
A "bilheteria" do Miniteatro de Óperas de Carlos Villar (Foto: Patrícia Cassese)
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Quem frequenta a Funarte MG para conferir montagens teatrais, festivais e outros eventos certamente já teve a atenção cooptada por um acervo tão rico quanto encantador. Trata-se da exposição permanente do Miniteatro de Óperas de Carlos Villar, composta por mais de 700 objetos, entre cenários, bonecos, mobiliário e objetos cênicos. Não só: além da caixa cênica, também uma maquete que reproduz o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Simplesmente adorável, encantador.
A história por trás do acervo é das mais interessantes. As peças foram confeccionadas ao longo de 15 anos pelo ex-tenor Carlos José Villar, já falecido. Isso, nos anos 1960. O Miniteatro reproduz cenários de oito óperas: “Tosca”, de Puccini; “Aída”, “O Trovador”, “Rigoletto” e “La Traviata”, de Verdi; “Fausto”, de Gounod; “Carmen”, de Bizet; e “Mefistofele”, de Arrigo Boïto. Mais tarde, a equipe localizou bonecos, cenários e fotografias históricas da Ópera Madame Butterfly .
De acordo com a Funarte MG, em seu apartamento, no Centro do Rio, o cantor lírico reunia convidados e, junto a um amigo, apresentava espetáculos com música tocada na vitrola e manipulação dos personagens e cenários.
Descoberta
Já na década de 1980, a família de Villar doou a coleção ao projeto Memória das Artes Cênicas da Funarte RJ. Na verdade, por meio de informações orais, após a entrega, o material foi acondicionado, ficou por um período no acervo e, posteriormente, foi encaminhado à Funarte MG. Algum tempo depois, um funcionário, instigado quando o conteúdo, abriu as caixas e se deparou com o singular acervo, que, no entanto, precisava passar por um processo de restauração.

Resgate
Como sinalizam informações disponibilizadas no próprio site oficial da Fundação Nacional de Artes, o projeto que culminou na abertura da exposição ao público do Miniteatro de Óperas de Carlos Villar foi viabilizado por meio de Termo de Execução Descentralizado, firmado entre a Funarte MG e a Universidade Federal de Minas Gerais. As peças, prossegue o material, foram restauradas entre 2020 e 2021. A equipe teve coordenação de Maria Tereza Dantas Moura. Ela assina a curadoria da exposição junto à professora Rita Lages Rodrigues. Já a equipe de pesquisa foi coordenada pela mesma Rita e composta por uma conservadora-restauradora, museólogo, arquiteto, designer, profissional de teatro de boneco e técnico de iluminação.

A história
Em conversa com o Culturadoria (frise-se: realizada no ano passado), Rita Lages comentou que a equipe que trabalhou na restauração das peças aqui, em BH, logo no início solicitou, ao Centro de Documentação e Pesquisa da Funarte RJ, todos os documentos possíveis referentes ao acervo. Na ocasião do bate-papo com o Culturadoria (como dito, em 2024), Rita ressaltou o quanto o corpo de funcionários da Funarte MG se mostrou entusiasmado desde o momento da descoberta do acervo de Villar.

Processo de restauro
Em 2020, com a pandemia da Covid-19, e as consequentes medidas de isolamento. Com a interrupção das atividades da Funarte, veio a ideia de aproveitar o período para dar início ao trabalho de restauração das peças. Assim, entrou em cena a já citada equipe coordenada por Maria Tereza Dantas Moura, inicialmente de forma independente (depois, como já frisado, a UFMG entrou em campo). Em 2021, já com o acervo finalmente restaurado, veio a discussão quanto a forma que ele poderia ser, então, exibido.
Além de Maria Tereza e Rita Lages, uma equipe começou a pensar, por exemplo, eventuais núcleos narrativos para organizar as peças. A previsão era que essa etapa consumisse oito meses, no entanto, dado a peculiaridade do acervo, acabou se estendendo um pouco mais. Foi, pois, em abril de 2023 que veio a inauguração da exposição Miniteatro de Óperas de Carlos Villar, que contou com uma apresentação da pesquisa realizada.

A abertura abarcou, ainda, a performance “Fios de Vida”, feita por uma marionete de fios conduzida por Nani Oliveira. A iniciativa recebeu trilha sonora ao vivo por Vinícius Pelizari, com coordenação de Camila Polatscheck. A apresentação incluiu árias de óperas presentes no miniteatro, com coordenação musical de Luciana Monteiro de Castro, da Escola de Música da UFMG.
Feedback
Desde então, o feedback dos visitantes é dos mais animadores. “É impressionante como as pessoas gostam… A gente sente o encantamento, em particular, das crianças”. Entre os chamarizes do acervo, Rita destaca a multiplicidade de materiais utilizados por Villar para a confecção das peças. Vale dizer que nem todas as peças do acervo do tenor estão expostas na Funarte MG, mas a boa notícia é que a parte que está guardada já foi restaurada, e está acondicionada na forma devida.
Objetivos
De acordo com o site oficial da Funarte, a curadoria da exposição busca reforçar o valor artístico e histórico da obra. Para tal, considera questões como o potencial educativo para sensibilização do público para o gênero artístico da ópera e do teatro de bonecos. Em um espectro mais amplo, para o patrimônio cultural e sua preservação. “O acervo constitui material para reflexão sobre as relações culturais na sociedade, incluindo o que se nomeia popular, erudito e massivo”. O artista Carlos Villar, prossegue o texto, ao criar o Miniteatro, levou a ópera para o teatro de bonecos e para o espaço interior de sua casa”.
“E, posteriormente, esse acervo torna-se público, ao ser transferido para a Funarte, um elemento-chave para que a ópera seja relembrada e valorizada em uma relação lúdica com o teatro de bonecos, misturando linguagens e manifestações artísticas. Na plateia e camarotes, os bonecos, com figurinos de época detalhados, representam os espectadores. No fosso da orquestra, se transformam em maestro e músicos, com seus respectivos instrumentos”.

Serviço
Miniteatro de Óperas de Carlos Villar
Onde. Funarte MG (Rua Januária, 68, Centro), de terça a sexta, das 10h às 18h | sábados, das 13h às 19h
Quanto. Acesso gratuito
Quando. Mostra permanente
Para agendamento de visitas em grupos: [email protected]
Mais informações em www.gov.br/funarte