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Conheça a pianista Luísa Mitre, uma das poucas (e boas) compositoras na cena instrumental de BH

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Por Mariana Peixoto

Não fosse o convite do projeto Música Nova, a pianista Luísa Mitre, nome em ascensão na cena instrumental de Belo Horizonte, poderia continuar inédita como compositora. Segunda mulher a vencer, em 18 anos, o Prêmio BDMG Instrumental – e a primeira a vencer também na categoria melhor arranjo – ela se prepara para lançar álbum de estreia do Luísa Mitre Quinteto.

Sabia que em pleno 2018 ainda é raro encontrar mulher instrumentista com um trabalho autoral? “Na música erudita não é tão incomum, mas na popular, principalmente na instrumental, só tem homem. Acho que isto vem de uma herança antiga, de achar que a mulher tem que ser levada para o lado intuitivo, menos cerebral”, comenta Luísa.

Foto: Marina Mitre/Divulgação
Foto: Marina Mitre/Divulgação

Bem, no início de maio, ela fez bonito no prêmio. E não estava sozinha. As duas instrumentistas que saíram vencedoras do BDMG – a contrabaixista Camila Rocha e a vibrafonista Natália Mitre – são do quinteto de Luísa. O grupo – que se completa com a flautista Marcela Nunes e o baterista Paulo Fróis – está com ela há um ano.

 

Estreia do ‘Luísa Mitre Quinteto’ no Savassi Festival de 2017 – Foto: Leandro Couri

 

Até 2017 Luísa não havia pensado em se lançar como compositora. Desde 2011 integrando o Toca de Tatu, quarteto de música brasileira que tem o choro como principal referênciaela estava em meio a um mestrado em performance pela Escola de Música da UFMG (onde também se graduou) quando recebeu o convite do Savassi Festival.

Dentro do evento há o projeto Música Nova, em que compositores criam uma obra para ser apresentada no festival. Depois, ela é gravada – o primeiro álbum do Luísa Mitre Quinteto, que será lançado no Savassi Festival desde ano, é fruto deste processo.

 

 

O Bruno Golgher (criador do Savassi Festival) me falou na época como estava difícil encontrar mulher com trabalho autoral. Perguntou se eu não tinha algumas músicas. Eu disse que tinha, mas nunca tinha mostrado para ninguém, não botava muita fé.”

Pois ela topou a empreitada e preparou aquele que foi um dos maiores desafios da sua carreira. “Eu nunca tinha feito nada no meu nome, mas se não fosse isto, minhas músicas estariam guardadas até hoje”, conta Luísa. O show de estreia do Luísa Mitre Quinteto foi em agosto de 2017 no CCBB – um dia antes de sua defesa no mestrado.

 

Luísa Mitre e a irmã, Natália, quando eram crianças. Hoje, as duas tocam juntas – Foto: Cuca de Oliveira

 

A música brasileira sempre interessou a Luísa. Ela vem de uma família musical. É sobrinha do contrabaixista Kiko Mitre, e outros familiares, mesmo que não profissionalmente, sempre tocaram algum instrumento. Lembra-se que aos dois anos e meio pediu de presente de Papai Noel um piano. As primeiras aulas vieram aos 7; aos 11 começou a estudar música na UEMG. E na hora do vestibular, não houve dúvidas: Música.

Os questionamentos só vieram depois. “Quando entrei na faculdade, em 2008, eu queria continuar no piano, mas não tinha o curso de música popular. Então resolvi que ia estudar o popular por fora.” Dois anos mais tarde a UFMG criou o curso de música popular. “Gostava do erudito, mas não me via fazendo aquilo o resto da vida. É um curso que te prepara para ser solista, mas não para a vida real. A maioria dos alunos (de piano) quando sai, vai dar aula.”

Luísa começou a ter aula com o pianista Cliff Korman e em pouco tempo tomou a decisão. Largaria o erudito, mesmo faltando só um ano e meio para se formar. “Foi difícil, pois estudei erudito a vida inteira, meu professor (Miguel Rosselini) apostava muito em mim. Mas quando comecei a estudar os pianistas brasileiros, César Camargo, João Donato, me apaixonei. Era tudo o que eu queria.”

E é a música destes nomes que serviu de base para a carreira de Luísa. “Gosto do piano que soa bem brasileiro. Nunca fui de ouvir muito jazz, até acho que deveria enveredar para este lado, mas não gosto de improvisos longos. A estética que gosto é das coisas mais arranjadas, bem escritas.” O arranjo que ela fez para “Corrupião”, de Edu Lobo, no Prêmio BDMG Instrumental – incluindo temas de “Casa forte” e “Zanzibar” – encantou, de cara, a plateia do evento.

 

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Cinco pianistas que influenciaram Luísa

Ernesto Nazareth (1863 1934)

Suas composições e sua escrita pianística são elaboradas e inteligentes. Sua obra é considerada uma das bases do piano brasileiro. Deixou registros principalmente em forma de partituras, e foi através delas que comecei o estudo do choro e da música popular brasileira.

Radamés Gnattali (1906 – 1988)

Transitou entre a música popular e a música erudita. Sua obra, bastante extensa e versátil, influenciou muitos músicos como Tom Jobim. Meu grupo Toca de Tatu lançou um disco dedicada a ele, “Meu amigo Radamés” (2013).

César Camargo Mariano (1943)

Músico bastante versátil, trabalhou muitos anos com Elis Regina, além de muitos outros artistas. Uma das características que mais aprecio em seu jeito de tocar é o balanço (ou suíngue) e a desenvoltura em gêneros ritmados, principalmente o samba.

Egberto Gismonti (1947)

Pianista, violonista e compositor reconhecido internacionalmente, é uma grande influência para as gerações posteriores e uma das minhas principais referências. Instrumentista virtuose, explora muito a rítmica brasileira. Tem mais de 50 discos lançados em diversos países. Meu preferido é “Alma” (1986).

Cristóvão Bastos (1946)

É parceiro de Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, além de trabalhar em shows e discos de muitos artistas. Sua maneira de tocar é concisa e elegante, com muita habilidade inventiva de explorar os recursos do piano. É uma grande influência para mim, principalmente seu trabalho no meio do samba e do choro.

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