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Música

Cinco novidades na cena musical brasileira

Vitor Ramil (em foto de Marcelo Soares/Divulgação) homenageia o saudoso Paulo Leminski (em foto de Dico Kremer) em novo disco

O início da primavera traz uma série de boas surpresas na cena musical brasileira. Confira!

Patrícia Cassese | Editora Assistente

A solidão é fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima-irmã do tempo. Mas a solidão é também musa inspiradas de belíssimas letras da cena musical brasileira, como essa, da qual pinçamos a frase introdutória desta matéria, escrita por Alceu Valença. A boa nova é que o cantor e compositor pernambucano ganha nova reverência do grupo musical Mombojó. Sim, a banda lançou, no final de setembro, a sua leitura para “Solidão” e, não bastasse, para “Coração Bobo”. Desse modo, os integrantes calibram ainda mais o disco “Carne de Caju”, oficialmente apresentado ao público no início deste 2024, e que tem levado os meninos a várias cidades Brasil afora.

A interpretação do Mombojó para essas duas pérolas é uma das novidades do período, no que tange a singles e discos. Mas tem muito mais. Aliás, mais homenagens. Assim, Leila Pinheiro e o cantor e multi-instrumentista Ricardo Bacelar batem continência para o saudoso João Donato com o álbum “Donato”. Vitor Ramil, por sua vez, rende tributo ao curitibano Paulo Leminski. Enquanto isso, Paulo Otávio resgata a estética da música negra produzida no Brasil dos anos 1970, porém, com repertório inédito. Já o Quinteto Villa-Lobos apresenta, em “Sempre”, um repertório primoroso, com obras emblemáticas da história musical brasileira. Confira!

“Extra” – Mombojó reverencia Alceu Valença

“Coração Bobo” e “Solidão”. Essas duas canções de Alceu Valença formam “Extra”, faixas-bônus que se integram a “Carne de Caju”, projeto do grupo Mombojó em homenagem ao compositor e conterrâneo. A ideia foi “esticar um pouco mais a brincadeira de nos reinventarmos através da obra de Alceu”, diz o grupo. Na verdade, ambas já estavam no repertório musical da turnê. “Assim, aproveitamos uma coincidência de acasos para gravá-las”, explica o baixista Missionário José. “Carne de Caju” é o primeiro trabalho não autoral do Mombojó em mais de 20 anos de carreira.

Os integrantes do grupo Mombojó, que acaba de lançar “Extra” (Homero Basílio/Divulgação)

Vale dizer que o sétimo disco de estúdio do grupo pernambucano venceu Prêmio da Música Brasileira 2024 na categoria Melhor Grupo de Pop/Rock. O álbum foi lançado em janeiro deste ano, com regravações de músicas como “Amor que vai”, “Como Dois Animais”, “Tomara”, “Estação da Luz” e “Romance da Bela Inês”. Aliás, as duas últimas ganharam clipes – um terceiro está em fase de produção. Com a turnê, o grupo musical já passou por mais de 25 cidades em nove estados. “Assim, voltamos a lugares em que não íamos há tempos, bem como fomos pela primeira vez a outros. Então, achamos importante somar a esse repertório e, assim, manifestar a nossa gratidão”, complementa o baixista.

A capa de “Extra”, que contempla duas leituras do Mombojó para clássicos de Alceu Valença

  

Quinteto Villa-Lobos 

“Sempre” (Biscoito Fino), novo álbum do Quinteto Villa-Lobos (grupo fundado em 1962), já está nas plataformas de música. O repertório reúne obras de compositores como Jacob do Bandolim (“Noites Cariocas”), Dorival Caymmi (“Modinha para Gabriela”, “Só Louco”), Joel Nascimento (“O Pássaro”), K-Ximbinho (“Sempre”, “Teleguiado”) ou Pixinguinha & Benedito Lacerda (“Ainda me Recordo”). Em tempo: o registro tem produção e direção musical do próprio Quinteto Villa-Lobos. O clarinetista e compositor Paulo Sérgio Santos, integrante do Quinteto por quase cinco décadas, é homenageado com interpretações de quadros de sua autoria.

