
João Vargas Penna conversa com o público sobre o livro “Panamericanas BH”
A capa do livro do diretor de cinema e fotógrafo João Vargas Penna
A capa do livro do diretor de cinema e fotógrafo João Vargas Penna
O fotógrafo e diretor de cinema João Vargas Penna conversa com o público nesta quarta-feira, dia 10 de julho, no Cine Santa Tereza
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Nesta quarta-feira, dia 10 de julho, o fotógrafo e diretor de cinema João Vargas Penna conversa com o público sobre o recente livro “Panamericanas BH”, que reúne 31 fotos panorâmicas de Belo Horizonte, feitas por ele. São cliques de lugares como o Palacete do Bispo e o Viaduto Santa Teresa, bem como os ladrilhos da Escala Estadual Bueno Brandão. O evento acontece na Sala Multimeios do Cine Santa Tereza, e vai contar, ainda, com a presença do professor e fotógrafo Eugênio Sávio, coordenador editorial do livro. Na ocasião, a versão digital do livro será lançada no site de Vargas.
Como o material de apresentação da obra lembra, “Panamericanas BH” decorre de um processo que teve início quando Vargas Penna ainda morava no Rio de Janeiro. Lá, começou a fazer fotos panorâmicas de pontos do bairro carioca de Santa Tereza. De volta a Belo Horizonte, onde mora atualmente, retomou os registros neste formato. Para falar sobre a obra, o Culturadoria conversou com João Vargas Penna. Confira, os trechos, em tópicos
Perguntado sobre a sensação que teve ao voltar do Rio e redescobrir as paisagens de sua cidade natal, João Vargas Penna conta que foi uma experiência no mínimo interessante, ainda que, de certa forma, a Belo Horizonte para a qual voltou não é a mesma cidade da qual saiu. “Ao mesmo tempo, eu também não sou a mesma pessoa que daqui saiu. Então, tem um aspecto de novidade em relação à cidade e, também, de paisagens muito conhecidas”, pontua.
Aliás, João lembra que as fotos que estão no livro trabalham, de certa forma, esta fricção entre memória e desconhecido. “Essas fotos refletem a minha volta para essas paisagens, percursos, lugares conhecidos, pelos quais fui passeando, (re)vendo. Porque essas fotos são resultado de deslocamentos. Ou seja, não são fotos fechadas. Não é uma coisa, assim, clique e pronto”, situa. Desse modo, uma foto, por exemplo, do Palacete Dantas envolveu andar ao longo da edificação inteira. O clique tem um antes e um depois, é uma sucessão de momentos, é um intervalo de tempo”.
Portanto, a distorção das fotos simboliza a familiaridade e estranheza que se combinam em função da partida e chegada. “E também uma imersão nesses locais, porque são fotos feitas com repetições. Ali, vejo o que eu quero fotografar, planejo o movimento que vou fazer para tal… Porque a máquina não me obedece sempre. Então, tenho que pensar um pouco no tipo de movimento que vou fazer. Digamos, uma ‘dança’ que vou fazer ao longo daquele lugar”, explana João Vargas Penna (foto abaixo/Arquivo Pessoal).
Já quando indagado se algum dos lugares aos quais retornou, em BH, para fotografar (já nesta chave das fotos panorâmicas), tornou-se, digamos assim, o seu xodó, ele prefere falar em sensações. “Essa relação com o local acaba ficando muito intermediada pela experiência que vivenciei ao fazer as fotos. Então, não é necessariamente um ‘lugar’, mas a sensação de ter conseguido fazer uma foto que reflete o que vi neles. Ou, ao contrário, o que não consegui”. João Vargas prossegue: “Essas fotos envolvem, muitas vezes, muitas repetições. Ou seja, tenho que dançar conforme a necessidade”.
Tal qual, “brincar” um pouco com os algoritmos do aplicativo das panorâmicas. “De todo modo, em relação à sua pergunta, quanto a lugares que me tocaram, o próprio Museu da Pampulha, eu achei que foi uma coisa bem interessante. Porque ele, nas fotos – e diria isso também da Casa do Baile – ficou grande, extenso. Na verdade, do tamanho que acho que a arte devia ocupar nas nossas vidas. Ou seja, muito maior do que a gente vê, lá, no chamado ‘real’. Mas reflete os meus desejos em relação à arte – e a minha saudade de voltar a caminhar por ali”.
