Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Rohit Saliyan traz a BH os sabores surpreendentes da Índia

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O indiano Rohit Saliyan ficou preso no Brasil por conta da pandemia – e acabou se apaixonando de vez e permanecendo em BH

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Corria o mês de fevereiro de 2020 quando o indiano Rohit Saliyan, 22, desembarcou pela segunda vez no Brasil, realizando, assim, o sonho de retornar ao país que conhecera um ano antes, e pelo qual de pronto se apaixonou. Aliás, naquela primeira viagem, e mesmo sem falar português, Rohit conseguiu visitar várias capitais, como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Rendido às belezas locais, porém, queria mais.

O indiano Rohit Saliyan mostra, orgulhoso, alguns dos produtos que criou (Regina Sugayama/Divulgação)
O indiano Rohit Saliyan mostra, orgulhoso, alguns dos produtos que criou (Regina Sugayama/Divulgação)

Nesta nova jornada, a de 2020, a meta seria passar dois meses no país. Os planos para a segunda estadia, porém, acabaram sendo brutalmente atropelados quando o recrudescimento do número de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus fez com que a Organização Mundial de Saúde decretasse o status de uma pandemia. E, assim, Rohit acabou sendo forçado a ficar no Brasil – aliás, como todo mundo, sem muita ideia do cenário que se desenrolaria a seguir.

Experimentando receitas

Cumprindo, como milhões e milhões de pessoas mundo afora, o isolamento social – não bastasse, carregando na mente a preocupação com os pais, que haviam ficado em Mumbai, sua cidade natal -, Rohit acabou tendo que procurar uma alternativa para ocupar a mente. E também para garantir alguma fonte de renda para se manter. Não demorou muito para que se visse em frente ao fogão, recriando (ou criando) receitas que o remetiam ao caleidoscópio de aromas e gostos de seu país – e da casa de seus pais.

Detalhe: é preciso dizer que, na Índia, Rohit não tinha o hábito de cozinhar. “Acontece que sou filho único, e minha mãe não gostava que eu ficasse dentro da cozinha (ri). No entanto, acabava ajudando. Gostava de ficar observando ela preparando os pratos. E trouxe as lembranças dos sabores. Aliás, ela é muito boa cozinheira. No meu caso, fui desenvolvendo as receitas até alcançar um sabor parecido com o que ela fazia e assim que deu bom”.

“Lapalap”

Naquele momento, talvez nem passasse pela sua cabeça, mas Rohit já estava, na verdade, gerando o embrião da Lapalap, marca de molhos prontos, conservas e chutneys que hoje toca na capital mineira – e que vem cada vez mais conquistando o gosto dos belo-horizontinos e, na esteira, de todo o país.
O nome, cumpre frisar, vem do jeito como seus conterrâneos fazem menção ao estalo da língua quando a comida está muito boa. De acordo com o material da própria marca, a logo traz gotinhas multicoloridas e cheias de detalhes, como a Índia. “Elas se espalham, transmitindo energia positiva”.

No início, por delivery

Os produtos de Rohit começaram a ser vendidos por delivery, por meio de plataformas como Rappi, Uber Eats ou IFood. “No caso, comidas indianas simples. Como o curry. Daí, vislumbrei que haveria uma oportunidade maior se produzisse e comercializasse comidas dentro do pote”.

Ao começar a testar receitas, os sabores, no início, eram mais picantes. “Mas, depois, indo a feiras (já com a flexibilização da quarentena), entendi que os brasileiros não gostam muito do sabor mais picante. Preferem o agridoce. E quanto a temperos, muitos gostam, mas também não apreciam muito a pimenta”.

Opções

Atualmente, a Lapalap conta com 11 produtos, entre molhos prontos, conservas (achaar) e chutneys. São opções inspiradas em receitas tradicionais da Índia, selecionadas pelo próprio Rohit. No caso dos molhos, são cinco opções, cada uma inspirado em uma região da Índia: molho para curry de pimentão, cebola, tomate, espinafre e coco. Além de serem usados para o preparo de curry como o Butter Chicken, Palak Paneer e Curry de Coco, os molhos podem ser usados como pastas para sanduíches e bruschetas.

Os produtos criados por Rohit a partir dos sabores da Índia são comercializados com o nome Lapalap (Regina Sugayama/Divulgação)

Já no caso dos chutneys, há, por exemplo, o agridoce de tomate ou o de manga. “Para quem gosta de um chutney de manga mais aromático, com especiarias, é uma opção que considero muito boa”, sustenta ele.
Outras iguarias preparadas por Rohit são as conservas, como a agridoce de cebola (“um de nossos carros-chefes”). As conservas, ou achaar, trazem os vegetais preservados em calda de vinagre ou óleo, com uso de especiarias que agregam sabor e saudabilidade ao alimento, além de concorrerem para uma estabilidade maior do produto.

E tem, ainda, o antepasto de pimentão e o alho confitado com especiarias. “Esta última, você pode comer e, logo em seguida, beijar outra pessoa, não vai ficar com gosto de alho”, brinca ele. Vale dizer que cada pote tem 240 gramas e custa R$ 36,60.

