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“O túnel”, clássico do argentino Ernesto Sabato, traz retrato poderoso da paranóia humana

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Com trama alucinante “O túnel”, esta espécie de anti-romance policial ganha edição especial pela editora Carambaia

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

“O túnel”, primeiro livro do escritor argentino Ernesto Sabato, é uma espécie de anti-romance policial. Ou, digamos, um romance investigativo às avessas. Na primeira linha da narrativa, já saberemos o nome do assassino, Juan Pablo Castel – aliás, é ele quem nos narra sua trágica história. Na linha seguinte, descobriremos o nome de sua vítima, Maria Iribarne. Numa escrita vertiginosa, Ernesto Sabato nos empurra em queda livre numa trama alucinante que, por mais que já saibamos de antemão sua trágica conclusão, não deixa de nos instigar e, até mesmo, surpreender. O clássico, publicado originalmente em 1948, ganha edição especial pela Carambaia, com tradução de Sérgio Molina.

Ernesto Sabato autor de O túnel (foto Paco Campos)
Ernesto Sabato autor de O túnel (foto Paco Campos)

Uma busca desenfreada

“Quando comecei este relato, estava firmemente decidido a não dar explicações de nenhuma espécie. Tinha vontade de contar a história de meu crime e ponto: quem não gostasse que não lesse”. 

Um pintor se descobre completamente obcecado com uma figura feminina, ao vê-la observando um dos seus quadros em uma galeria. Mais do que a mulher em si, o que o fascina, primeiramente, é a maneira como ela olha, como ela parece enxergar profundamente, além da própria obra exposta na parede. A partir daí, uma busca desenfreada o colocará no rastro dessa mulher fugidia, até que o reencontro finalmente aconteça. 

Se a descoberta da identidade e a construção de um laço com a mulher poderia apaziguar a mente e o corpo do homem, quanto mais ele se vê envolvido com ela, mais distante ela parece ficar da figura idealizada por ele. Uma relação obsessiva com Maria Iribarne o levará às últimas consequências. Ao não corresponder às expectativas de Juan Pablo Castel, a personagem se vê cada vez mais próxima da inexistência, levando-a ao ato final perpetrado pelo obcecado artista.

“Meu cérebro é um fervedouro, mas quando fico nervoso as ideias se sucedem nele como em um vertiginoso balé; apesar disso, ou talvez por isso mesmo, fui me acostumando a governá-las e a ordená-las rigorosamente; se assim não fosse, acho que não tardaria a enlouquecer”.

Retrato da paranoia humana

“O túnel” traz uma construção inebriante. Quanto mais nos vemos mergulhados nos demônios internos deste personagem, mais buscamos conhecer a fundo o verdadeiro tormento que é a mente do homem. Juan Pablo Castel narra, em breves capítulos, o encontro e a escala obsessiva na relação com Maria Iribarne, numa espécie de investigação íntima dos passos que o levaram até o momento presente, um declarado assassino. Ernesto Sabato faz um retrato poderoso da paranóia humana, onde o túnel que atravessa uma mente entregue à loucura, à fúria e ao ciúme leva a um caminho sem saída. “Existiu uma pessoa que poderia me entender. Mas foi, justamente, a pessoa que matei”.

O túnel (Carambaia)
O túnel (Carambaia)

Encontre “O túnel” aqui

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural. Escreve sobre literatura aqui no Culturadoria e também em seu Instagram: @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel)

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