O projeto passeia por todas as décadas desde os anos 20, abrangendo múltiplas facetas do cinema mineiro.
Por Caio Brandão | Repórter
A produção cultural em Minas Gerais é riquíssima, e isso não é novidade para ninguém. Nesse sentido, o cinema mineiro se encaixa com facilidade nessa dinâmica, erguendo várias obras de extrema importância ao longo das décadas. Assim, dentro desse contexto, se encontram, também, obras de diretores estrangeiros que foram cativados pelo estado, e decidiram vir para Minas para realizar os respectivos projetos.
Em 1923, houve o primeiro registro de um longa não apenas em Minas Gerais, mas em todo o Brasil: o filme “Canção da Primavera”, de Igino Bonfioli, e Ségur Cyprien. Desse modo, para celebrar o centenário desse marco cultural, será realizada, nos dias 1, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 12 e 23 de novembro, no no MIS Santa Tereza, a mostra “Minas Gerais em 10 décadas: um século de cinema mineiro”, contemplando diversas obras e diretores que foram importantes dentro desse ecossistema.
“O filme Canção da Primavera foi o grande motor desse projeto, já que ele é considerado o primeiro longa-metragem mineiro e está completando 100 anos em 2023. Inclusive, vários pesquisadores o consideram o primeiro longa-metragem brasileiro que se tem registro no Brasil, porque vários foram perdidos com o tempo. Pensando nessa marca de um século, busquei, nesse recorte de tempo, filmes que traduzem bem a experiência de filmar em Minas Gerais e de ser mineiro, mas que também têm um impacto universal, o que me motivou a englobar, ainda, diretores que vieram de fora, mas filmaram em Minas. Assim, temos um retrato amplo, não-redutor e diversificado do cinema feito no estado”, explicou Marcelo Miranda, crítico de cinema e coordenador geral da mostra.
Abraçando a amplitude
O Brasil é um país imenso, de dimensões continentais. Dessa forma, cada estado possui um território que equivale a um país inteiro em várias outras partes do mundo, fazendo com que um território como Minas Gerais contenha uma diversidade cultural ampla dentro, apenas, das próprias dependências. Sendo assim, essas facetas que marcam o cinema mineiro podem ser percebidas dentro da mostra.
Marcelo conta que, durante o processo de curadoria, esse fenômeno foi observado. “Existem alguns aspectos que marcam o cinema mineiro. Um deles é a pluralidade que existe em Minas Gerais. Nesse sentido, estamos falando de um estado muito grande, com muitas formas de abordagem. No caso da mostra, isso se faz presente pelas tensões afetivas presentes em várias das obras selecionadas, tensões entre personagens de núcleos pequenos. Essa dinâmica se dá, justamente, por Minas ser um estado de grandes dimensões, mas muito nuclear, socialmente falando. Então, esses impactos aparecem um pouco disfarçados, já que, na ficção, o mineiro tende a esconder os próprios confrontos, e isso pode ser sentido nos filmes presentes na mostra. E isso é apenas um exemplo do que é explorado dentro dessas obras”.
Reflexos dos próprios tempos
Indo além das questões de territorialidade, existem aspectos que se manifestam partindo do panorama sociocultural vigente nas épocas nas quais cada obra foi produzida. Dessa forma, ao longo de 100 anos, a quantidade de perspectivas presentes nos filmes aumenta, tendo em vista as mudanças que ocorreram na sociedade com o passar do tempo.
Marcelo explica que as narrativas se alteram fundamentalmente em cada recorte. “Percebo que os filmes se adaptam às linguagens e estéticas dos próprios tempos. Então, nos anos 70, por exemplo, temos tramas mais ousadas, mais eróticas, mais combativas, por conta do contexto histórico… Nos anos 30, temos, também filmes do Humberto Mauro, que abordam uma questão mais rural, olhando para um Brasil interiorano em um momento de gênese do cinema brasileiro”.
“Nos anos 50, já existe uma presença maior do melodrama. Posteriormente, quando passamos para os anos 2000, já é possível identificar um aumento na variedade de perspectivas sobre Minas Gerais. Nesse sentido, vamos desde um cinema hegemonicamente branco, masculino, que vai se transformando, ao longo dos anos, em tramas mais populares, com presenças mais expressivas de outros corpos, outras sensibilidades, outros gêneros, e assim por diante”, completou.