Onde achar

Os produtos de Rohit podem ser adquiridos em cerca de 200 lojas parceiras da marca, distribuídas em 20 estados do Brasil, e, como citado, em feiras gastronômicas. Uma outra opção é o site www.delichat.com.br, por meio do qual é possível fazer encomendas para todo o Brasil.

O endereço eletrônico também disponibiliza a coleção de geleias Deli Chat, criadas por Regina Sugayama, que, hoje, oferece 39 sabores autorais, incluindo 11 combinações de pimentas com frutas diversas.

O diferencial é que o site traz histórias e curiosidades desta culinária tão singular que é a indiana, além de dicas de consumo – como, por exemplo, combinar os produtos com queijos para o preparo de tapiocas, bruschettas e sanduíches.

Desmistificando estereótipos

Outra forma de topar com os produtos Lapalap é nas feiras, que Rohit adora participar. “Curto muito oferecer degustações dos produtos. E quero fazer cada vez mais, para divulgá-los ao maior número de pessoas possível. Adoro ver a reação das pessoas no momento em que experimentam (os produtos). É quando acontece aquela reação mágica: ‘Nossa, é muito bom’ (simula a voz do cliente). Na verdade, praticamente todo mundo que experimenta acaba levando o produto para casa”, afiança.

Apresentando seus produtos a potenciais clientes, umas das atividades preferidas de Rohit

A longo prazo, Rohit quer desenvolver ainda mais produtos, para diferentes momentos do dia, a partir do café da manhã. “Lanches, jantar, saladas. Eu quero uma linha para o dia inteiro. Mostrando que qualquer refeição do dia pode contar com pratos indianos. E como estou falando de receitas autênticas, originais, vale dizer que elas levam combinações de especiarias da ayurveda (sistema de medicina tradicional da Índia), que são muito boas para a saúde de modo mais amplo. Por exemplo, o feno grego com mostarda, que uso, é bom para cabelo, para a pele. E para diabéticos, para a visão, para regular a pressão”.

O empreendedor assinala, ainda, que os produtos da Lapalap não levam conservantes nem corantes.

Fã da capital mineira

A capital mineira tem em Rohit um fã inveterado. “É um lugar muito bom para se viver. O clima daqui me agrada bastante: nunca fica muito frio nem muito quente. Quando chove, quase sempre é tranquilo. Também gosto muito de São Paulo, mas, quando as temperaturas baixam por lá, é frio mesmo! A única coisa que falta é praia (risos). Mas tem bastante cachoeiras – muitas delas, localizadas bem perto daqui, de BH, o que compensa”, brinda o moço.

Embora esteja empenhado em divulgar a culinária indiana, Rohit também admite que se rendeu à cozinha mineira e, num espectro maior, à brasileira. “Gosto muito, particularmente, de pratos como tutu com costela, feijão tropeiro, feijoada… Muito”, enumera.

Detalhe: ele enfatiza adorar PFs, os célebres pratos-feitos. “Gosto de provar o PF de diferentes lugares. E também dos pratos do dia, de diferentes lugares, porque, na maioria das vezes, são as especialidades dos lugares”.

Entre a Índia e o Brasil

Atualmente, além da saudade dos pais, Rohit confessa sentir falta da comida da rua que estava acostumado a degustar. Particularmente, por ter nascido em Mumbai, a maior cidade da Índia: em 2011, a população estimada era de 12.478.447 habitantes apenas em seu núcleo urbano.

Rohit lembra que, como toda metrópole mundo afora, a cidade atrai pessoas de várias regiões da Índia, que se deslocam para lá em busca de trabalho, de melhores condições de vida. Neste movimento, acabam reproduzindo, lá, os pratos típicos de seus locais de origem. O resultado é que as ruas da cidade acabam oferecendo uma miríade de sabores. “Muita variada, muitos tipos de comida”.

Curiosamente, ao contrário da maioria dos próprios brasileiros, Rohit acha o Brasil um país bastante organizado. E sim, ele fala do trânsito (“o jeito que as pessoas dirigem”) e mesmo da organização em filas para pagar por algum produto. “No meu país, digamos que é um pouquinho mais ‘bagunçado'”, diz ele, rindo.

Observador da cultura

Além das cidades citadas no início desta matéria, Rohit já visitou também Brasília, Vitória, Florianópolis (que ele já chama de “Floripa”) e Belém, entre outras. “Já rodei muita coisa, eu realmente gosto muito da cultura brasileira. Assim, quando viajo, aproveito para ver como as pessoas locais estão vivendo, seus hábitos, o que estão comendo”.

Desnecessário dizer que Rohit também não se furta a conhecer os estabelecimentos voltados à culinária indiana instalados no Brasil, principalmente em BH e em SP. “Gosto muito. A maioria, ou, pelo menos, os maiores, geralmente são tocados por indianos mesmo. Aliás, hoje já tenho vários amigos indianos que conheci aqui, no Brasil. Pessoas com as quais mantenho uma relação muito boa, tipo uma família”.

Serviço

Lapalap Curry House

99food, Rappi, Whatsapp (031) 98880-6292 (horários do delivery: quarta a sábado, das 11h30 às 14h30; fora desses horários, mediante pedido prévio)

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