Por Alexandre Policarpo Pabllo Vittar
‘Não Para Não’ é o segundo álbum de uma das drag queens mais famosas do mundo. Nesse disco, Pabllo Vittar se reafirma enquanto potência ao pop brasileiro e resistência junto às origens populares dos nossos ritmos.
Para começar, precisamos dar uma definição e uma explicação ao conceito “pop”. É aquele ritmo chiclete, com base eletrônica. Tem fácil apelo do público. Isso também varia de acordo com a localidade, o contexto social e a temporalidade em que está inserido.
O pop com o qual temos contato hoje é predominantemente internacional?—?melhor dizendo, norte-americano. Mesmo no Brasil, artistas se usam das mesmas técnicas gringas para fazer algo semelhante. Ligamos uma rádio pop, jovem, e estamos em um universo em que letras em inglês, batidas parecidas e melodias recorrentes dominam, sendo brasileiras ou não.
Esse estilo não é de todo eliminado no novo álbum de Pabllo Vittar. Apesar de ‘Problema Seu’ ter sido o primeiro single, que remete muito ao mencionado pop internacional, a cantora conseguiu integrar as demais melodias do disco às brasilidades tradicionais.
Faixa a faixa
A música de abertura, ‘Buzina’, é a que teria um maior potencial de se adequar ao estilo pop gringo, com seu ritmo eletrônico e sua letra que remete a dança, festa, “tentação, emoção, fritação”. Porém, Pabllo não se rendeu. Decidiu incluir a aparelhagem, característica do tecnobrega paraense?. Foi explicitamente antecedida pelo verso “Aperta o cinto que o brega vai tocar”.
Logo depois começa ‘Seu Crime’. Mais uma vez, Pabllo Vittar passa seu recado, como se dissesse “sou do pop, mas sou brasileira”. A música começa com um ritmo levemente dançante. Isso é típico de alguns eletrônicos internacionais (como em ‘Titanium’, da parceria entre David Guetta e Sia). A surpresa vem no refrão, na hora em que a música deveria estourar: em vez de apenas soltar batidas comuns à dance music, ritmos do forró cearense são inseridos ao trecho “Seu crime foi me amar”.
O forró não para por aí. No mesmo estilo de ‘Seu Crime’?—?metade eletrônica, metade forró?—?, uma sanfona é sutilmente inserida em ‘Não Vou Deitar’, o que dá uma cara brasileira à música que também tinha de tudo para ser um pop tradicional.
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Autenticidade
A mais autêntica música do CD é ‘Disk Me’, em que Pabllo sai do seu lugar-comum e entra, pela primeira vez, no sertanejo universitário. A música é uma “sofrência” superchiclete, com estrofe A, refrão, estrofe B e um bis de refrão. Dá para imaginar uma participação com Simone e Simaria… aí é que a música não sairia das paradas de sucesso das rádios brasileiras, mesmo.
Mas, se o bom é agradar a gregos e troianos, a drag queen ainda deixa um popmais tradicional no seu álbum. ‘Miragem’ e ‘No Hablo Español’ trazem ritmos com quês de angolano e flamenco, respectivamente. Essa adequação e junção de diferentes estilos musicais é comum ao pop internacional, cuja definição está em pauta aqui.
O trap de ‘Vai Embora’, com participação de Ludmilla, e de ‘Ouro’, com participação de Urias, se une ao dance de ‘Trago Seu Amor de Volta’, com participação de Dilsinho, para trazer o mais genuíno pop ao disco?—?sem malabarismos, nem brasilidades.
Participações
Coincidentemente ou não, as músicas que têm participações de outros cantores não contam com grandes inserções dos nossos ritmos tradicionais. Pabllo as deixou para ser só suas, muito provavelmente por suas pessoais influências musicais. Natural de São Luís, a cantora passou parte da infância no Maranhão e no Pará. Foi onde esteve em contato com ritmos relacionados ao forró, ao carimbó e ao tecnobrega.
‘Não Para Não’ é um exemplo de como um ritmo popularmente norte-americano pode ser readequado para nosso contexto brasileiro, inserindo, sutilmente, símbolos da nossa cultura local, tradicional, folclórica e popular nas músicas pop?—?gerando, assim, uma produção diferente da que já foi feita. Não é a primeira vez que Pabllo Vittar se usa dessas estratégias, mas, com a composição desse álbum, ela reafirma seu posto de artista pop essencialmente brasileira.
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