Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Quem foi Mercedes Baptista, primeira bailarina negra no Brasil

Artista foi fundamental na construção da história da dança afro no país, ajudou a escrever um novo capítulo nas escolas de samba e foi a primeira mulher negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro

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Considerada a principal precursora e divulgadora do balé e da dança afro no Brasil e também a primeira mulher negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Esse é um pequeno resumo com dois destaques de quem foi Mercedes Baptista, bailarina, coreógrafa e professora. Ela nasceu em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, em 1921. Ou seja, neste ano celebramos o centenário do seu nascimento. Além de importante contribuição no desenvolvimento da cena da dança, ela também foi fundamental no movimento de valorização e reconhecimento de artistas negros na arte.

Por isso, destacamos os principais pontos da vida e carreira de Mercedes Baptista para você conhecer. Desde a origem, passando por diferentes fases da sua vida.

Origens e contato com a dança

Filha de João Baptista Ribeiro e Maria Ignácia da Silva, Mercedes saiu do interior e foi para a capital quando ainda era jovem. Estudou no Colégio Municipal Homem de Mello e já mais velha trabalhou em diferentes profissões. Foi empregada doméstica, operária em uma gráfica e em uma fábrica de chapéus. Entretanto, foi atuando na bilheteria de cinema que teve contato com a arte. Nasceu ali a vontade de se tornar artista e se dedicar à dança. 

mercedes baptista
Foto: Arquivo Nacional/ Correio da Manhã

Dessa forma, em 1945, começou a frequentar as aulas da bailarina Eros Volússia, conhecida pelo método que investigava as danças populares. Mais adiante, continuou os estudos na Escola de Danças do Theatro Municipal, onde foi aluna de Yuco Lindberg e Maria Olenewa. Nesse período se destacou e prestou concurso para o balé. Assim, em uma seleção extremamente concorrida, se tornou a primeira mulher negra a integrar o corpo de dança do Theatro Municipal. 

Invisibilidade de artistas negros

Apesar do destaque e das oportunidades que recebeu de grandes nomes da dança, Marcedes Baptista não deixou de sofrer racismo, bem como os outros artistas negros atuantes no Brasil. Prova disso foram as poucas aparições e a não seleção por parte dos diretores para que ela fizesse parte dos espetáculos. Mesmo assim, a dedicação, as atuações e figurações a fizeram conhecida na capital do Rio de Janeiro. 

Na mesma época, a bailarina se apresentou diversas vezes junto com o grupo Teatro Experimental do Negro, criado por Abdias do Nascimento. O projeto tinha a intenção de valorizar socialmente o negro e a cultura afro-brasileira por meio da arte e da educação. Além disso, queria desenhar uma nova linguagem dramatúrgica, com estética original, sem recriação e reprodução do que era feito em outros países. Assim, ao lado de nomes como Haroldo Costa, Ruth de Souza e Santa Rosa, Mercedes militou por tal reconhecimento e pela integração de dançarinos e atores negros no teatro brasileiro. 

Aprimoramento profissional e criação da própria escola

No começo dos anos 1950, Mercedes conheceu a antropóloga, coreógrafa e militante estadunidense Katherine Dunham, que veio se apresentar no Brasil. Dunham, então, convidou Mercedes para estudar nos Estados Unidos. Dessa forma, a bailarina brasileira passou pouco mais de um ano em Nova York, onde teve aulas de dança moderna, participou do ativismo negro e ainda lecionou balé clássico para bailarinos locais. 

De volta ao Brasil, cria o Ballet Folclórico Mercedes Baptista, grupo de bailarinos negros para pesquisa e divulgação da cultura negra e afro-brasileira. Além do Brasil, o grupo ganhou respeito também na América do Sul e na Europa. Além disso, Mercedes ministrou aulas, ficando conhecida como uma professora rígida e generosa ao mesmo tempo. 

Contribuição para as escolas de samba

Baptista ajudou a transformar a história da composição das escolas de samba no Brasil. Isso porque, em 1963, ao lado de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, colocou a dança clássica na comissão de frente no desfile do Salgueiro. Naquele ano, a escola de samba homenageou Xica da Silva, e Mercedes inseriu o minueto na coreografia. A escola foi a campeã do carnaval e se tornou referência na apresentação em alas coreografadas. 

A partir daí, Mercedes Baptista se consolidou como nome importante na dança, no teatro e na cultura brasileira como um todo. Ministrou aulas pelo Brasil e pelo mundo e hoje fica como legado a sua contribuição, por meio da pesquisa com base em matrizes africanas e ampliação do acesso de artistas negros em espaços tradicionais e de pouco acesso. Além disso, recebeu inúmeras homenagens e prêmios pela sua atuação.

Faleceu em 19 de agosto de 2014 aos 93 anos em decorrência de complicações da diabetes e problemas cardíacos. Para conhecer esta história mais a fundo recomendamos o documentário Balé de Pé no Chão – a dança afro de Mercedes Baptista, de Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro. Ele está disponível gratuitamente no YouTube.

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Foto: Arquivo Nacional

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