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Agenda Cultural

Pablo Barros lança seu 5º livro, “A Cura do Avesso”

Hoje radicado em Portugal, o escritor mineiro Pablo Barros está em BH para lançar seu 5º livro, "A Cura do Avesso"

Pablo Barros lança o novo livro no final de março, na Livraria Jenipapo (Rafael Pinheiro/Divulgação)

Patrícia Cassese | Colaboradora

Quase seis anos se passaram desde que o escritor, poeta e artista da dança belo-horizontino Pablo Barros, 45 anos, resolveu cruzar mais uma vez o Atlântico, desta vez para morar em Lisboa – antes, já havia residido em Paris. Neste intervalo, porém, por várias vezes ele pegou o avião de volta para passar períodos do ano aqui, em sua terra natal. Movimento que, aliás, repete agora, mas com um adicional e tanto. É que, nesta nova temporada em plagas mineiras, Pablo vai aproveitar para lançar seu mais recente livro, “A Cura do Avesso” (Editora Glaciar). A sessão de autógrafos será no dia 21 de março, na Livraria Jenipapo, na Savassi.

O evento de Belo Horizonte complementa a programação de lançamento da obra que, vale ressaltar, teve já realizados dois eventos em Lisboa, no ano passado. O primeiro ocorreu no dia 14 de novembro, na Livraria Travessa Lisboa, enquanto o segundo, no dia 10 de dezembro, na Casa Fernando Pessoa. Os eventos incluíram leituras de poemas feitas tanto pelo próprio autor como por convidados. E, ainda, o lançamento de um álbum musical inspirado nos textos de “A Cura do Avesso”.

O livro

O material de apresentação da obra traz a seguinte descrição: “Escrito entre 2019 e 2024, ‘A Cura do Avesso’ explora de forma sensível as vivências de Pablo Barros entre Portugal, onde reside desde 2019, e o Brasil, seu país de origem. A obra reflete temas como pertencimento, cura e transformação pessoal, criando uma ponte emocional entre os dois continentes. Através de uma linguagem íntima e poética, o autor convida o leitor a embarcar numa jornada de autodescoberta e ligação entre culturas”.

Na foto acima, a capa do livro, o quinto lançado pelo mineiro Pablo Barros (Editora Glaciar/Divulgação)

Para saber mais sobre a nova obra, a reportagem do Culturadoria conversou com o autor. Confira, a seguir, alguns trechos do bate-papo!

O início

De acordo com o material de divulgação do novo livro, ele configura-se como uma imersão poética nas experiências e transformações por você vividas entre Portugal e Brasil. Pedimos, pois, que Pablo nos especificasse um pouco mais… “Então… Quando viajei para Portugal, em 2019, fui inicialmente para organizar o lançamento do meu livro anterior – “O Esteio do Meio” – lá. Acabou que várias coisas aconteceram e, assim, acabei já ficando em Lisboa. Então, esse livro (“A Cura do Avesso”) fala muito desse período, dessa adaptação”.

Antes de seguir em frente, Pablo faz um parêntese para lembrar que, no curso desses quase seis anos, sempre volta ao Brasil. “Quando é inverno lá (hemisfério norte), venho para passar o verão aqui. Então, já são muitas idas e vindas. Minha vida hoje é lá, mas tenho sempre em mim a referência daqui. Portanto, é muito aprendizado, lá e aqui. Muito entendimento das nossas próprias raízes, o que, acho, a gente não entende com tanta clareza até estar lá – me refiro ao que temos, na nossa cultura, da deles, e da própria língua”.

Influências

A escrita dele também foi se transformando por conta de outras influências. Neste ponto da entrevista, Pablo Barros cita seu apreço por Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 – 2004), para citar um exemplo. “Gosto muito da obra dela, que fala muito sobre o mar. E meus textos também falam muito deste tema, das navegações. E, veja, acaba que (organicamente) se formou um triângulo interessante (na vida dele), entre a Bahia (onde Pablo morou), que foi onde os portugueses chegaram ao Brasil; Lisboa (país no qual ele hoje reside), Alentejo e Algarve, de onde saíram as grandes navegações; e o Rio de Janeiro (onde ele residiu por anos), que foi a primeira capital do Império, e com ligação muito forte com Portugal”.

Autoconhecimento

Mas sim, o livro também fala de processos pessoais vivenciados por Pablo. ‘Então, ‘A Cura do Avesso’, na verdade, revela também um processo de autoconhecimento e de cura mesmo. A gente se cura do próprio caminho que nos trouxe até aqui. Acho esse aspecto muito interessante, e que trouxe sutileza ao livro. Há, nele, alguns poemas mais melancólicos, outros são muito de encontro. Assim como outros falam de cura, que é um processo do crescimento, porque é a cura de nós mesmos. O caminho que nos trouxe até aqui, ele é infinito. Quando chega o momento no qual você acha que resolveu alguma coisa, na verdade, está abrindo uma outra porta. São ciclos”.

