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“O livro do xadrez” e o mundo em conflito de Stefan Zweig

“O livro do xadrez” foi a última obra escrita pelo austríaco Stefan Zweig. O autor enviou o trabalho para seu editor na véspera de seu suicídio, cometido junto com sua esposa Lotte, em 1942, no Brasil.

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“O livro do xadrez” foi a última obra escrita pelo austríaco Stefan Zweig. O autor enviou o trabalho para seu editor na véspera de seu suicídio, cometido junto com sua esposa Lotte, em 1942, no Brasil.

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

Nesta breve novela, Zweig escreve sobre um campeão mundial de xadrez e outros homens aficionados pelo jogo de tabuleiro. Os personagens estão a bordo de um navio que parte de Nova York em direção à Buenos Aires. Mas há muito mais aqui. Nesta pequena – apenas em tamanho – obra-prima, o austríaco escreve sobre a guerra, a violência, o nazismo e o autoritarismo. 

Stefan Zweig. Foto: Eric Schaal)
Stefan Zweig. Foto: Eric Schaal)

“Conhecia por experiência própria a atração misteriosa desse ‘jogo dos reis’, que de todos aqueles inventados pelo homem é o único que escapa, soberano, à tirania do acaso, e cujos prêmios são atribuídos apenas ao intelecto, ou melhor, certo, talento intelectual.”

Há muito da biografia do próprio Stefan Zweig nas linhas – e nas entrelinhas – de “O livro do xadrez”. Por exemplo, o autor era um praticante do esporte. Há também o tema do exilado. Ou seja, Judeu, Zweig percorreu um trajeto de exílios, em um mundo em guerra, até chegar ao seu derradeiro destino, Petrópolis. Antes de desembarcar no Brasil, ele passou por Londres e por Nova York.

No livro, embarcamos neste navio que parte também dos Estados Unidos com destino a uma cidade da América do Sul. A bordo está um personagem com sua própria história de fuga pela sobrevivência.

Reflexões

A partir da figura do xadrez, o autor reflete sobre o nazismo, seu autoritarismo, a violência física e psicológica do regime. Este é um jogo onde estratégias são necessárias para se alcançar um objetivo, ou seja, a derrota, a capitulação do oponente, do inimigo. A novela apresenta dois enxadristas brilhantes, com perfis bem distintos: o campeão mundial de xadrez Mirko Czentovic e o misterioso Dr. B. Conhecemos os caminhos trilhados por esses homens em direção ao xadrez, as motivações que os levaram para a prática do jogo.

Vemos na narrativa de Zweig o xadrez como possibilidade de resistência, como ferramenta para a manutenção da lucidez frente ao isolamento. Ou seja, o jogo como uma chance de movimento, de fuga, quando o universo ao redor se restringe a um diminuto ambiente de confinamento. Por outro lado, há também o uso do jogo como espaço para causar o sofrimento alheio, e extrair prazer disto, da derrota do outro. Em resumo: duas forças estão em combate, uma força criadora e outra força destruidora. 

“O livro do xadrez” desenvolve personagens repletos de camadas, não-arquetípicos do bem ou do mal: seus comportamentos e características se deslocam do que é esperado pelo leitor a partir da apresentação inicial destes. Num texto de leitura deliciosa – daqueles difíceis de largar – o austríaco nos entrega uma pequena-grande jóia sobre a primeira metade do século XX e a Segunda Guerra Mundial. Trabalho que permanece muito atual, quando a barbárie segue sendo uma estratégia repetida neste jogo de tabuleiro chamado mundo.

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Capa do livro "O livro do Xadrez". Crédito: Fósforo Editora
Capa do livro “O livro do Xadrez”. Crédito: Fósforo Editora

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural, sempre gasta metade do seu horário de almoço lendo um livro. Seu Instagram é @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel/)

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