
Foto: Warner Bros / Distribuição
É muito mais fácil escrever sobre um filme quando você gosta do que o contrário. Quando a coisa não bate, o exercício de pensar o que pode ter acontecido para a coisa não fluir, dá mais trabalho e nem sempre é possível explicar. É exatamente o que sinto depois de ver Hebe – a estrela do Brasil.
Não há dúvidas que o filme é bem feito. O longa dirigido por Maurício Farias alcança a qualidade técnica esperada, mas, mesmo assim, saí da sessão com a sensação de vazio. E nem acho que seja problema de expectativa alta. Enfim, a seguir comentarei sobre alguns pontos em busca de uma explicação para o que senti (ou melhor, não senti) depois de ver Hebe – A estrela do Brasil. Destacarei, primeiro, os pontos positivos para, na sequência, comentar aquilo que, na minha opinião, deixou a desejar.
Pontos Positivos
A primeira cena de Hebe – A estrela do Brasil não se passa no famoso sofá da apresentadora, em uma emissora de televisão e nem na casa dela. O cenário é uma repartição pública onde Walter Clark (Danilo Grangheia), executivo da TV Bandeirantes, conversa com Joesley Castro (Fernando Eiras), oficial da censura. O primeiro se justifica com o segundo pelo fato da apresentadora defender, especificamente naquele momento, a causa homossexual.
Em seguida, quando corta para o estúdio onde ela estava prestes a entrar ao vivo, a câmera invade o camarim. A personagem aparece, então, de costas. A lente se aproxima, capta os trejeitos, o cabelo marcante. As cores da fotografia chamam atenção. O silêncio contribui para a tensão da cena, mas logo dissipa. Aliás, isso ocorre o tempo todo. A trama parece que vai ganhar corpo, e logo recua.
Ou seja, o filme dirigido por Maurício Farias, começa com um tom assumidamente político. Essa característica perpassa o roteiro, mas não se aprofunda. Morde e assopra. Ao mesmo tempo em que mostra como Hebe era defensora das causas que lhe interessava, superficializa a discussão em torno dos temas polêmicos.
A direção de arte faz uma grande homenagem aos exageros que marcaram os anos 1980. Tanto no que diz respeito aos figurinos – alguns da própria Hebe – como também os ambientes.
Andrea Beltrão
Em geral, nas cinebiografias os atores escolhidos para protagonistas passam por grandes transformações. Andrea Beltrão é uma excelente atriz, sem dúvida. Sua Hebe tem personalidade, é preciso reconhecer. Porém, neste caso, a cada cena, eu via mais Andrea e menos Hebe. Não consegui encontrar a apresentadora, por mais que buscasse.
A escolha do roteiro assinado por Carolina Kotscho (Dois filhos de Francisco) é o recorte dos anos 1980, quando Hebe troca a TV Bandeirantes pelo SBT. O contexto político da época era o do início da redemocratização, portanto, o anunciado fim da censura. Sendo assim, ficam até repetitivos os embates em torno disso.
Em contrapartida, o que Hebe sentia de verdade, as inseguranças, uma parte mais emocional mesmo, perde espaço. Talvez essa seja as cenas extras que ficaram para a série a ser lançada. O mais interessante do filme é são os contrastes que rondaram a vida dela.
Alerta de Spoiler
Por exemplo, Hebe era uma mulher que vivia um relacionamento abusivo com o marido Lélio (Marco Ricca). Quem passa ou passou coisa parecida, sabe o quanto é difícil lidar com situações que envolvem ciúme e violência contra a mulher. A maior revelação do filme, para mim, foi essa. Detalhe: aparece nos quinze minutos finais. O resto, foi uma repetição clichê de tudo o que a gente já viu a própria Hebe fazer.