Na capital mineira, a nova edição do Festival Varilux foi aberta com um evento no Una Belas Artes e a exibição do ótimo “Disfarce Divino”
Patrícia Cassese * | Editora Assistente
Allons-y. Nos próximos dias, os amantes do cinema francês vão ter motivos suficientes para convidar alguém a ir ao cinema. É que, nesta quinta-feira, dia 9 de novembro, teve início a 14ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês. A maratona da cinematografia francófona prossegue até o dia 22 de novembro. Maior evento com exibição de obras nesta língua fora da França, o Varilux traz, nesta edição, 19 longas-metragens, dois clássicos e uma série sobre Brigitte Bardot.
Lançamento em BH
Em Belo Horizonte, o Festival Varilux foi oficialmente aberto na noite da quarta-feira, no Una Belas Artes, com a exibição do filme “Disfarce Divino”. Certo, o título em português não foi o mais feliz do mundo – o original é “Magnificat”, e faz todo sentido. Mas o longa é instigante e muito bom. Desse modo, com Karin Viard e François Berléand no elenco, a produção tem uma premissa arrasadora: o padre de uma paróquia morre e, assim, um médico é chamado para conceder o atestado de óbito. No entanto, ao examinar o corpo, ele exige que alguém da diocese receba em mãos o documento.
Mesmo sem entender muito bem a demanda, Charlotte Rivière (Karin Viard), chanceler da diocese, vai ao local e, ao ler o atestado, imagina se tratar de um engano. No entanto, o laudo inimaginável procede: o corpo do padre é, na verdade, o de uma mulher. Logo, ao notificar o Bispo (Berléand), Charlotte é designada a acompanhar a cremação, que, para evitar qualquer escândalo, deve ser executada o mais rápido possível. No entanto, a própria Charlotte resolve empreender uma investigação, para saber como isso foi possível. Não bastasse, ao mesmo tempo ela lida com um problema particular: os questionamentos ininterruptos do filho, um adolescente de 15 anos, a respeito da identidade do pai dele. Assim, há segredos a mancheias na trama.
Invisibilidade
Assim, o longa exibido na abertura do Varilux em BH coloca sobre a mesa várias discussões. Entre elas, naturalmente, o fato de as mulheres ainda não poderem ser ordenadas padres. Tal qual, da invisibilidade das mulheres que dedicam a vida a tarefas de bastidores da Igreja Católica – que, no final das contas, são vitais para a instituição. O filme é uma adaptação do livro “Des femmes en noir”, de Anne-Isabelle Lacassagne. Já a direção é de Virginie Sauveur.
Outros filmes
O Festival Varilux de 2023 tem filmes que perpassam todos os gêneros: animação, drama, comédia, suspense e romance. A programação traz películas recentes – a maioria inédita no país – que integraram e foram premiadas em festivais como Cannes, Toronto e Biarritz. Ícone do cinema francês, a atriz Brigitte Bardot inspira essa edição que exibe dois clássicos nos quais foi protagonista: “E Deus criou a Mulher” e “O Desprezo”. Do mesmo modo, “Brigitte Bardot”, minissérie biográfica de seis episódios protagonizada pela jovem atriz franco-argentina, Julia de Nunez. No entanto, a produção será exibida apenas no São Paulo e no Rio de Janeiro.
Destaques
Entre as produções que estão na programação do Festival Varilux, destaque para a Palma de Ouro no último Festival de Cinema de Cannes. O filme em questão é “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet. Aclamado pela crítica, o longa mostra a investigação de uma morte em circunstâncias suspeitas. O longa tem, como protagonista, a atriz Sandra Hüller, Urso de Prata de melhor atriz no filme “Requiem” (2006).
Já “Making Of”, de Cédric Kahn, conta uma filmagem que sai dos trilhos. No elenco, os atores Jonathan Cohen, Denis Podalydès e Stefan Crepon. Uma curiosidade: o filme poderá ser assistido no Brasil antes da França, onde está programado somente para janeiro de 2024. No papel de um casal que se muda para uma aldeia galega para se conectar à natureza, os franceses Denis Ménochet, Marina Fois protagonizam “As Bestas”, sob a direção do espanhol Rodrigo Sorogoyen – o longa foi apresentado na mostra Première no Festival de Cannes de 2022 e recebeu Prêmios Goya e Prêmios CEC em 2023 de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme 2022.
