
Cena do filme "O bandido da luz vermelha". Foto: Distribuidora de Filmes Urânio Ltda
Já contamos aqui sobre a história do Cinema Novo e indicamos filmes para conhecer o movimento cinematográfico. Em resumo, ele surgiu a partir do descontentamento de um grupo de cineastas com questões sociais e políticas e existiu entre 1963 a 1970. Além disso, teve fortes influências do Neorrealismo Italiano, da Nouvelle Vague Francesa e tinha o objetivo de ir contra a grande indústria e suas narrativas. Entretanto, com a instauração do AI-5, em 1968, a censura à mídia e à cultura no país foi radicalizada e uma nova geração de cineastas também respondeu à situação. Sendo assim, nasceu o Cinema Marginal, ou udigrudi, ironizando o termo underground.
O udigrudi se espalhou pelo país entre 1968 e 1973 e estabeleceu uma relação de confronto com o Cinema Novo, mesmo se aproximando em alguns aspectos. Os realizadores do Cinema Novo se preocupavam com questões culturais e tinham como norte a estética da fome. Por outro lado, os marginais desenvolviam narrativas mais grotescas, pobres, retratando a violência e abusos contra a população marginalizada no Brasil. As principais produtoras do udigrudi foram a Boca do Lixo, em São Paulo, e a Belair Filmes, no Rio de Janeiro. Entre os nomes mais célebres, Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e Andrea Tonacci.
Dessa forma, pensando na importância do movimento para o cinema brasileiro, selecionamos cinco filmes para você se aprofundar na temática. Confira!
A margem, de Ozualdo Candeias
Lançado em 1967, o filme é o precursor do udigrudi. Acompanha quatro personagens que vivem às margens do Rio Tietê. Um louco aflito que procura uma rosa, uma jovem que, para sobreviver, precisa se prostituir, uma outra prostituta que perambula vestida a noite e um homem vestindo paletó. É um filme ambíguo, que reflete de forma simbólica a exclusão e desigualdade social. A margem ganhou melhor filme pelo júri do Instituto Nacional do Cinema, além de melhor direção e melhor atriz coadjuvante para Valéria Vidal.
O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla
Lançado em 1968 é considerado o primeiro filme do cinema marginal brasileiro. Inspirada na história do criminoso João Acácio Pereira da Costa, a narrativa acompanha Jorge (Paulo Vilaça), um criminoso misterioso, que assalta residências de luxo em São Paulo. Ele recebeu o apelido de bandido da luz vermelha por sempre usar uma lanterna vermelha nos crimes. Além disso, intriga pelas técnicas pouco comuns de assalto, como manter longas conversas com as vítimas, por exemplo. Um diferencial do filme em relação às produções anteriores era a estratégia de dialogar diretamente com o público. Só para exemplificar, um recursos foi usar narrações em estilo radiofônico, formato que a grande massa estava acostumada. Além disso, teve boa recepção e ganhou dezenas de prêmios, incluindo o Festival de Brasília e o Roquette Pinto.
Jardim de Guerra, de Neville d’Almeida
Primeiro longa do diretor mineiro é inspirado no livro Kaos, de Jorge Mautner, e mostra a história de um jovem (Joel Barcelos) que se apaixona por uma cineasta e também decide ser um. Enquanto procura por financiamento, o jovem é acusado injustamente de terrorismo por uma organização de direita e acaba preso e torturado. O longa foi o filme mais censurado da história do cinema brasileiro durante a ditadura militar, somando, ao todo, 48 cortes. Algumas das cenas incluíam fotografias em referência à Guerra do Vietnã, ao movimento feminista chinês, foto de Che Guevara e até um discurso de Antônio Pitanga em defesa do povo negro.
O anjo nasceu, de Júlio Bressane
Primeiro filme de Bressane no udigrudi marca a ruptura do diretor com o Cinema Novo. Acompanha Santamaria (Hugo Carvana) e Urtiga (Milton Gonçalves), dois assassinos cruéis. Um dia, Santamaria vê um anjo e, dessa forma, passa a acreditar piamente que quanto mais crimes cometer, mais rápido chegará a salvação. O filme também foi amplamente censurado. Após o lançamento do longa, Bressane e Rogério Sganzerla começaram uma relação de admiração e troca, o que resultou na criação da Belair Filmes em 1970. Ela durou de fevereiro a maio, produziu sete filmes e fechou devido a perseguição da ditadura.
Bang bang, de Andrea Tonacci
Narra a história de um homem que tem neurastenia e que, ao longo da produção de um filme, acaba envolvido em várias situações. Entre elas perseguições, discussões com um motorista de táxi, um romance com uma bailarina e até enfrentar um trio de bandidos. O longa foi rodado em Belo Horizonte no início dos anos 1970 e satiriza filmes policiais.

Cena do filme “O anjo nasceu”. Foto: Júlio Bressane Produções Cinematográficas