C U Soon acompanha Jimmy, que conheceu Anu em um aplicativo de namoro e planeja se casar com ela. O primo de Jimmy fica com a complicada missão de usar a internet para descobrir mais sobre a moça, que parece não ser bem o que aparentava. Disponível no Prime Video.
Pânico em Casa
Outro filme em screenlife em que a história se passa na pandemia, Pânico em Casa mostra amigos que se organizam em uma festa online, por vídeo. Depois de se aventurarem com drogas ilícitas, eles percebem que não estão tão seguros em casa quanto imaginam. Está disponível no Prime Video.
Dica Bônus:
Transformers: O Premake (2014)
Documentário com direção de Kevin B. Lee reúne fragmentos de imagens compartilhadas pelos fãs de Transformers durante as filmagens. É um filme feito a partir de 355 vídeos do YouTube que serve de estímulo para pensar a transformação da linguagem do cinema e suas múltiplas possibilidades. O filme utiliza a técnica de “desktop documentário” que reconhece o papel da internet não apenas como um repositório ilimitado de informações, mas como uma experiência primária da realidade. Na programação da CineBH, disponível on-line entre 29 de setembro e 03 de outubro.
Por Joyce Vieira | Culturadora
