Um livro que vem dentro de uma caixa que simula uma embalagem de lasanha. Dentro da caixa, uma quentinha com diversos escritos. Esse é o formato do livro Carne, da escritora Bruna Kalil Othero. A obra vai ser lançada nesta quinta-feira junto com o livro de poemas Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas, da mesma autora. Os livros têm histórias diferentes, mas a autora decidiu fazer lançamento único. “Como Carne é um livro de produção cara, resolvemos fazer poucas impressões e lançar os dois de uma só vez”, explica Bruna. Quem comparecer ao evento pode adquirir o livro, bater papo com a autora e ainda ver uma performance dramática com o grupo Mulheres Míticas.
Livro-objeto
Para entender do que se trata Carne, tenha em mente uma quentinha que precisa ser violada para ser consumida. O mesmo acontece com o livro. O projeto gráfico foi feito pelo bacharel em edição e música Octavio Cardozzo. Ele apresentou a proposta como trabalho de conclusão de curso na formação em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG. Não apenas Octavio inovou, como também Bruna Kalil. Esta é a primeira vez que a escritora se aventura pelos lados da ficção. “Eu falo que este é um livro de ficções porque eu ainda não acho que enquadro em um gênero literário ainda. Não falo que conto, por exemplo, pois acredito que não é exatamente isso”, explica a autora.
Prêmio do Ministério da Cultura
Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas é um nome um tanto quanto curioso, não é? O prêmio foi concedido em 2018 quando o ministério lançou um concurso sobre o legado dos 100 anos da Semana de Arte Moderna, que foi realizada em 1922 em São Paulo. “Eu sempre fui encantada pelos modernistas, muita da minha formação se deu a partir das coisas que aprendi sobre eles. Então, eu decidi brincar um pouco com esse período no livro. Eu desrespeito mesmo os pensadores daquela época neste livro de poemas”, desabafa Kalil. A proposta é lavar a roupa suja dos modernistas Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral de forma bem-humorada e contemporânea. Só para exemplificar, veja este trecho.
o matriarcado de pindorama
queimamos sutiãs
manchamos quadros de sangue
menstrual
fomos às ruas gritar
no vácuo
tarsila do amaral quando pintou-se a si
de manto vermelho
não pensava que
anos depois
viraria propaganda da boticário.
Entretanto, Bruna Kalil é enfática ao falar sobre a relação com os clássicos. “Para fazer o livro eu desrespeitei os clássicos. Mas como professora e pesquisadora tenho extrema admiração por eles. Drummond, Bandeira, Mário… são referência”, conta.
Cultura no Brasil
Ao falar sobre o prêmio pela obra Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas Bruna Kalil faz mais um desabafo. “Eu fiquei muito feliz e honrada de ter sido a vencedora do prêmio. Ao mesmo tempo sinto um peso muito grande que eu carreto com esse título e com o prêmio. Isso porque esse provavelmente é um dos últimos prêmios do extinto Ministério da Cultura”. Bruna faz questão de destacar o prêmio que recebeu em dinheiro, uma vez que “o artista não vive de vento”.
O lançamento de ambos os livros é neste dia 31 de outubro, na Galeria de Arte Mama Cadela. Ambos os livros, Carne e Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas, contam com participações de grandes nomes da literatura. O primeiro teve orelha escrita por Luiz Ruffato e o segundo por Antônio Barreto. As obras são lançamentos do Grupo Editorial Letramento.
[O QUE] Lançamento dos livros Oswald pede a Tarsila que lave suas cuecas e Carne, de Bruna Kalil Othero [QUANDO] 31 de outubro, 19h [ONDE] Galeria de Arte Mama Cadela – R. Pouso Alegre, 2048, Santa Tereza – BH [QUANTO] Gratuito