O pioneirismo de “Canção da Primavera”
O grande destaque da mostra é o filme “Canção da Primavera”, tido como o primeiro longa-metragem do cinema mineiro, bem como do cinema nacional. Nesse sentido, a obra ditou várias tendências, influenciando diretamente o que seria um dos maiores marcos do audiovisual brasileiro: as telenovelas. O filme será exibido no dia 23/11, ás 16:30, no Cine Santa Teresa.
Marcelo destaca, então, a visão ímpar presente no longa-metragem, que fez com que ela se tornasse imprescindível para a produção cultural no Brasil. “É um momento de reconhecer o pioneirismo dessa obra. É um filme que raramente é exibido em cinemas e que é imensamente importante para o audiovisual brasileiro. Estamos falando, assim, de uma obra que se configura como a gênese da telenovela no Brasil, um melodrama do início dos anos 20, quando não existia televisão. Existe também a presença marcante da mineiridade, pois o filme se dá em uma fazenda, um contexto rural, além de ter todos os elementos clássicos das novelas, como os encontros e desencontros românticos, o amor errado, as trocas de casais, as paixões proibidas… Então, Canção da Primavera é uma obra que tem totais condições de encontrar um público renovado”.
Programação completa
Quarta-feria, 01/11
16h – “Bang Bang”, de Andrea Tonacci. 1971, Policial/aventura, 80 min. Classificação: 12 anos
17h35 “Baronesa”, de Juliana Antunes. 2017, Drama, 70 min. Classificação: 14 anos
19h “No Coração do Mundo”, de Maurílio Martins e Gabriel Martins. 2019, Drama,120 min. Classificação: 16 anos
Sábado – 04/11/2023
16h – “Menino Maluquinho – O Filme”, de Helvécio Ratton. 1995, Infantil, 81 min. Classificação: Livre
17h40 – “Elon Não Acredita Na Morte”, de Ricardo Alves Jr. 2016, Suspense, 75 min. Classificação: 16 anos
19h10 – “Cabaret Mineiro” (sessão comentada), de Carlos Alberto Prates Correia. 1980, Aventura/Romance, 68 min. Classificação: 16 anos
Domingo – 05/11/2023
16h – “Sangue Mineiro”, de Humberto Mauro. 1929, Drama, 75 min. Classificação: 12 anos
17h30 – “Andarilho”, de Cao Guimarães. 2007, Documentário, 80 min. Classificação: Livre
19h10 – “Enigma Para Demônios”, de Carlos Hugo Christensen. 1975, Suspense, 97 min. Classificação: 16 anos
Terça Feira – 07/11/2023
16h – “A Vida Provisória”, de Maurício Gomes Leite. 1968, Drama, 84 min. Classificação: 16 anos
17h40 – “Sagrada Família”, de Sylvio Lanna. 1970, Drama, 80 min. Classificação: 12 anos
19h10 – “O Canto da Saudade”, de Humberto Mauro. 1952, Aventura, 96 min. Classificação: Livre
Quarta Feira – 08/11/2023
16h30 – “Vinho de Rosas”, de Elza Cataldo. 2005, Drama histórico, 103 min. Classificação: Livre
19h – “O Viajante”, de Paulo César Saraceni – 1998, Drama, 117 min. Classificação: 16 anos
Quinta Feira – 09/11/2023
16h30 – “A Falta Que Me Faz” (sessão comentada), de Marília Rocha. 2009, Documentário, 85 min. Classificação: 12 anos
19h – “Idolatrada”, de Paulo Augusto Gomes. 1983, Drama, 90 min. Classificação: 18 anos
Sexta Feira – 10/11/2023
14h – “Argila”, de Humberto Mauro. 1940, Drama, 90 min. Classificação: Livre
15h45 – “Vida de Menina”, de Helena Solberg. 2003, Drama, 90 min. Classificação: Livre
17h30 – “Exilados do Vulcão”, de Paula Gaitán. 2013, Drama/Romance, 130 min. Classificação: 14 anos
Domingo – 12/11/2023
19h – “O Homem do Corpo Fechado”, de Schubert Magalhães.1973, Faroeste/Aventura, 91 min. Classificação: 18 anos
Quinta – 23/11/2023
16h30 – “Canção da Primavera”, de Igino Bonfioli e Cyprien Ségur. 1923, Drama/Romance, 128 min. Classificação: Livre