Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

O encantador “Conduzindo Madeleine” está em cartaz no Cineart Ponteio

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Dirigido por Christian Carion, o filme francês “Conduzindo Madeleine” traz Dany Boon e Line Renaud em uma viagem de táxi que mudará a vida dos dois

Patrícia Cassese | Editora Assistente 

No curso do tempo, a produção cinematográfica francesa sempre foi muito bem acolhida na capital mineira, com exibição garantida em cinemas hoje já extintos, como o icônico Pathé. Infelizmente, porém, nos últimos anos, o número de salas que se dispõem a exibir os títulos produzidos naquele país foram se escasseando. Assim, um filme como “Conduzindo Madeleine”, que estreou nesta quinta-feira, ocupa, por aqui, apenas um horário – 19h15 – em apenas uma sala – do Cineart Ponteio, no Ponteio Lar Shopping.

Line Renaud e Dany Boon em cena de "Conduzindo Madeleine" (California Filmes/Divulgação)
Line Renaud e Dany Boon em cena de "Conduzindo Madeleine" (California Filmes/Divulgação)

Uma pena, pois o longa de Christian Carion – que havia sido exibido em sessões pontuais no Festival Varilux – teria potencial para atrair um bom público. Inclusive, repetindo a performance de “O Sabor da Vida”, com Juliette Binoche, que, desde a estreia, tem atraído muita gente às salas por onde vem sendo exibido.

Ranzinza

“Conduzindo Madeleine” centra-se no encontro fortuito entre um motorista de táxi – Charles (Dany Boon) – e a Madeleine do título (Line Renaud, conhecida do público brasileiro pela participação divertida na série “Dix Pour Cent”, da Netflix), uma senhora de 92 anos. Na verdade, a corrida é oferecida a ele pela central de uma cooperativa de táxis justamente por ser bastante longa. Portanto, financeiramente vantajosa – e Charles está precisando (muito) de dinheiro, por estar inclusive com dívidas.

Mas Madeleine não é a primeira passageira a embarcar no táxi de Charles no filme. Logo de início, ele atende a um executivo, cujo pedido – para não fazer o trajeto solicitado pela margem do Rio Sena – é por Charles simplesmente ignorada, rabugente que é. Além da situação financeira precária, também ficamos sabendo que Charles está na iminência de perder a Carteira de Habilitação. Por isso, todo cuidado na direção é pouco, pois ele não pode se dar ao luxo de cometer infrações e, assim, perder mais pontos.

Muita história para contar

Quando a corrida com Madeleine aparece no horizonte do ranzinza taxista, por meio da já citada operadora da cooperativa, ele chega a hesitar em assumi-la: afinal, a passageira pretende nada menos que cruzar a cidade. Mas, como a atendente da central informa que ele poderia deixar o taxímetro ligado o tempo todo, Charles se convence, meio a contragosto. O personagem é tão, mas tão impaciente que, logo que chega à residência de Madeleine, ao não vê-la de imediato na porta, mete a mão na buzina, sem perceber que, na verdade, ela já estava ali, no outro lado da rua, aguardando-o.

Não demora muito e, já tendo embarcado, Madeleine Keller tenta puxar conversa com seu condutor, sem lograr êxito, de início. Conta, por exemplo, que sofreu uma queda e, assim, não poderá mais ficar sozinha na casa em que residia. Aos poucos, porém, Charles vai se rendendo à simpatia (e à insistência em estabelecer diálogo) da elegante senhora. E, tal qual, às histórias cativantes – e fortes – que ela tem para contar. E essas passam por diferentes momentos de sua vida, como a juventude, quando frequentava as coxias dos teatros, por conta de a mãe atuar como figurinista.

Retorno ao passado

A essa altura, no filme, os momentos do percurso de táxi já se mesclam a cenas de reconstituição do passado de Madeleine, que, na juventude, é interpretada pela atriz Alice Isaaz. São cenas que, como cereja do bolo, surgem temperadas por uma trilha sonora de primeira, com músicas como “At Last”, de Etta James.

No vaivém temporal de “Conduzindo Madeleine”, a idosa, em dado momento, interrompe as reminiscências para pedir a Charles desviar a rota e passar por Vincennes, bairro onde, diz, no passado, residiu. No entanto, quando já está lá, não reconhece mais a geografia do local, que diz estar deteriorado, ‘feio”. Em uma parada, Charles vê Madeleine se deter diante de uma placa na qual há o nome do pai dela, executado por nazistas.

Sabor de mel e laranja

Madeleine não se furta a contar para o condutor sobre o impacto do primeiro amor, Matt. Tratava-se de um soldado norte-americano, cujo beijo, sustenta ela, tinha sabor de mel e laranja. A passageira revela que, quando ele se foi, de volta para sua terra natal, moveu céus e terras para encontrá-lo, até saber que, na verdade, já estava casado. No entanto, Madeleine revela que Matt lhe deixou um grande presente: Mathieu, o filho.

Já o relacionamento seguinte de Madeleine, também narrado por ela, dialoga com uma questão importante. Uma mazela que, embora tenha ganhado mais visibilidade nos tempos atuais (e que bom), sempre esteve ligada à história da humanidade: a violência doméstica. Inclusive, reverberando no filho dela, enteado do agressor. O jeito que a jovem encontra para dar um fim ao ciclo excruciante ao qual estava presa surpreende sobremaneira Charles. Mas, ao mesmo tempo, ela lembra que, naquela época, não existia, para a mulher, a possibilidade de se divorciar.

O “próprio patrão”

Aliás, o motorista, por seu turno, também acaba compartilhando fatos de sua vida. Em dado momento, a conversa inclusive contempla outro tema bem atual: a precarização do trabalho, minimizada pela impressão de “não ter um patrão”.

No fim, o filme mostra como um encontro ao acaso pode mudar para sempre a nossa vida. E como é importante a escuta, principalmente quando nos deparamos com pessoas às quais esse ato, a vida passa a negar. A solidão dos idosos é uma das várias questões que a sociedade atual precisa encarar.

Confira, a seguir, o trailer

Serviço

“Conduzindo Madeleine”
Em cartaz no Cineart Ponteio, inicialmente até 15 de maio, com sessão às 19h15

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