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Lenda irrefutável do rock, banda Kiss se despede de BH com show surreal!

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Personalidade, carisma e loucura se uniram na terceira, e última, apresentação do Kiss na capital mineira.

por Caio Brandão | Repórter

O ano era 1983. A extravagância oitentista, nessa altura, definiu uma geração, muito por causa da safra de bandas que surgiu na época. Mas, uma delas se destacava, e chegaria com tudo em Belo Horizonte naquele ano: Kiss.

Banda Kiss. Foto Caio Brandão
Banda Kiss. Foto Caio Brandão

Maquiagens em preto e branco, roupas que existiam em um meio termo entre o medieval e o gótico, e uma presença que, na época, só podia ser definida como chocante. Assim, o Kiss construiu sua reputação, acompanhados de uma miríade de hits que dominaram o imaginário popular.

Quando vieram para BH pela primeira vez, nesse fatídico ano de 1983, o impacto da performance não pode ser subestimado. Primeiro, pois o conservadorismo que dominava o mundo na década de 80 alimentou uma forte repulsa nos mais velhos. 

Depois, porque o Kiss cativou a imaginação dos mais novos, fertilizando ainda mais o solo cultural da capital mineira para o estabelecimento do rock enquanto marco da cidade. Quarenta anos depois, os ícones da música voltaram a Belo Horizonte, e o Culturadoria conta como foi a seguir.

Sepultura

Este texto tem como protagonista o Kiss, é claro. Porém, é impossível não falar um pouco sobre o show de abertura. Surgindo na mesma época em que a banda fez sua primeira apresentação em solo mineiro, Sepultura foi a responsável pela abertura dos trabalhos.

Existia uma suspeita que, por conta das divergências de sonoridade, o conjunto mineiro poderia ser algo alienígena no contexto da noite. Contudo, o que aconteceu foi justamente o contrário.

Não que isso seja exatamente uma surpresa, já que o Sepultura estava tocando na sua casa: Belo Horizonte. Sendo assim, quem já presenciou o grupo tocando nessa situação sabe que é sempre algo especial, e claro que dessa vez não foi diferente.

O som brutal da banda acabou caindo como uma luva, uma espécie de tratamento de choque para quem não estivesse atento. O show contou até com uma participação de Yohan Kisser, filho de Andreas, guitarrista da banda, dando um tom intimista à apresentação. 

Consequentemente, tudo isso deixou o principal objetivo da noite extremamente claro: se divertir e se entregar, e, com o momento derradeiro batendo à porta, a ansiedade andava de mãos dadas com esses sentimentos.

O começo do fim

O palco está montado. Em ambos os lados, estátuas enormes dos membros do Kiss, como se fosse um templo de adoração a deuses do rock. Uma cortina preta cobre todo o palco, e nela, estava estampado o nome da banda, como quem diz “a noite é minha, e vocês sabem disso”.

Então, a cortina cai, revelando uma cena digna de lendas. Não dá para dizer que, nesse momento, o Kiss subiu no palco, mas sim, que desceram. Os componentes da banda iniciaram o show em plataformas descendentes, começando do alto e lentamente chegando ao chão, como se fossem entidades que dariam o gosto da transcendência aos meros mortais ali presentes.

A sensação, contudo, era de estar dentro de uma máquina do tempo. O Kiss tem uma carreira de várias décadas, e o que acontecia ali era o encerramento de uma saga. Mas, o que se via de fato, era a banda como se estivesse nos anos de ouro.

Gene Simmons, Paul Stanley e companhia estavam ali em toda a sua glória, com todos os trejeitos icônicos que ajudaram a construir a fama do conjunto. As maquiagens, as roupas, as músicas, tudo aquilo conservado e amarrado pelo carisma e atitude no palco.

Banda Kiss. Foto_ Caio Brandão
Banda Kiss. Foto Caio Brandão

A intimidade no meio do caos

Outra característica marcante da performance era o esforço da banda de tornar aquilo tudo algo pessoal. Praticamente em todas as vezes em que interagiram com o público, faziam questão de citar Belo Horizonte, construindo uma intimidade entre artistas e plateia.

Aliás, as interações por si só eram um show à parte. Os membros da banda eram como personagens fictícios, vindos direto de um desenho animado, ou um filme. Digo isso no melhor sentido possível, já que esse fator é um testamento à capacidade do grupo de expandir os limites da realidade com as personas adotadas.

Tudo isso resultou no domínio total do público, que ia ao delírio todas as vezes em que essas interações aconteciam. Assim, o surreal permeava o Mineirão inteiro, como um esforço conjunto para transformar a noite em algo verdadeiramente especial.

Também deve ser notado o poder que uma banda como o Kiss possui de amalgamar gerações por meio do amor à música. Famílias inteiras curtindo o show juntas era uma cena comum. Pais, filhos, netos, todos juntos para celebrar a despedida de uma banda lendária. 

A presença arrebatadora do espetacular

Somado a isso, a produção absurda intensificou ainda mais o espetáculo que se erguia. Pirotecnia, plataformas que se movimentavam, e até uma tirolesa que levou Paul Stanley para o meio da plateia, transformaram o show em um evento no qual não era necessário ser fã da banda para aproveitar a apresentação.

Todavia, em meio à megalomania da estrutura, pequenas exibições individuais aconteciam a todo momento. Solos de guitarra e de bateria que se estendiam vários minutos, gestos que animavam o público ainda mais durante as músicas, instrumentos tão extravagantes quanto as roupas e maquiagens. Todos os membros da banda tiveram seu momento de brilhar.

Considerando tudo isso, Gene Simmons foi um evento por si só. Os movimentos performados pelo baixista eram calculados, mas feitos com naturalidade. A cereja do bolo foi uma ação clássica de Simmons: em meio a um solo de baixo, o gigante de armadura começa a cuspir uma verdadeira enxurrada de sangue, transcendendo qualquer resquício de realidade que existia ali, como se transformasse em algo que ia além do que é possível para um ser humano.

Obviamente, era tudo fictício, mas a naturalidade e convicção dos veteranos do rock em tudo o que se propunham a fazer tornavam a performance algo crível, mesmo que insano. 

Imortais como deuses

Depois de ver tudo o que foi relatado nesse texto, é até um pouco difícil pensar que o Kiss é composto por humanos, como nós. Logo, por mais que suas personas sejam como seres de outro mundo, no final das contas existem pessoas por baixo de toda aquela produção.

Consequentemente, o tempo também se aplica a eles, e tudo tem um fim. Dessa vez, a carreira da banda, por mais gloriosa que tenha sido, foi uma vítima dos anos, como todo ser humano.

Contudo, a aura do Kiss permanece. O impacto cultural do grupo atravessa gerações, estabelecendo a banda como um marco na história da música como um todo, e isso, simplesmente, não se apaga. 

Portanto, o tempo das pessoas por trás do espetáculo pode acabar, mas o legado é colossal, e isso é irrefutável. Assim, como verdadeiros deuses do rock, Kiss se despede dos palcos, e ascende de vez ao Olimpo como o que são: lendas da música.

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