“Culpa e Desejo”
Integrante da competição oficial de Cannes desse ano, “Culpa e Desejo” marca o retorno de Catherine Breillat, após uma pausa de dez anos na direção. O drama conta com Léa Drucker no papel principal. Assim, a trama mergulha na intimidade provocante e erótica, tendo como pano de fundo um escândalo familiar.
Terceiro longa-metragem de Anna Novion, “O Desafio de Marguerite” estreou na seção de exibições especiais do Festival de Cannes 2023 e também foi destaque na 1ª edição do Festival Internacional de Cinema de Biarritz. Estrelado por Ella Rumpf, acompanha a saga de uma jovem que atua na matemática de alto nível, mas decide dar uma guinada.
Outros filmes da seleção
“A Musa de Bonnard”, de Martin Provost, narra a vida do pintor francês Pierre Bonnard e de sua esposa, Marthe de Méligny ao longo de cinco décadas. Com Vincent Macaigne e Cécile de France nos papeis principais. Estrelado por Benjamin Voisin, o drama “Alma Gêmeas”, de André Téchiné, acompanha a recuperação de um tenente francês, sob a cuidadosa vigilância de sua preocupada irmã Jeanne. Mas, estranhamente, ele não parece muito ansioso para se reconciliar com quem era.
Sob a direção de Christian Carion, “Conduzindo Madeleine”, acompanha todo o envolvimento emocional de um taxista, um tanto desiludido, ao conhecer uma idosa durante uma viagem. Já diretor Emmanuel Mouret marca presença no evento com “Crônica de Uma Relação Passageira”, que recebeu críticas entusiastas da mídia. Com direção de Bruno Chiche, os atores Pierre Arditi e Yvan Attal atuam juntos em “Maestro(s)”, interpretando pai e filho.
“Memórias de Paris”
Em tempos difíceis de guerra “Memórias de Paris” mergulha no mundo dos sobreviventes de um ataque terrorista em um bistrô parisiense e a sua luta para reconstruir a sua existência e enfrentar novamente a vida cotidiana. O longa conta com a atuação dos astros Virginie Efira e Benoît Magimel e direção de Alice Winocour, que faz sua estreia no Varilux.
Remake de “O Brinquedo”, comédia francesa de 1976, “Meu Novo Brinquedo”, de James Huth, traz Daniel Auteuil na pele do homem mais rico da França. Assim, ao abrir a seção de brinquedos da loja dele, comunica ao seu mimado filho que ele pode escolher o que desejar no Aniversário. E o garoto escolhe Samy – interpretado pelo cômico francês Jamel Debbouze -, o vigia da loja.
“O Renascimento”
“O Astronauta”, novo filme de Nicolas Giraud, dá aos espectadores uma tentadora visão interna sobre a indústria espacial. Com direção de Baya Kasmi, na comédia “O Livro da Discórdia”, Youssef Salem escreve um romance parcialmente autobiográfico inspirado na própria juventude. Porém, o livro causa uma certa tensão familiar. O longa “O Renascimento”, de Rémi Bezançon, apresenta uma história de amizade pouco comum e cheia de reviravoltas. Assim, um pintor em plena crise existencial e um galerista – dois homens que sempre foram amigos e que, apesar de todos os contratempos, são unidos pelo amor à arte.
Paul B. Preciado
Após conquistar o Teddy Award no Festival de Berlim e o Prêmio Especial do Júri da Mostra Encounters, “Orlando, Minha Biografia Política” integra essa edição do Varilux. Primeiramente, o filme é uma adaptação de uma das obras mais conceituadas da escritora Virgínia Woolf, “Orlando”, de 1928. Esse “docu-ficção” de Paul B. Preciado convoca um teste de elenco de 25 pessoas, todas trans e não binárias. O objetivo é interpretar a personagem fictícia de Woolf, enquanto narram as próprias vidas.
Com direção de Sébastien Tulard, a comédia “Sob as Estrelas”, acompanha a saga de Yazid. Desse modo, ele é um menino do subúrbio que sonha trabalhar com os maiores confeiteiros. A animação “A Viagem de Ernesto e Celestine”, codirigida por Julien Chheng e Jean-Christophe Roger, mostra um ratinho e um urso músicos. Desta vez, num mundo no qual todas as formas de música foram proibidas.
(* com material informativo do Festival Varilux)
Serviço
Festival Varilux
A lista de cidades e de cinemas participantes será continuamente atualizada no site do festival: variluxcinefrances.com
O valor do ingresso é o já cobrado por cada exibidor.
