Literatura

Maria Firmina dos Reis e Nísia Floresta: duas mulheres pioneiras na literatura e na educação

Maria Firmina dos Reis e Nísia Floresta, duas escritoras e educadoras brasileiras ainda pouco conhecidas em nosso país. Foto: Acervo Revista Cult Uol e Luis Carlos Freire via Wikimedia Commons

No mês das mulheres, vamos enaltecer a vida de Maria Firmina dos Reis e Nísia Floresta, duas escritoras e educadoras brasileiras ainda pouco conhecidas em nosso país.

Por Rosa Maria Lorenzin

Maria Firmina dos Reis, escritora e professora, nasceu no Maranhão há 200 anos, em 11 de março de 1822. Mulher, negra, nordestina, Firmina enfrentou vários preconceitos e lutou muito para superar os obstáculos que a vida lhe impôs.

Mais do que lutar, Firmina foi além: é considerada a primeira romancista brasileira. Foi, também, a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público para o cargo  de professora primária do estado do Maranhão. Além disso, criou a primeira escola mista para meninas e meninos em terras maranhenses, fato considerado um escândalo para a  época.

Como se não bastassem tantas realizações, ainda era ativista da causa abolicionista e do movimento feminista (em pleno século XIX!). Tanta ousadia lhe rendeu uma homenagem em uma praça de São Luís, sendo a única mulher dentre os bustos que homenageiam importantes escritores maranhenses. 

Firmina escreveu o romance Úrsula (1859), o primeiro livro publicado por uma mulher negra em todos os países de Língua Portuguesa. Precursor da temática abolicionista na literatura brasileira, Úrsula traz na história uma crítica à escravidão. Segundo Régia Agostinho da Silva, professora da Universidade Federal do Maranhão e autora do artigo “A mente, essa ninguém pode escravizar: Maria Firmina dos Reis e a escrita feita por mulheres no Maranhão”, os personagens escravos descritos por Firmina “são nobres e generosos. Estão em pé de igualdade com os brancos e, quando a autora dá voz a eles, deixa que eles mesmos contem suas tragédias”. 

Como era costume na época em que viveu Maria Firmina, quem era aprovado em concursos desfilava pelas ruas da cidade de São Luís montado nas costas de escravos. Mas, ao ser aprovada no concurso para o magistério, a escritora recusou-se a fazer esse desfile, afirmando que escravos não eram bichos para levar pessoas montadas neles.

Outra pioneira: Nísia Floresta

Nísia Floresta, assim como Maria Firmina dos Reis, também era nordestina, escritora, educadora e foi pioneira na educação feminista e defensora de ideias abolicionistas. Nascida no Rio Grande do Norte em 12 de outubro de 1810, foi a primeira mulher a publicar textos em jornais da época. Dirigiu um colégio para meninas na cidade do Rio de Janeiro e escreveu diversas obras em defesa dos direitos das mulheres, índios e escravos.

Pintura de Nísia Floresta Brasileira Augusta - Luis Carlos Freire via Wikimedia Commons
Pintura de Nísia Floresta Brasileira Augusta – Luis Carlos Freire via Wikimedia Commons

No ano de 1831, publica em um jornal pernambucano uma série de artigos sobre a condição feminina. Em 1832, é lançado seu primeiro livro: Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens. A partir de 1847, passa a dedicar-se mais à escrita de textos voltados para a área da educação. 

Funda no Rio de Janeiro em 1838 o Colégio Augusto, de propostas pedagógicas consideradas revolucionárias para a época. O colégio era voltado para a educação de meninas e mesclava o ensino tradicional feminino (ensino de costura, culinária, etiqueta) com o ensino de matérias como  ciências, línguas, história, religião, geografia, educação física, artes e literatura. Tal ensino, que deixava o ensino para as atividades domésticas de lado, despertou a ira da sociedade machista, a ponto de sair uma crítica num jornal com a seguinte pérola: “Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos.”

Maria Firmina dos Reis e Nísia Floresta são exemplos de mulheres à frente do seu tempo, ousadas e destemidas, que merecem nossos aplausos e reverências não apenas no mês em que as mulheres são homenageadas, mas para todo o sempre. Ainda pouco conhecidas pelo público brasileiro, as vidas e as obras dessas duas autoras precisam ser estudadas e amplamente divulgadas para que o Brasil as conheça e preste o devido reverenciamento a elas.

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Publicado por Rosa Maria Lorezin | Culturadora

Publicado em 11/03/22

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