A capa do disco “Sempre”, do Quinteto Villas-Lobos (Biscoito Fino/Divulgação)

Ouça o álbum: https://orcd.co/sempre 

Leila Pinheiro e Ricardo Bacelar

Produzido a quatro mãos pela cantora/pianista Leila Pinheiro e o cantor e multi-instrumentista Ricardo Bacelar, o álbum “Donato” (Jasmin Music) traz novas leituras para obras de uma legenda da cena musical, João Donato (1934/2023). A ideia partiu de Bacelar. “A Leila veio para Fortaleza e já no primeiro dia gravamos duas faixas: ‘Lugar Comum’ e ‘A Rã’. Como ela também é musicista, fomos escrevendo as harmonias, tocando, gravando. Tudo fluiu muito naturalmente”, diz ele.

Leila Pinheiro e Ricardo Bacelar, que lançam “Donato” (Valdo Silva/Divulgação)

O cello de Jaques Morelenbaum marca presença em nove faixas do álbum: “A Rã”, “Açafrão”, “Naquela Estação”, “Naturalmente”, “Contas de Vidro”, “Já Que Você Deu Motivo”, “Nua Ideia”, “Flor de Maracujá” e no medley de “Brisa do Mar”/”Surpresa”. Aliás, “Contas de Vidro” é a inédita do álbum (embora já tivesse sido gravada como tema instrumental) de Leila e Bacelar. Trata-se de uma parceria musical de Donato com João Gilberto e Lysias Ênio.

Vitor Ramil

No final de setembro, as plataformas receberam “Amar Você”, single que anuncia o novo álbum de Vitor Ramil, “Mantra Concreto”, inteiramente dedicado à poesia do curitibano Paulo Leminski (1944/1989). Leminski, vale dizer, completaria 80 anos em 24 de agosto deste ano. “Amar Você” deriva do poema “Amar você é coisa de minutos”. A gravação musical conta com a performance de André Gomes no sitar, que, desse modo, pontua o arranjo.

Com lançamento previsto para outubro (Satolep Music), “Mantra Concreto”, na verdade, nasceu no período da pandemia, em 2021. “Justamente por estar isolado em casa, fui contaminado pela poesia de Paulo Leminski. Certo dia, enquanto lia o poema ‘Sujeito Indireto’, passei a mão no violão. Assim, ‘Quem dera eu achasse um jeito, de fazer tudo perfeito’ logo virou canção. Nos dias subsequentes a cena se repetiu com outros poemas. Em três semanas, 13 poemas, 13 canções”, pontua Vitor Ramil, sobre o fluxo musical. A capa do single e a do álbum são do designer Felipe Taborda.

Paulo Otávio

O cantor e compositor gaúcho Paulo Otávio chega às plataformas com o álbum “Vem pro Baile”, em streaming socioambiental. Trata-se de uma modalidade de distribuição musical na qual até 80% das receitas digitais, por streaming ou download, são destinadas à manutenção de projetos de reflorestamento e iniciativas de Sequestro de Carbono. Paulo Otávio resgata a estética da música negra, produzida no Brasil dos anos 70. Assim, apresenta 11 faixas autorais.

Bacharel em Musicoterapia, o compositor Paulo Otávio assina as 11 faixas do álbum (Alfredo Galvão/Divulgação)

Em “Amor é Terapia”, a proposta é resgatar, algo que, diz o artista, “se perdeu na MPB”. Ou seja, a sonoridade do violão do soul brasileiro de Cassiano e Hyldon. “O violão de náilon”, explica o músico. Paulo, vale dizer, é primo-irmão do músico André Abujamra e do ator e diretor, Zé Victor Castiel. Neste primeiro ciclo de trabalhos, o projeto musical teve o Instituto Terra, fundado pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, Lélia Wanick Salgado, como principal beneficiário.

Vem pro Baile (álbum): https://open.spotify.com/intl-pt/album/1q0lGDF6zTnxbD9UmRQ6Ma

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