Um detalhe importante: grande parte do trabalho de João Vargas Penna para o livro foi realizado durante a pandemia. “Ou seja, ali, pude andar pela cidade com quase ninguém nas ruas. De certa forma, isso facilitou no início, porque, para citar um exemplo, pude fazer fotos quase andando na pista de asfalto do viaduto de Santa Teresa”.
Ao contrário, já com a flexibilização do isolamento, João Vargas diz que foi bem mais difícil clicar pontos como o Palacete Dantas (localizado no final da avenida Cristóvão Colombo, quase com Praça da Liberdade). “Ali, foi bem difícil. Porque o trânsito ficava a mil, lá pelas 5 da tarde, que era a hora que ainda tinha sol e a luz estava bonita. A mesma coisa aconteceu em relação à foto que fiz do Banco do Brasil e do CCBB BBH, bem como do Edifício Niemeyer. Porque também envolvia uma hora em que era muito difícil conseguir fazer fotos interessantes. Desse modo, tinha que me deslocar pela pista central. Então, foi uma coisa muito feita às pressas, enquanto o sinal estava fechado, tentar andar por ali… Envolveu uma certa aventura”, descreve.
Um aspecto curioso que João Vargas Penna notou, neste processo de reconhecer a cidade, foi o número considerável de concertinas. “A cidade está praticamente toda ocupada por elas. Todos os lugares que a gente vai, há muros altos e cercados. Isso, naturalmente, é um reflexo da criminalidade etc. E em uma foto dessas aí, das concertinas, as espirais ficam parecendo um desenhozinho de coração. O que eu achei que, de um lado, é interessante. No entanto, do outro, uma contradição enorme em relação à coisa agressiva que representam. Elas, ali, são cortantes. Se constituem em uma coisa violenta e uma resposta, digamos, violenta à violência dos nossos dias”.
Uma outra foto que ele comenta é a foto dos ladrilhos da calçada da Escola Estadual Bueno Brandão, por refletir a dinâmica da cidade. “Eu me lembro, dos tempos de menino, do Bueno Brandão com um outro formato. Não aquele grupo de tijolinhos que a gente vê lá, agora. Era todo feito de ferro, de aço. Veio desmontado da Bélgica, mas não sei onde essa construção antiga foi parar”.
No entanto, a calçada com os antigos ladrilhos foi preservada. “Acabei fazendo uma série. Tem os ladrilhos, tem a sombra das grades do Bueno Brandão, e, à esquerda, a gente vê a terra, nos pontos em que os ladrilhos já não mais estão”. João lembra que o crítico de arte Fernando Cocchiarale mencionou, ao ver o clique: “Essa foto diz tudo da cidade, porque a gente vê a dinâmica da transformação”. Ou seja, o que havia sido antes, terra, a possibilidade que iria haver mudanças pelo fato da falha dos ladrilhos, as grades que estão ali”.
E o que aconteceu tem a ver um pouco com essa mudança toda. Ou seja, os ladrilhos não estão mais lá, a calçada foi substituída por uma de pedras portuguesas. “Ou seja, como é a dinâmica da cidade? Ela parece que é a mesma, mas as coisas estão sempre mudando, mesmo as que dizem que são protegidas pelo patrimônio histórico. Assim, não sei onde foi parar o aço do antigo Bueno Brandão. Na verdade, não estudei por lá, e, sim, no Instituto de Educação. Mas era uma referência. A gente passava e admirava a construção, assim como os postes antigos, que, acho, agora só restou um na cidade. As coisas vão mudando”.
“Panamericanas BH”, de João Vargas Penna
Com participação do fotógrafo Eugênio Sávio
Quando. Quarta, 10 de julho, 19 horas.
Onde. Cine Santa Tereza (R. Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza)
Quanto. Entrada gratuita. Preço do livro: R$ 48.
Site: www.joaovargaspenna.com/pamamericanasbh.
Esse projeto foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.
Publicado por Carol Braga
Publicado em 05/07/24