O mar enquanto metáfora

Na entrevista, Pablo também enaltece a sua forte relação com o mar, o que transparece nos poemas. “Na verdade, o livro todo ecoa muito essa ligação com a natureza. Com o próprio mar e com o mar como uma metáfora para os desafios que a gente enfrenta. No caso, as navegações são o nosso próprio caminho. O enfrentar de dificuldades, o entender que, assim como a natureza tem ciclos impermanentes, a nossa vida também. Que a gente tem que encarar a vida com esse olhar de impermanência”.

O escritor ressalta, ainda, um outro aspecto que, afiança se conecta com o teor de sua escrita: o fato de ser budista. “Pratico o budismo há muitos anos. Portanto, muitos dos meus textos têm esse entendimento do ensinamento do lugar de sofrimento – pelo qual, claro, a gente não quer passar, mas que, por outro lado, nos ensina muito. Então, olhar para o sofrimento, encarar as nossas próprias vulnerabilidades, é uma forma de crescimento. Assim como uma forma de se conectar, de fato, com o outro, com a natureza e com a nossa própria essência”. Neste sentido, avisa, “A Cura do Avesso” traz a essência da palavra reencontro. “Por isso também quis muito fazer o lançamento em Belo Horizonte”.

Vinte anos de jornada

É que o lançamento da obra, aponta Pablo, marca também os 20 anos do início da jornada dele como escritor. “Então, é também um pouco a volta para casa, sabe? E acho que o livro traz muitos aprendizados que eu gostaria de dividir com pessoas que fizeram parte da minha vida por muitos anos. Sendo que com muitas delas eu não tenho mais contato já há muito tempo. Outras sim, volto a encontrar todas as vezes que venho aqui. Portanto, faço questão de poder reunir amigos e pessoas que fizeram parte dessa jornada lá no início”.

Confira, abaixo, outros trechos da entrevista, agora por tópicos

Vulnerabilidades

Um dos poemas pelo qual Pablo diz ter especial apreço é “Vulnerável”, por tocar em uma questão que ele entende como importante “da minha vivência e do meu entendimento, hoje, do mundo, das relações“. “O mundo que vivemos atualmente – de devices, das redes sociais e dos contatos -, na minha opinião, tem feito com que a capacidade de ser vulnerável, de estar vulnerável para o outro, de estar num lugar de vulnerabilidade, esteja se perdendo. Então, esses devices, as nossas relações, elas estão cada vez mais mediadas por essas ferramentas, que atuam como um escudo das nossas vulnerabilidades”.

No entanto, ressalta Pablo, a vulnerabilidade é uma das características que nos faz humanos. “É o que permite as trocas verdadeiras e mais profundas. Então, esse livro, esse poema, em especial, é um pouco isso. Esse chamado, de volta à capacidade de estar vulnerável e de sermos autênticos. De termos relações autênticas e não superficiais, que é o que pode trazer um pouco de conforto, um pouco de alegria. Porque nós estamos vivendo um momento no qual as pessoas estão perdendo a capacidade de se conectarem em mais profundidade. E isso tem levado a uma crise, a uma epidemia, de solidão e de (problemas de) saúde mental. Acredito que o oposto disso é a capacidade de estar mais vulnerável para o outro, para si mesmo, e, assim, estabelecer conexões mais profundas”.

“A Chave da Cela”

Um outro texto que Pablo destacaria é “A Chave da Cela”, que figura na página 80.

A chave da cela que trago costurada no peito; é a saída que habita no caos que se deu/ a chave daquele que morreu, livre que era/ Chave da cela, todo tempo a mão, que o olho não vê”

Com a palavra, Pablo: “Até falei deste poema no evento de lançamento na Casa Fernando Pessoa. Veja, nós temos toda a capacidade de sermos livres. E muitas vezes trocamos a nossa liberdade – de ação, de pensamento – por uma falsa segurança, para que a gente não sofra. Para que a gente não encare as questões que teria literalmente que encarar. Mas a chave da cela, a gente está sempre com ela. Estamos segurando a chave do lado de dentro da prisão. Assim, esse texto faz alusão a um outro texto do meu livro anterior, que também falava um pouco isso. Estamos segurando a chave para o lado de dentro”.

Essa tal liberdade

Pablo explana que, no seu entendimento, figuras históricas que a humanidade tem como referência, como Jesus Cristo ou Buda, são pessoas que eram extremamente livres porque entenderam isso. “Cristo, na verdade, se você for olhar como personagem, ele ‘precisou’ ser morto. Ele era muito livre. E a liberdade, ela dá medo nas pessoas. Então, o que a gente vê agora é toda essa onda de extrema direita. As pessoas, quando estão com medo, precisam de respostas fáceis. Precisam de um salvador, de respostas ou de culpar alguém”.

