
Cerimônia no Cine-Tenda abre 27ª Mostra de Tiradentes
No palco, os homenageados da Mostra de Tiradentes este ano: André Novais Oliveira e Bárbara Colen (Leo Lara/Universo Produção)
No palco, os homenageados da Mostra de Tiradentes este ano: André Novais Oliveira e Bárbara Colen (Leo Lara/Universo Produção)
A edição 2024 da Mostra de Cinema de Tiradentes foi aberta na sexta-feira, dia 19 de janeiro, com a presença de autoridades e dos homenageados
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Com o Cine-Tenda lotado, a cerimônia de abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes (no caso, da 27ª edição) foi, mais uma vez, pontuada pela emoção – manifestadas inclusive em lágrimas. A noite foi aberta com Marcus Viana nos teclados, ao lado do filho, João Viana, no violino, precedendo a entrada da cantora Laís Lacorte. Juntos, os três apresentaram a música “Pátria Minha”, de Viana (foto abaixo, de Leo Lara/Universo Produção), que se tornou conhecida como a trilha do programa “Terra de Minas”, da Globo Minas.
Logo na sequência, subiram, ao palco, Raquel Hallak, Quintino Vargas e Fernanda Hallak, nomes à frente da Universo Produção, realizadora da Mostra de Tiradentes que, este ano, constrói-se em torno do eixo ‘As Formas do Tempo”. Bastante emocionada ao final, Raquel Hallak deu início à fala justamente destrinchando, para o público, o tema central da edição, pontuando as mudanças pelas quais o audiovisual vem passando nos últimos anos, citando a pandemia da Covid-19 como uma baliza. No caso, propulsionando o uso das telas menores, inclusive as de dispositivos móveis.
No entanto, lembrou como, em meio a tantas mudanças, o cinema – e arte, num plano geral – segue como um símbolo de resistência. Já visivelmente comovida, Raquel Hallak falou sobre o papel da Mostra de Tiradentes como um autêntico retrato da produção cinematográfica contemporânea, do país. Ou seja, uma iniciativa que atua como vitrine para realizadores inventivos, que ousam ao se valerem das mais variadas linguagens estéticas.
Não só. Raquel Hallak também pontuou o papel da Mostra de Tiradentes como um evento gerador de empregos, sejam eles diretos ou indiretos. Do mesmo modo, ratificou o êxito da iniciativa ao citar diferentes dados, como o número de acessos à plataforma da mostra. No entanto, situou as dificuldades que ainda envolvem a produção do festival ano a ano, posto que, como frisou, é preciso começar do zero a cada edição. Não por outro motivo, Raquel, ainda do palco, agradeceu os variados agentes do poder público e privado que contribuíram para que a 27ª edição do evento pudesse ser realizada.
Após uma pausa para recuperar o fôlego (em função da emoção), Raquel Hallak citou Bertolt Brecht. “Essa fala dele é muito conhecida. ‘Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis’. Que sejamos, pois, imprescindíveis”.
Conduzida por Lira Ribas, filha do saudoso Marku Ribas (1947-2013), a cerimônia lembrou que, naquele dia, a cidade histórica de Tiradentes celebrava os 306 anos de emancipação política. Assim, para cantar o tradicional parabéns, várias autoridades subiram ao palco, entre elas, o prefeito de Tiradentes, Nilzio Barbosa – também bastante emocionado. Entre os outros nomes chamados para este momento, estavam, por exemplo, Jarbas Soares Júnior, procurador-geral de Justiça de Minas Gerais. Tal qual, de Durval Ângelo, do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais.
Marília Campos, prefeita de Contagem, foi outra presença no palco na cerimônia de abertura da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Já a pasta do Ministério da Cultura foi representada pela presença de Joelma Gonzaga, Secretaria do Audiovisual. O secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, por seu turno, foi representado por Black Dom, Chefe da Assessoria do audiovisual da Secult.
Ao falar para o público presente, Joelma Gonzaga teceu entusiasmados elogios aos homenageados desta edição, os já citados André Novais e Bárbara Colen. Aliás, ela contou que o primeiro contato com Bárbara se deu quando ela integrava o corpo de produção de “Breve Miragem de Sol”. No filme de Eryk Rocha, Bárbara fez os testes para viver a personagem Karina, e Joelma pontuou o impacto que a atriz mineira provocou em todos ainda naquela fase de escolha de atores.
