“Solo e Bem Acompanhado”, de Luiz Carlos Sá, chega este mês às plataformas de streaming
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Morando já há algum tempo em Nova Lima, o cantor, compositor e violonista carioca Luiz Carlos Sá – o “Sá”, da icônica dupla com Guarabyra, e que, até 1973, era um trio, com o saudoso Zé Rodrix – lança neste mês, nas plataformas musicais, o disco “Solo e Bem Acompanhado” (Mills Records).
Trata-se de seu primeiro álbum solo, que, claro, será devidamente apresentado em turnê – o ponto de partida será o Rio de Janeiro, precisamente, no Teatro Rival, ainda este mês.
Semente do projeto
A semente de “Solo e Bem Acompanhado” foi plantada já há um bom tempo. “O disco, na verdade, começou a ser esboçado em 1999, junto a meu produtor, Vinicius Sá – que, mesmo com a coincidência do sobrenome. não tem parentesco comigo”, conta Sá, ao Culturadoria.
O projeto, porém, foi deixado de lado logo após as primeiras gravações, em 2001. “Naquele momento, o Zé Rodrix (1947 – 2009) havia voltado para o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, com vistas ao que seria uma única apresentação no Rock n Rio III”, rememora ele. Só que o retorno do trio fez tanto sucesso que gerou um contrato com a Som Livre. “E eu acabei postergando tudo (o projeto solo) até 2017”.
No ano citado por Sá, ele e Vinicius levaram as fitas beta para serem transcritas e refizeram boa parte das bases, “regravando teclados, guitarras e alguns detalhes”.
Ao mesmo tempo, introduziram novas faixas e arregimentaram as participações especiais de Frejat, Lucy Alves, Armandinho e dos grupos Roupa Nova e Golden Boys.
Tempos pandêmicos
Contudo, o que aconteceu na sequência, todo mundo sabe bem. Sim, a pandemia. “Impedido de fazer shows e não vendo nenhuma perspectiva de trabalho sobre as faixas, mudei para Portugal”, conta Sá. Ele passou quase dois anos por lá, até a agenda de shows da dupla com Guarabyra ser retomada.
“Na volta, assinei com a Mills Records e, então, já com o apoio de uma gravadora, parti para o real lançamento do CD físico e do álbum completo nas mídias de streaming”, diz Sá, sobre o que acontece agora.
Antes, Sá até se arriscou a lançar alguns singles, mas, reconhece, o processo foi prejudicado pela pandemia.
“Mato e Morro”
Dias atrás, no entanto, o artista lançou “Mato e Morro”, música que, observa ele, é marcada por um sabor latino. “Lá no início de tudo, eu queria, primeiramente, uma faixa com o frescor de uma banda bem jovem”, diz, sobre a faixa.
Para tal, Sá chamou o filho, Miguel Sá, que, por sua vez, reuniu sua turma de jovens amigos, que, ali (no ano 2000), estavam começando a carreira profissional. Por razões técnicas, porém, a base desta faixa teve que ser refeita em 2017. “Mas a marca daqueles então ‘meninos’ ainda está lá. Assim, é cheia de suingue e ousadia. E me parece mais atual que nunca”, analisa ele.
Outras faixas do disco que Sá aponta são “Eu Te Via Clareando” e “Um Povo Com Vida”. A primeira era uma letra que foi dada a Sá por Torquato Neto (1944-1972) em 1969, quando eram colegas de redação no “Correio da Manhã”. “Só que eu havia perdido a segunda parte da letra, e, assim, não quis gravá-la até começarmos este disco”.
Ao remexer em papéis achados na casa de seus pais, porém, Sá acabou encontrando a parte que faltava. E, daí, convidou a atriz, cantora e compositora Lucy Alves para se incumbir do acordeon, além de soltar a voz. “A participação dela foi essencial. Lucy leu como ninguém mais leria o que eu chamo de ‘serenidade dramática’ da letra de Torquato”.
“Um Povo com Vida”
Já a segunda, “Um Povo Com Vida”, é sua primeira parceria com o cantor, compositor e multinstrumentista senegalês – radicado em BH – Mamour Bá. “Foi composta pensando naquelas pessoas que colocam sua própria vida em perigo com o único intuito de ajudar a quem precisa”, conta Sá.
“A música ficou ainda mais atual com o triste cenário presente de caóticas e arriscadas migrações de povos inteiros em busca de uma vida digna”, complementa o artista.
Releituras
Quanto às releituras presentes no álbum, Sá informa que a faixa “Os 10 Mandamentos do Amor” foi gravada em 2000, antes mesmo da versão do trio (estamos nos referindo novamente à junção dele com Guarabyra e Zé Rodrix)) no CD “Amanhã”(que foi gravado em 2008).
“Aliás, foi o último trabalho musical com Zé Rodrix, que faleceu pouco depois das mixagens finais, o que fez com que esse disco ficasse praticamente inédito”, informa Sá.
Já a música “A Ilha”, gravada anteriormente por Tavito (1948-2019), Sá confidencia que era uma música na qual ele sempre “ouvia” a voz de Frejat cantando. “E a versão final, com a participação dele na voz e na guitarra slide, confirma que eu tinha absoluta razão”, explana.
A nova visita ao clássico “Caçador de Mim”, contextualiza Sá, não poderia, claro, faltar neste seu primeiro solo. “Visto ela ser uma de minhas letras – com a simples e perfeita melodia de Sergio Magrão – preferidas”. Mas Sá enfatiza que queria uma outra visão dela, com gravação em estúdio.
“E, daí, convidei meus queridos amigos do Roupa Nova, que ‘vestiram’ perfeitamente a música com uma ‘roupa nova’!”, afiança.
Shows
Perguntando sobre quando o show deste disco será mostrado em BH, Sá conta que os empresários da sua carreira solo (da Origem Eventos) estão começando agora a organizar a agenda. “E, não bastasse, ela precisa ser ajustada dentro das datas já fechadas de shows da dupla (Sá & Guarabyra) e do Encontro Marcado”, diz.
Na última citação, Sá se refere ao espetáculo no qual ele e Guarabyra dividem o palco com Flavio Venturini e o grupo 14Bis.
“Adoro BH”
Por enquanto, estão confirmados o show de estreia da turnê no Rio de Janeiro (19 de maio), no Teatro Rival, e outro em Niterói, no Teatro da UFF, dias 9 e 10 de junho. “Mas BH está no topo da lista, claro. É a minha cidade adotiva! Primeiramente, devo dizer que adoro BH. Mudei pra cá em 2005. Quatro dos meus filhos mais velhos moram aqui e o mais novo é mineiro de origem”, lista Sá.
Mesmo antes de se mudar para Minas, Sá se sentia em casa quando vinham por aqui. “Tenho família e muitos amigos queridos na cidade”.
O tempo, um aliado
Perguntado sobre quem é o Luiz Carlos Sá hoje, em 2023, aos 77 anos, ele responde que, para aqueles que sabem usar o tempo e entendem que esse é rei e não para, a idade sempre será um bem. “Jamais um fardo”.
“Aprendi muito pela vida afora e não tenho do que reclamar, porque meus caminhos, eu mesmo escolhi”, atesta Sá. Arrependimentos? Alguns. “Quem diz que nunca se arrependeu de nada, a meu ver, sofre de uma certa recusa em reconhecer as escolhas provavelmente erradas que certamente fez, em uma ou outra ocasião”, adiciona.
O cantor e compositor finaliza: “Mas, no fim das contas, o que quero ressaltar é que estou onde quero, com quem quero e cercado de quem me quer bem. Nada melhor, não é mesmo?”. Com toda a certeza, Sá.