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Succession – A tragédia inevitável

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Série Succession aclamada pela crítica e pelo público, chega ao fim na HBO MAX, com final intenso e decisivo

ESTE TEXTO CONTÉM SPOILER

Por Bruno Flores | Colaborador

Succession. Foto HBO
Succession. Foto HBO

“We are bullshit”? A frase de Roman no último episódio de Succession soa como uma epifania do filho caçula de Logan Roy, que ecoa uma dura verdade dita pelo pai. No meio de uma discussão que cimenta o destino de todos, Roman finalmente chega ao entendimento de que ele e seus irmãos, Shiv e Kendall, nunca foram aptos para assumir o império de mídia erguido por Logan em 50 anos de carreira.

Por mais perverso e manipulador que o patriarca tenha sido, ele parecia enxergar com clareza a essência das pessoas, percebendo quem seus filhos sempre foram: crianças mimadas, despreparadas para a vida, à espera de satisfazer o próprio ego com o cargo de CEO dado pelo papai.

A culpa de Logan

Nada disso elimina a culpa do próprio Logan neste cenário. Ele é a gênese de uma família cujo acúmulo de riqueza e poder contrasta violentamente com uma inabilidade emocional e afetiva. Kendall ignora os filhos em prol da carreira, Shiv é incapaz de demonstrar amor a Tom (embora, em alguns momentos, pareça senti-lo), e Roman esconde qualquer vulnerabilidade sob uma armadura mordaz e sarcástica.

Tudo isso é obra de Logan Roy e Caroline Collingwood, mãe desse bando desastroso e, ao mesmo tempo, hilário. Os três cresceram e se moldaram assistindo da tribuna o pai erguer seu império corporativo com punhos de aço: intimidações, assédio moral, demonstrações ostensivas de força e poder. É um estilo que brotou naturalmente da personalidade de Logan, e que seus filhos sempre tentaram emular, o que em parte explica o fracasso de cada um.

A sede de poder fincou raízes neles desde crianças, ensinados a acreditar que a Waystar era um direito de nascimento, o que se acentua no personagem mais conflituoso e trágico da série Succession: Kendall.

A tragédia de Kendall

No primeiro episódio de Succession, “Celebration”, Kendall é o filho escolhido? está tudo acertado para que ele assuma como CEO da Waystar. Contudo, Logan muda de ideia na última hora por considera-lo fraco e indigno do cargo, após uma postura de Kendall vista como submissa na reunião com outro empresário.

Desdobra-se, então, ao longo de quatro temporadas, um jogo no qual Logan faz promessas aos três filhos, distribui cargos e incentiva a disputa desleal entre eles, como um mestre de xadrez manuseando suas peças. Se por um lado ele manipula por trás dos panos à espera de que alguém se revele o “number one boy” (com o perdão da expressão sexista que exclui a Shiv, mas o patriarca sempre foi um machista de primeira hora), por outro ele nunca pareceu disposto a largar o osso.

Recapitulação

Neste cenário de alianças e sabotagens, Kendall vive uma montanha-russa. Vamos recapitular: na primeira temporada ele tenta tirar o pai da cadeira de CEO através de uma votação de desconfiança em Logan no Conselho da empresa, depois na base da força por meio da manobra conhecida como “abraço do urso”. Na segunda temporada dá uma guinada de 180° e volta a ser o filho leal, acima de qualquer suspeita, após Logan dominá-lo por conta do maior erro da vida de Kendall, até se rebelar novamente quando o pai pretende usá-lo de bode expiatório para um crime cometido em nível gerencial na Waystar; já na terceira temporada trava uma batalha jurídica e midiática contra Logan e perde, ao custo de sua sanidade mental.

Kendall vive no limite: num momento está um passo à frente de Logan, de olho no prêmio máximo, para em seguida desabar do penhasco até as profundezas.

No início desta temporada, Kendall está, até certo ponto, resignado em começar uma empresa própria ao lado dos irmãos, livre da sombra do pai. Mas sua essência retorna com força total quando Logan morre, e Kendall vislumbra novamente a possibilidade de satisfazer o desejo que sempre o atrai para o fundo do poço: assumir o trono da Waystar.

É um personagem que parece destinado ao fracasso, a jamais conseguir alcançar sua obsessão, por mais que se aproxime dela. Nisso está sua tragédia.

Conclusão

Na cena final de “With open eyes”, Kendall contempla as águas agitadas da baía de Manhattan, com a Estátua da Liberdade ao fundo. A imagem contrasta com um personagem que sempre viveu aprisionado em sua própria mente, numa busca angustiada por atingir o ideal capitalista americano. Ele jamais será CEO, jamais será Logan.

Resta a nós, espectadores, ver e rever esta série brilhante, que já garante seu lugar entre as melhores de todos os tempos.

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