Depois de seis anos, foi lançado, na semana passada, o último episódio de “A maravilhosa senhora Maisel”
Por Helena Tomaz | Assistente de conteúdo
Aos vinte e poucos anos, Miriam Maisel tinha tudo o que uma dona de casa da alta sociedade nova-iorquina dos anos 50 poderia (ou ao menos deveria) querer: um casamento bem sucedido, dois filhos, um guarda-roupas de dar inveja e um apartamento decorado no Upper East Side.
Uma vez por semana, ela preparava a sua melhor receita de carne assada para trocar, com o dono de um bar situado no centro da cidade, por um bom horário para que o marido, Joel, apresentasse seu ato de stand-up comedy. O ritual era sempre o mesmo: Joel subia ao palco, fazia as piadas já preparadas e arrancava uma risada ou outra de quem estivesse nas mesas. Enquanto isso, Miriam (também chamada de Midge) anotava atentamente as piadas que faziam mais sucesso entre o público.
No dia em que Midge seria anfitriã do jantar de Yom Kippur (importante feriado judaico), no entanto, seu mundo rui quando Joel a abandona. Isso, depois de assumir tê-la traído com a secretária. Sem rumo – e uma garrafa de vinho kosher depois – , Miriam se vê no mesmo palco em que Joel se apresentava semanalmente. As piadas que conta, no entanto, fazem muito mais sucesso que as do ex-marido. E é assim que, meio que ao acaso, Midge descobre seu verdadeiro talento.
Goodbye, Midge!
Seis anos e cinco temporadas depois, “A maravilhosa senhora Maisel” chegou ao fim na última semana. Os altos e baixos das personagens construídas ao longo da série fizeram com que as expectativas para o fim fossem altas – e o medo de a última temporada não corresponder às expectativas, também.
Medo esse que só aumentou com o passar dos episódios da season finale. A temporada começa com uma série de flashforwards (isto é, cenas que se passam no futuro, mais precisamente, nos anos 70 e 80) em que tudo parece estranho. A começar, ver Midge com a aparência envelhecida, bem como o fato (lógico, mas brevemente comentado) de que Abe e Rose haviam morrido. E, ainda, os problemas da relação entre Miriam e Susie e o simples fato de esses momentos não se passarem nos anos 1950.
Apesar de incômodos, os flashforwards são necessários para contar a história criada por Amy Sherman-Palladino para a última temporada. Isso porque a série, que, como dito, era, no início, sobre uma dona de casa que, ao ser abandonada pelo marido, se encontra na comédia, ao longo das temporadas (e especialmente na última) se tornou sobre como Miriam Maisel virou uma grande estrela.
É por isso também que o último episódio é excelente: ao longo dos anos, assistimos a Midge se arriscar, a colocar tudo em jogo, se apaixonar, a brigar e a se acovardar. Assistimos a uma mulher se tornar quem ela é. Na verdade, como disse Abe, na belíssima cena em que sai para jantar com colegas de trabalho, quem ela sempre foi.
Episódio final
“A Maravilhosa Senhora Maisel” é daquelas séries que se caracterizam não apenas pela história que contam, mas, principalmente, pela forma forma como essa história é contada. Por isso, o último episódio precisava ser um clássico Maisel. Ou seja, com diálogos ágeis, figurinos impecáveis, boas risadas – mas com emoção, é claro. E, ainda, com uma Nova Iorque que chega quase a ser personagem da trama. E sim, cada item da lista foi cumprido.
Um único “erro”, digamos, foi a edição não ter colocado as cenas em que Midge e Susie conversam pelo telefone, no futuro, logo no início do episódio. O fato de terem sido inseridas ao final acabou, de certo modo, cortando a emoção do monólogo no programa de TV.
Processos e fins
As cenas no programa, aliás, são impecáveis. Fazem os espectadores entrarem em uma montanha-russa de emoções, relembrando toda a história da série para, só então, assistirem orgulhosos a Midge Maisel quebrar mais uma regra para abrir o próprio espaço no showbusiness. No fundo, essa é a beleza por trás de “The Marvelous Mrs. Maisel”: a série nunca foi sobre os resultados, mas sobre os processos.
Para relembrarmos visualmente a jornada de Miriam, Amy Sherman-Palladino e o diretor de fotografia David Mullen criaram uma rotação de câmera de 360°. No meio do giro, vemos Miriam de costas, falando com o público, em uma imagem que remete ao Gaslight, o bar em que tudo começou. No Instagram, David Mullen explicou mais sobre o processo de criação.
E ainda sobre os processos, vale dizer que as transformações no relacionamento de Midge e Joel são das coisas mais bonitas da série. Seria óbvio demais criar uma narrativa em que o marido que abandona a esposa é unicamente o vilão.
No entanto, ao longo dos anos, vimos Joel evoluir como pai, se tornando mais presente. Da mesma forma, como um filho melhor e um ex-marido (e amigo) orgulhoso. Assim, quando o casamento dos dois acaba, o amor não termina, mas se torna algo novo. Afinal, em Mrs. Maisel, nada é (só) o que parece ser.