No entanto, ressalva que a real liberdade é quando as pessoas passam por isso tudo, mas vêm o diferente como uma possibilidade de construção. “Do mesmo modo, vêm as suas próprias diferenças, os próprios pensamentos, que não estão na ordem ordinária, como a capacidade de libertação de nós mesmos. Da nossa visão de mundo, que muitas vezes é muito fechada, muito cega. Então, de ver a realidade como ela realmente é e entender que o que importa na verdade não são as experiências, mas como a gente reage às experiências. Eu acredito que essa seja uma das possíveis saídas”, explana.

No entanto, Pablo Barros faz questão de frisar que está falando de sua experiência, de sua visão. Ou seja não coloca como verdade absoluta. Na verdade, ele entende como ser o papel de quem escreve – o escritor, o poeta – falar de sua própria experiência e, desse modo, tentar expressá-la como algo universal na esperança que aquilo possa tocar as pessoas. “E esse processo tem sido muito interessante, porque você não sabe quais são as pessoas que estão lendo e nem o que o que você escreveu está causando nelas. Mas isso também é interessante”.

Mais sobre o autor

Nascido em Belo Horizonte, Pablo Barros é mestre em Comunicação pela Universidade Sorbonne Nouvelle – Paris 3, além de ser escritor, performer e bailarino contemporâneo. Com quatro livros anteriores publicados no Brasil e na França, entre eles Fagulhas do Tempo e O Esteio do Meio, Pablo movimenta-se entre a poesia e a prosa poética, explorando temas universais de amor, pertença e transformação. Radicado em Lisboa desde 2019, tem participado em vários projetos literários e artísticos.

O parágrafo acima traz a apresentação de Pablo Barros que consta no material do novo livro enviado à imprensa. Ao Culturadoria, Pablo contou que morou em sua cidade natal até os “23, 24 anos”. Ainda aqui, escreveu seu primeiro livro, “No início Era o Verso” (Independente). Nele, repassava algumas experiências que tinha vivido. “Eu tinha passado por uma depressão, então, fala muito do aprendizado que eu tive na recuperação… É bonito. Hoje, olho para ele e vejo que, literariamente falando, não é tão bom”.

“Na verdade, quando a gente é jovem, tudo é muito muito hipérbole. Com o tempo, acho que a gente vai afinando a própria escrita. Desse modo, fica mais econômico, mais pontual, mais enxuto. E as metáforas, as construções, melhoram. A gente também aprende muito com os outros autores – e com a própria experiencia de vida mesmo. Com o lugar do silêncio, da economia, do saber”, reflete Barros.

França

Na França, Pablo morou por três anos e meio. Logo no início desta nova etapa, publicou, por lá, outro livro ainda escrito no Brasil, “O Amor nas Cidades / L’amour dans les Villes”. “Era o Ano do Brasil na França, e, aí, a gente montou um espetáculo sobre ele, com uma equipe multi-países. Era uma cantora e atriz italiana; eu, brasileiro, que também atuei, e o produtor, arranjador, metteur en scène, francês”. Por lá, o mineiro também lançou “Fagulhas do Tempo”.

Na sequência, Pablo voltou para o Brasil, tendo morado 13 anos no Rio de Janeiro. Só que, pouco depois, passou uma experiência que ele próprio diz ter sido traumática – com uma infecção fortíssima, foi medicado de forma errada, como conta. “Na verdade, estava muito estressado. Trabalhava demais, era diretor de marketing e de vendas de uma empresa. Foi quando decidi dar um tempo em tudo”.

Recuperação

Ao mesmo tempo, Pablo se deu conta de que o seu tempo no Rio de Janeiro tinha acabado. “Assim, fui para Trancoso, na Bahia, onde passei um ano, me recuperando, mas já com a ideia de voltar para a Europa”. E assim o fez. Hoje, ele trabalha para uma startup da Inglaterra, mas sem deixar de lado a escrita e a dança contemporânea. “Aliás, no período em que morei no Rio, também fiz uma formação com Angel Vianna (1928 – 2024)”. Lembrando que, antes do retorno à Europa, com destino a Lisboa, Pablo, como assinalado, tinha lançado, no Brasil, “O Esteio do Meio” (7Letras), que teve eventos de autógrafos no Rio, São Paulo e, claro, Belo Horizonte.

Serviço

Lançamento do livro “A Cura do Avesso” – Pablo Barros

Quando. Sexta, 21 de março de 2025, a partir das 19h

Onde. Livraria Jenipapo (Rua Fernandes Tourinho, 241, Savassi)

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