Sobre a Filmes de Plástico, a celebrada e potente produtora que tem o nome de André Novais (o outro homenageado da Mostra de Tiradentes em 2024) no DNA, Joelma citou a reverberação que lhe provocou ver “Temporada” (2018), filme de Novais, protagonizado por Grace Passô. No cômputo geral, destacou que o cinema da Filmes de Plástico “é necessário para o Brasil”, por tratar questões da população negra “de forma digna, humanizada e bonita”. Dentro do tom da noite, Joelma terminou a fala bastante emocionada.
Belíssima, em um vestido preto, Bárbara Colen subiu ao palco e colocou em repasse alguns momentos da carreira. Citou o início de tudo, justamente com a Filmes de Plástico, no caso, no filme “Contagem”, em 2010. “Eles eram meninos… E de lá para cá, tanta coisa aconteceu”. A atriz não conseguiu conter o choro (foto abaixo, de Leo Lara/Universo Produção) ao falar do quanto o ano passado (2023) foi forte, em função de acontecimentos como a chegada do primeiro filho e a partida do pai. Mas também homenageou as mulheres da família, cujo esforço, citou, se faz sentir na vida dela.
E se Bárbara Colen proferiu palavras que lhe acorreram à mente, ali, André Novais, confessadamente mais retraído (“não gosto de falar em público”, brincou, tímido), recorreu ao celular. Lembrou o conselho dado pelo professor de cinema Rafael Ciccarini, lá atrás. “Ele disse que, se a pessoa quer fazer cinema brasileiro, tem que assistir à produção brasileira”. Tal qual, rememorou que esteve na Mostra de Tiradentes pela primeira vez em 2008, tendo voltado em 2010, já para exibir uma produção da Filmes de Plástico: “Fantasmas”.
Ao final da cerimônia, que precederia a exibição dos filmes escolhidas para a abertura do evento, nova apresentação de Marcus Viana e João Viana, com a presença do instrumentista Augusto Rennó, dos cantores Laís Lacôrte e Robert Frank, e a percussão de Lira Ribas, em uma bela performance.
A noite de abertura da Mostra de Tiradentes no Cine Tenda foi encerrada com a exibição dos filmes “Roubar um Plano” e “Quando Aqui”. O primeiro, assinado por Lincoln Péricles (LKT) e André Novais Oliveira, se passa no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, e traz Renato Novaes como um trabalhador (no caso, o vemos tentando encher um carrinho de mão com pedras) que um dia resolve largar a lida para tentar voltar para a terra natal, Contagem. No entanto, precisa do dinheiro da passagem. Na conversa com Adriano (Adriano Araújo), ele revela as decepções (inclusive com o pão de queijo de lá), enquanto uma equipe de cinema rouba alguns planos.
Na sequência, o tocante “Quando Aqui”, que se inicia com uma conversa entre o pai de André Novais, Norberto Novais, com o irmão do cineasta, Renato Novaes, na qual o primeiro, aos 72 anos, conta ao filho a história de como a família se encantou e acabou adquirindo aquela casa, no bairro Amazonas, em Contagem. Na sequência, o público vê Norberto recolhendo os últimos pertences e deixando a casa já vazia, não sem antes lançar um último olhar.
Daí, vemos os novos moradores, um jovem casal com uma criança. A partir daí, o tempo se desloca para trás e para frente, mostrando as diversas histórias que, no curso da história, se cruzaram com a daquela edificação. Mas não só. A viagem temporal chega aos povos originários, numa época em que o espaço ainda era mata. Neste ponto, entram em cena as personagens vividas por Yná Krenak e Shirley Djukurnã Krenak, que dialogam em Borun.
Belo, o filme faz pensar no aspecto transitório de tudo, bem como na relação de pertencimento e afeto com espaços geográficos que se enlaçam com histórias de vida, tornando-se, pois, referência em várias existências. O filme foi livremente inspirado no livro “Aqui”, do quadrinista, designer gráfico, autor de livros infantis, músico e ilustrador norte-americano Richard McGuire.
Mais tarde, houve a apresentação de Marcus Viana e grupo Amálgama, no Cine Lounge. Até o final da mostra, tem mais. Muito mais.
Publicado por Carol Braga
Publicado em 20/01/24