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Cinema

Os pontos altos do discurso de Antônio e Camila Pitanga em Tiradentes

As falas dos atores homenageados da 23ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes foi o ponto alto da noite de abertura da maratona que segue até o dia 01 de fevereiro

Antônio e Camila Pitanga recebem o Troféu Barroco na Mostra de Cinema de Tiradentes. Foto: Netun Lima/Divulgação

Tiradentes – A emoção sempre fez parte das aberturas da Mostra de Cinema de Tiradentes. Então, qual foi o diferencial da cerimônia realizada na noite do dia 24 de janeiro que entregou aos atores Antônio e Camila Pitanga o Troféu Barroco? O discurso. Ou melhor, as equilibradas e contundentes palavras ditas por pai e filha. Consonância total com o que propõe a Mostra este ano.

A Mostra de Cinema de Tiradentes exibe até o dia 01 de fevereiro, 113 filmes, divididos em 53 sessões de cinema. Em meio às trevas na cultura do Brasil, é preciso afirmar e reafirmar o quanto é algo vital para o ser humano. Mais que isso, arte faz parte do cotidiano de qualquer pessoa. “Não existe um casamento sem música, uma escola sem livro”, como pontuou Raquel Hallak, coordenadora geral do evento.

Foi o que Camila aprendeu com o pai. Ele, claro, mostrou-se visivelmente orgulhoso disso. Sem combinar, um complementou a fala do outro. Talvez porque o tom dos discursos seja o que há de mais urgente no coração de quem vive de arte, assim como eles e boa parte da plateia que lotou o Cine-Tenda. 

Escolhas

Foi a mulher, Benedita da Silva quem entregou o troféu a Antônio. Ela também ressaltou a importância da cultura e, claro, fez declarações ao maridão. Camila recebeu o prêmio da mão das filhas. Ela foi a primeira a falar. Até chegou a escrever algo, mas papelzinho que estava na mão continuou fechado. Preferiu deixar fluir. 

Para a atriz, além de festejar a vida e a arte, a homenagem na Mostra de Cinema de Tiradentes, de certa forma, é também um momento de celebrar as escolhas. “Meu pai, esse homem enorme, me nutriu de muitos olhares sobre a vida. Eu falo no plural porque meu pai me fez entender que a gente não pode ficar olhando o mundo só pelo nosso umbigo. a gente tem que olhar pelo outro e pela outra. Pensar em uma dimensão mais coletiva a nossa existência”.

E Camila continuou: “a cultura e a arte tem essa vocação de ampliar os olhares, de estranhar, de cultivar novas perspectivas”.

 

Camila Pitanga na Mostra de Cinema de Tiradentes. Foto: Netun Lima/Divulgação

Sonhos 

Para a atriz, em tempos de Brasil rachado, há quase uma convocação para estamos todos atentos e fortes, como diz a música de Caetano Veloso. Segundo ela, é também um chamado para o sonho. “A gente não pode deixar de sonhar, de criar dentro da nossa esfera, utopias para não perder a nossa espontaneidade. Não nos calarmos para o que nós acreditamos”.

Segundo ela, atualmente temos a urgência de nos cuidar. “Olhar para o outro. Precisamos ser resitência, mas resistência não é de hoje. Temos que nos mirar nos povos originários, na nossa ancestralidade preta que resiste há séculos. Isso já é gerúndio há muito tempo”.

“Me belisca”

Mesmo sendo um troféu bem pesado, Antônio Pitanga fez questão de segurar. “Os olhares do mundo estão voltados para Tiradentes. Porque Tiradentes é o pilar, é farol da cultura brasileira para o mundo. Estamos vivendo momentos difíceis, mas Tiradentes está dizendo como sempre disse: presente!”.

O ator falou durante cerca de 15 minutos com um entusiasmo contagiante. A homenagem, para ele, gera um rasgo de alegria e felicidade. “De deitar dentro de mim e dizer: belisca-me, você está sendo homenageado em Tiradentes”. Antônio Pitanga começou com uma referência aos patrocinadores, segundo ele, os guardiões da cultura. “Geramos empregos diretos e indiretos. Mais de 24 bilhões do PIB tendo o cinema, tendo a cultura do teatro, do cinema, das artes plásticas, da poesia, da dança, das artes!”.

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Ancestralidade

“Eu vim do nada, mas no nada havia cultura, como dizia Paulo Freire. Ninguém leva poesia para lugar nenhum. Você vai e ouve, você vai e troca, você aprende. E eu aprendi”, disse. Para Pitanga, o cinema – e a cultura de uma maneira geral – é uma ferramenta socializadora. “Em todas as gerações. Em todas as civilizações. Não por acaso que na Grécia Antiga onde nasce a democracia é na cultura. E o nosso país não quer ver”, lamentou.

Foi a partir da cultura que ele diz ter se tornado ser Antônio Pitanga Luiz Sampaio, vindo de uma família muito pobre. “Me deu cidadania. Me deu conhecimento. E a partir desse momento que vocês me homenageiam, vocês estão homenageando todos esses movimentos que aconteceram desde o CPC, Cinema Novo, Joaquim Pedro, Glauber Rocha, Roberto Pires, Cacá Diegues, Walter Lima Junior, Roberto Santos…tantos diretores. e quando sentiam que tinham asas faziam os seus filmes”. 

Os cineastas citados, segundo o ator, “tiveram a ousadia de mergulhos no conhecimento através das telas. Tiveram a ousadia de inaugurar a cultura genuinamente brasileira.” 

80 anos

Antônio Pitanga tem 80 anos e exibe uma vitalidade impressionante. Ele reconhece. “E vivi bem! Mergulhado, enfrentando a ditadura. Saindo desse Brasil para ir para uma África, em 16 de abril de 1964, não para ir para a Europa. Eu não me contentava porque eu queria saber de que África eu tinha vindo”, contou. Percorreu diversos países ao longo de dois anos. “Quero agradecer essa oportunidade de poder falar, de poder dizer para vocês que a cultura está de pé por vocês, pela presença de vocês. Então, essa mostra terá vida longa”, finalizou, aplaudido de pé! 

Logo após a cerimônia de abertura foi exibido Os Escravos de Jó. Foi a primeira projeção do longa dirigido por Rosemberg Cariry e rodado em Ouro Preto. Antônio Pitanga faz parte do elenco. 

A equipe Culturadoria viaja a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

 

Antônio e Camila Pitanga recebem o Troféu Barroco na Mostra de Cinema de Tiradentes. Foto: Jackson Romanelli/Divulgação

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