Indicado ao Oscar 2024 na categoria de Melhor Filme, o longa coreano “Vidas Passadas” entra em cartaz no Brasil nesta quinta, dia 25
Patrícia Cassese | Editora Assistente
“Vidas Passadas” estreia nesta quinta-feira nos cinemas de todo o Brasil com o potencial de atrair muitos cinéfilos já nos primeiros dias de exibição. Isso porque, além do burburinho positivo gerado pelas impressões de quem já assistiu ao filme coreano, o anúncio dos indicados ao Oscar 2024, realizado nesta terça-feira, dia 23, tratou de acrescentar mais um chamariz a este caldeirão. É que o filme de Celine Song acabou entrando no mais disputado dos páreos, o de Melhor Filme, junto a grandes produções, como “Oppenheimer” e “Barbie”.
Os momentos iniciais de “Vidas Passadas” mostram a amizade entre uma menina, Na-Young, e o colega de classe dela, Hae Sung. Assim, ambos com 12 anos, os dois têm o costume de sempre fazer o trajeto da escola para casa juntos. Ou seja, são amigos inseparáveis. Um episódio em particular chama a atenção. Desse modo, em determinado dia, a garota chora ante a constatação de que obteve o segundo lugar nas provas, perdendo para Sung. Ao consolá-la, Hae Sung lembra que várias vezes foi ele a ficar em segundo posto, mas que nem por isso se sentiu diminuído.
Pouco depois, o espectador recebe a informação de que a família da menina vai se mudar para o Canadá, com a certeza de que não há mais volta. Para tal, Na-Young ganha inclusive um outro nome, Nora. A mudança, para ela, não é propriamente um problema, visto que, enquanto uma garota que sonha em ser escritora, entende que a América do Norte certamente lhe oferecerá um leque de oportunidades maior.
Despedida
Antes de partir, a mãe de Na, cônscia da amizade da agora Nora com Hae Sung, resolve promover encontro, provavelmente o último da vida dos dois, em um parque de Seul. Neste período da vida dos dois, há também uma cena emblemática, quando, voltando da escola, a câmera de “Vidas Passadas” mostra uma bifurcação no caminho, e cada uma das crianças segue para um lado, gerando, na tela, a imagem de separação real que a mudança de Nora para outro país prenuncia.
Um corte temporal de 12 anos mostra Nora já adulta. Graças ao Facebook, ela localiza Sung, que segue com a vida cotidiana em Seul. Para sua surpresa, ela se dá conta de que ele tentou fazer contato. Os dois, enfim, se reencontram online e até fazem uma chamada de vídeo, para se reconectarem. Um novo avanço de 12 anos em “Vidas Passadas” mostra Nora (Greta Lee), atuando como roteirista em Nova York, e casada com Arthur (John Magaro).
Reencontro
A informação de que Hae Sung (Teo Yoo) irá a Nova York promove uma pequena revolução interna em Nora. Há, ali, um misto de curiosidade e emoção. O reencontro revolve lembranças e descortina, no horizonte dos dois, o mar de possibilidades do que poderiam ter vivido não fosse o corte abrupto, dado pela separação geográfica determinada pelos pais de Nora. Todo este movimento da vida, repleto de não ditos, é acompanhado com complacência e compreensão ímpares por Arthur. A impressão é que ele entende que há fios desencapados que precisam ser resolvidos.
Laços
E na relação que se estabelece entre os dois, agora já na faixa dos 30 anos, não é difícil notar que há muito mais nos olhares e nos gestos do que propriamente nas palavras que saem da boca de ambos. As possibilidades pairam no ar. Há uma série de perguntas sem respostas imediatas. Assim, o reencontro será breve ou, a partir dali, os meninos que lá atrás tomaram rumos diferentes quando a estrada da vida se bifurcou voltarão a caminhar juntos? E se assim acontecer, será nesta vida? Ou já aconteceu em “vidas passadas”?
Afinal, os laços que se formaram entre os dois, na infância, foram fortes o suficiente para persistirem através do tempo. Apesar do movimento da vida, eles estão ali, cimentados, como mostra a cena inicial, na qual os três personagens centrais estão sentados no balcão de um bar/restaurante. De uma mesa próxima, pessoas comentam sobre o trio. Especulam quem será o parceiro de quem. Naquele momento, o laço entre Nora e Hae se reforça pela conversa entabulada na língua nativa dos dois, a qual Arthur não acessa. Assim, ele está distanciado, fora da conversa, o que gera a especulação dos outros presentes.
In-Yun
Todas essas questões se alinham a um conceito coreano que explicitamente rege “Vidas Passadas”, o do In-Yun, que, grosso modo, traz, em seu bojo, entrelaçados, os sentidos de “providência”, “destino”, “predestinação”. No caso, envolvendo a transitoriedade humana na Terra e a percepção de que nem tudo se resolverá em apenas uma vida. Assim, os fios continuarão desencapados, e é isso. Talvez, em uma existência futura….
“Vidas Passadas” teve a première mundial no Festival de Cinema de Sundance, em janeiro do ano passado. Na sequência, em fevereiro, passou pela 73º Festival de Berlim. Em julho, entrou em cartaz nos Estados Unidos. Antes do anúncio do Oscar, o filme já vinha dizendo a que veio em outras premiações, como o Globo de Ouro, para o qual recebeu cinco indicações, como as de Filme Dramático, Roteiro, Filme Estrangeiro, Atriz e Diretor.
Confira, a seguir, o trailer