Cinema
Longa da Netflix protagonizado por Vanessa Kirby tem plano sequência de 24 minutos de uma cena de parto. A atriz é cotada para indicações na temporada de prêmios.
Pieces of a Woman está disponível na Netflix. Foto: Netflix/Divulgação
Há uma teatralidade em Pieces of a Woman que me interessa muito. Nem sei se é teatralidade que chama, mas o vigor do plano sequência de abertura me jogou para dentro daquela casa. Tudo aquilo me fez lembrar do ritual em torno do palco. Que saudade de tudo isso.
Mas, para além dessa sensação – bastante pessoal, eu sei – a abertura do filme dirigido por Kornél Mundruczó é de tirar o fôlego. Martha (Vanessa Kirby) entra em trabalho de parto em casa. A parteira que a atenderia está ocupada. Eva (Molly Parker) chega para atendê-la. O marido Sean (Shia LaBeouf) não sabe muito bem o que fazer. Enfim, os três protagonizam uma belíssima cena em tempo real com final trágico.
O crédito com o nome do filme só aparece depois. Se fosse um curta-metragem, estaria muito bem resolvido. Mas trata-se de um longa-metragem. Aí, na verdade, eu tive a sensação de começar um outro filme. Se o primeiro era sobre expectativa, inexperiência, o segundo é sobre o luto e o tempo de cada um.
Sim, Martha tem uma maneira e um tempo próprio para digerir as coisas. Sendo assim, é completamente diferente de Sean e de Elizabeth (Ellen Burstyn) a mãe controladora. Aliás, a nossa vida é assim mas nos forçamos a entrar nos padrões. A diferença como cada um elabora o próprio luto gera atrito. Sendo assim, também acho que Pieces of a Woman também fala sobre respeitar o tempo do outro.
Guardadas as devidas diferenças e licenças poéticas, Pieces of a Woman narra uma experiência que o casal formado pelo diretor Kornél e a mulher, a roteirista Kata Wéber atravessaram. Eles também perderam um filho. Antes de fazer o filme, no entanto, eles fizeram uma peça de teatro. Talvez por isso tenha despertado em mim lembrança tão forte.
O procedimento para realização da tal cena também lembra os processos de criação para o palco. Foram dois dias de gravação e seis planos sequências. O quarto take que foi para o filme, na íntegra, apenas com alguns momentos de CGI (efeitos especiais). Se você já viu o longa, vale rever com um olhar mais apurado dedicado à movimentação da câmera. Parece uma coreografia mas diz que foi tudo no improviso mesmo.
Outro aspecto que me conquistou foi a atuação de Vanessa Kirby. Tinha a lembrança dela como a princesa Margaret em The Crown. Já gostei da atuação naquela ocasião, mas em Pieces of a Woman o registro é totalmente outro. Tive a impressão de que ela buscou todo o repertório de interpretação que teve na carreira, somou com a pesquisa de situações que ainda não enfrentou na vida (ela nunca teve filho) e entrega uma atuação digna de Oscar.
É uma pena que o companheiro de cena dela, o ator Shia LaBeouf tenha se envolvido em polêmicas. Hollywood tem sido impiedosa com casos de abuso sexual e outros tipos de crime. Tem que ser assim mesmo. Por isso, nos resta lamentar que o comportamento dele prejudique a performance do longa na temporada de prêmios. Tomara que ele seja investigado e pague pelo que fez. Sobre o filme, o tempo cuidará de fazer justiça.
Publicado por Carol Braga
Publicado em 19/01/21
