O projeto mineiro ‘A professora francês’, do diretor Ricardo Alves Jr. e produção de Thiago Macêdo Correia, da ‘EntreFilmes’ foi o grande vencedor do 9º Brasil CineMundi – 9th International Coproduction Meeting. O evento, realizado como parte importante das atividades da Mostra CineBH é o “braço” voltado para o fomento à produção audiovisual. Durante os seis dias de evento foram realizadas 234 rodadas de negócios. Vinte 20 produtores brasileiros apresentaram suas ideias aos 23 convidados de 12 países.
“É preciso parar de pensar só em mercado. Nesse sentido, o cinema fala muito mais que o número de público. Ancine, existimos e aqui estamos nós: fazendo o cinema acontecer”, afirmou Ricardo ao receber o prêmio. Ele fez uma crítica sobre as recentes mudanças anunciadas pela Agência Nacional do Cinema, a Ancine. Em resumo, ‘A Professora de Francês’ fala sobre uma onda conservadora que ataca o país. Um momento que, segundo o diretor, é preciso ter fim.
Para o cineasta Mauro D’Addio, diretor do longa ‘Sobre Rodas’ fazer cinema no Brasil é sempre difícil e vê na mostra um espaço fundamental para o fomento do setor. “Esses espaços de formação de público são fundamentais para valorizar a cultura. Estamos em um momento de intolerância e de uma visão de mundo que quer excluir a cultura. Dessa maneira, mostras como a CineBH é importante para a formação de público. Fico feliz em estar aqui e fazer parte disso”. O filme do diretor paulista chega aos cinemas em março de 2019, mas já rodou o Brasil graças a mostras por aí.
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Origem
À frente de duas grandes mostras de cinema em Minas Gerais – Mostra de Tiradentes e CineOP – Raquel Hallak, em 2007, sentiu que ainda faltava algo. Era preciso fazer uma mostra para discutir o lugar dos filmes. “Percebemos que as produções que eram exibidos nas outras mostras não chegavam no circuito comercial. Diante dessa demanda, pensamos que era importante ter um evento na capital mineira como um espaço garantido de exibições e diálogo de mercado”, explica.
Dessa forma, foi criada a CineBH. Em 12 anos de existência, o evento passou por transformações, e, hoje, se apresenta como espaço que constrói pontes audiovisuais e amplia o diálogo entre o cinema e as outras artes. Seja como for, em seis dias a mostra pôde fomentar o setor audiovisual em Belo Horizonte. Profissionais e estudantes foram capacitados. Desse modo, doze mil pessoas foram alcançadas com as atividades.
Neste ano o evento foi norteado pela temática “Pontes Latino-Americanas”. Com isso, se dispôs a entender o cinema latino-americano. Também foram questionadas quais transformações este cinema é capaz de propor, em uma era tão globalizada como a que vivemos. Indagar, questionar, entender e fomentar é algo valioso que o evento deixa para quem produz cinema no país.
Cinema para todos
Além de fomentar e discutir o setor, a CineBH exibiu 75 filmes divididos em 44 sessões em seis espaços da capital mineira. Dessa maneira, foram 27 longas, três médias e 45 curtas de 13 estados brasileiros e, por fim, 13 países. Oportunidade para gente como o autônomo Roberto Sales, de 56 anos, que foi ao cinema pela primeira vez. “Estou emocionado. Nunca pude ir ao cinema e hoje ele está aqui na praça, bem ao lado da minha casa”, explica.
A professora Kátia Correia também aproveitou a oportunidade. Chamou as amigas e foi com os filhos para praça Duque de Caxias. Por lá foi montado um cinema a céu aberto. No telão foram exibidos clássicos do cinema, como por exemplo, ‘Corra que a Polícia Vem Aí’. A volta do cinema a céu aberto na praça tradicional no bairro Santa Tereza foi a grande novidade desta edição. A estrutura é marca registrada da produtora e facilita o acesso a diversas pessoas. Além disso, ocupa a cidade que é de todos.
“A mostra nasceu aqui em Santa Tereza. Alguns anos o cinema a céu aberto ocupou outros espaços e neste retorno para cá. Uma oportunidade de levar a cultura até a comunidade e em locais que já foram grandes cinemas. Por fim, mostrar que é possível que o cinema aconteça em vários lugares. Fico muito feliz quando a gente consegue estar próximo do público e ver pessoas reunidas em prol do cinema”, conta Raquel.
Cinema em constantes transformações
A mostra nesta edição ainda mostrou diálogo com outras artes. Foi bonito e rico ver o encontro de Marcelo Veronez, Thiago Delegado e Barulhista. Artistas da cena local que se apresentaram juntos no evento. Ainda teve apresentação da ‘Orquesta Atípica de Lhamas’, circo com a ‘Turma do sufoco’ e intervenções do coletivo ‘Toda Deseo’.
“Fazer mostras é um processo dinâmico e sempre um desafio. O cinema passa por constantes transformações. É preciso estar atento no que acontece com o audiovisual. O financiamento é a parte mais complexa. A Universo soma 55 mostras e todas elas começamos sem dinheiro, com dificuldade, mas sempre elas acontecem”, afirma Raquel. A próxima Mostra de Cinema de Tiradentes está confirmada para janeiro de 2019. Assim, os filmes interessados em participar já podem se inscrever a partir do dia 25 de setembro.
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