
Nath Rodrigues. Foto: Carlos Hauk/Divulgação
Nath Rodrigues ainda está na fase em que as palavras escapam quando fala sobre Fractal. Natural. Esse que é o primeiro disco da carreira acabou de sair. Chegou às plataformas de streaming no dia 9 de julho e, assim, ela que canta desde criança, experimenta aos 28 anos algo novo. Falar sobre o próprio disco é algo bem diferente de criar.
“O disco sintetiza o caminho todo. Ele vem sendo construído mesmo antes de eu me assumir como cantora e compositora”, conta. Já faz tempo que Nath navega pelas ondas da arte. Por isso ela usa o verbo “assumir” para falar de sua vertente cantora. E que cantora, viu!!! Explore o disco e rapidamente vai ser dar conta da potência dela. Uma voz límpida, afinada, que harmoniza perfeitamente com um repertório que associa ancestralidade com contemporaneidade, em letras e arranjos.
Raízes
A música foi a expressão que sempre fez parte do núcleo familiar mais próximo de Nath. Mas foi a tia Alcione Ferreira quem fez o primeiro convite para que participasse do coral infantil em Sabará, onde vivem os pais. Aí nunca mais parou.
“A primeira coisa que fiz na vida foi cantar e não tocar um instrumento”, diz em um tom surpreso. Isso porque Nath Rodrigues a ainda não havia parado para pensar nas fronteiras das linguagens artísticas na vida dela. Bem, se é que essas fronteiras existem.
Para a mídia, o nome dela começou a aparecer como instrumentista. Um detalhe curioso: no teatro. Nath Rodrigues começou a carreira trabalhando com grandes nomes da arte negra com atuação em Minas Gerais, como João das Neves (1935-2018) e Maurício Tizumba, por exemplo. Fez parte do elenco de peças como Clara Negra, Zumbi, Dom Quixote e Madame Satã, essa dirigida por João com o Grupo dos Dez.
Sendo assim, o teatro acabou por proporcionar à Nath uma vivência mais ampla dos processos criativos. “Na prática isso foi abrindo meu pensamento para a música”, conta. Inicialmente canções que nasciam mais conectadas com a cena. “O teatro mudou a minha forma de escrever”.

Foto: Mirela Persichini
Fractal
A escolha de Fractal para dar nome ao primeiro disco tem a ver com o que a palavra significa. “São os vários pedacinhos que tem semelhança com uma matriz principal”, explica. Sendo assim, a Nath Rodrigues que hoje aparece no disco, vem do teatro, da militância cultural, da arte educação.
A carreira nos palcos já mantém desde 2010, quando se mudou de Sabará para Belo Horizonte para cursar Educação Musical na UEMG. Atualmente, além da carreira solo, a artista participa, por exemplo, do coletivo Negras Autoras, formado por Manu Ranilha, Júlia Tizumba, Elisa de Sena e Vi Coelho. Também é uma das responsáveis pela coluna Lugar de Mulher, que era um veiculada na Rádio Inconfidência e agora se prepara para se tornar uma websérie.
A experiência junto a estes coletivos fez com que Nath Rodrigues amadurecesse o pensamento sobre o que é ser uma mulher, negra em 2019. “Eu queria subverter um pouco esse lugar do que se espera da mulher negra hoje. Quero falar de outras coisas que ampliassem essa visão”, diz.
Autonomia
Sendo assim, cada música de Fractal reúne um fragmento sobre o que Nath pensa sobre o mundo. Uma característica marcante do álbum, segundo ela, é a autonomia de cada música diante do todo. São onze faixas, todas autorais. O cantor e compositor Chico César participa de Embolado, Engolido e, Maíra Baldaia de Minúcias. De acordo com a cantora, o disco é um exercício de se olhar no espelho e pensar em tudo que a constitui.
Nath conta que depois que descobriu o significado de fractal, começou a ver isso em diversas situações. De acordo com ela, até uma pedra é o resultado o tempo. Em resumo, o disco também diz sobre conexões. “Essa conexão da gente enquanto sociedade, indivíduo, parceiros afetivos. Sinto muita coisa com isso e é justamente por isso é um disco tão íntimo”.
Shows
Com Fractal pronto, Nath Rodrigues começa a temporada de shows. Somente esta semana em Belo Horizonte serão dois. Acompanhada por Hadassa Amaral (bateria), Camila Rocha (baixo), Débora Costa (percussão) e Verônica Zanella (guitarra) faz lançamento oficial do disco no dia 19 de julho, 21h, no Teatro Sesiminas, com participação de Maíra Baldaia.
A cantora também será uma das atrações da Virada Cultural, no dia 21, às 13h, no Palco da Rua Caetés.
[culturadoriaads]