O poema “Cromo” foi escrito por Affonso Ávila meses antes da morte do poeta e, agora, ganha formato de livro-sanfona
Equipe Culturadoria
Falecido em 2012, Affonso Ávila foi uma voz poética singular, bem como um dos principais escritores da sua geração. Não por outro motivo, o poeta mineiro segue sendo homenageado. Recentemente, por exemplo, Eleonora Santa Rosa lançou o documentário “Cristina 1300: Affonso Ávila, homem ao termo”. Agora, a editora SQN Biblioteca lança “Cromo”, último poema de Ávila (escrito alguns meses antes da sua morte). “Cromo” perpassa questões do registro e do desgaste, da escrita cuneiforme dos sumérios às mídias digitais. E também do efeito do tempo no corpo que, submetido a procedimentos médicos, acusa a proximidade da morte.
Miguel de Ávila Duarte, ou Miguel Javaral, neto do poeta e um dos editores da SQN Biblioteca, lembra que “morte, aqui, não significa desaparecimento”. “O poeta se vai, nos deixa, porém, seus traços. Caso desse poema tão profundamente pessoal no qual, em uma dessas antíteses barrocas que caracterizam a sua poesia, em nenhum momento aparece a palavra ‘eu’. Mas que me faz lembrar a cada momento do meu avó, da alegria quase juvenil com que às vezes me mostrava, já perto do fim da vida, um poema recém-escrito”, destaca.
Projeto gráfico
O poema “Cromo” foi entregue por Affonso à sua filha, Myriam Ávila, em 2012, ano de sua morte. Segundo Myriam, várias vezes, já no leito do hospital, Affonso pedia que ela lesse para ele o poema em voz alta. Doze anos depois, a publicação de “Cromo” é uma homenagem à obra do poeta.
Com projeto gráfico do editor e designer de linguagem Preto Matheus, o livro-sanfona remete ao tempo e seus desdobramentos, um dos temas da obra de Ávila. A obra tem produção artesanal, em serigrafia, de capa a capa. O título, ‘sem cor e relevo’, como o poema pede, contrasta com o amarelo opaco da capa — referência ao “acetinado amarillo” do verso do poeta espanhol Rafael Albert — de maneira a produzir um efeito cromado”, explica Preto Matheus.