Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Marte Um: Cinco razões para não perder o filme mineiro

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Marte Um desponta como a coroação de anos e anos de um trabalho cinematográfico que tem características comuns.

Carol Braga | Editora

Já não é de hoje que a produtora mineira Filmes de Plástico mostra talento. O reconhecimento internacional, inclusive, veio com prêmios no Festival de Cannes. Mas Marte Um desponta como a coroação de anos e anos de um trabalho cinematográfico que tem características comuns. Uma delas: um olhar muito sensível e bem humorado para a periferia brasileira. 

Marte um. Foto: Filmes de Plástico/Divulgação
Marte um. Foto: Filmes de Plástico/Divulgação

Os diretores e roteiristas Gabriel Martins, André Novais Oliveira, Maurílio Martins e o produtor Thiago Macêdo Correa levam histórias para o mundo que falam sobre si mesmos. Com a simplicidade peculiar mineira, dizem sobre vidas que diariamente são impactadas por escolhas de classes dominantes. O diferencial deles é que jamais fizeram de maneira panfletária. Há uma leveza em cada crítica contundente apresentada na tela.

Neste 05 de setembro a Academia Brasileira de Cinema anunciou a escolha de Marte Um como o representante do Brasil para o Oscar. Ou seja, o longa mineiro vai para a lista com filmes no mundo inteiro para tentar uma das cinco vagas na categoria de melhor filme internacional no Oscar 2023.

Os rumos do país

Marte Um começa no dia em que Jair Bolsonaro é eleito. A notícia, divulgada no rádio, é pano de fundo para a dona de casa que “passa” um café para a família. Aliás, é pano de fundo para muito mais. A queda do poder de compra, a dificuldade de se criar dois filhos no Brasil contemporâneo até mesmo a dura lida de quem vive da faxina e não pode perder um dia sequer de trabalho.

Mas a família de Tércia (Rejane Faria) e Wellington (Carlos Francisco) tem a educação como pedra fundamental. Assim, Nina, a filha mais velha, estuda Direito e sabe bem onde merece chegar. O caçula Deivinho, por sua vez, quer ser astrofísico e participar da operação Marte Um, a primeira missão tripulada para Marte. Os filhos, no caso, já vivem situações diferentes dos pais. 

Para além do contexto político, o filme escrito e dirigido por Gabriel Martins também oferece olhar astuto para as mudanças de comportamento. 

Marte um. Foto: Filmes de Plástico/Divulgação
Marte um. Foto: Filmes de Plástico/Divulgação

Pertencimento

Ver Marte Um na primeira semana em cartaz me ofereceu o privilégio de ter alguém gritando na plateia: “olha a minha avó”. Isso não tem preço. O mineiro, mesmo que não seja da periferia de Contagem, se vê na tela. Por exemplo, no jeito de falar, de torcer, de reagir. O trabalho dos atores é cheio de sutilezas que fazem brilhar os olhos de todo mundo que se vê, de um jeito ou de outro, na tela.

Qualidade de realização

Para além da contundência das temáticas tratadas, Marte Um é muito bem realizado em diversos aspectos técnicos. Em muitos momentos da projeção me peguei admirando um enquadramento específico, as cores adotadas pela direção de arte, assim como os movimentos de câmera e a cirúrgica trilha sonora. Não à toa, foi premiada no Festival de Gramado.

Política como poética

Falar da periferia brasileira no contexto do país neste 2022 pré-eleições é, claro, oferecer oportunidades para se pensar. Mas o mais interessante nesse contexto do filme é o modo como o roteirista e diretor oferece a comédia como aperitivo para reflexões profundas sobre problemas estruturais do Brasil. E a comédia é isso: você só ri daquilo que entende. Em resumo: Marte Um é um filme necessário.

Interpretações

Os trabalhos lançados pela produtora Filmes de Plástico tem uma característica interessante. Muitos atores e não-atores participam de diversas produções. Ou seja, podemos dizer que existe uma política do elenco afetivo. Mas em Marte Um além desse carinhoso aspecto, as interpretações chamam atenção por qualidades técnicas mesmo. Rejane Faria é sempre muito boa no que faz. Como Tércia, está ainda melhor. É uma interpretação lotada de nuances. Em muitas cenas, toda a tensão emocional da personagem está em um micro movimento no olhar. É difícil fazer isso com a maestria como ela faz. 

Carlos Francisco como Wellington segue caminho parecido. O personagem traça uma jornada do herói muito marcada e surpreende nos momentos em que sucumbe à realidade. Já Camilla Damião (Nina) e Cícero Lucas (Deivinho) são revelações que também vão te emocionar.

Viva a educação

Uma das primeiras cenas de Marte Um, tanto Nina como Deividson estão na aula. No caso dela, em especial, a professora interpretada por Tatiana Carvalho Costa, apresenta números sobre o sistema carcerário Brasileiro. São alunos negros, a professora é negra e, logo de cara, o filme também fala sobre a importância do acesso à educação. Porém, o tema retoma no final do longa. Em resumo: sem educação para todos não existe possibilidade de planos, de sonhos.

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