Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“O Último Pub”, de Ken Loach, é imperdível

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Anunciado como o último filme do cineasta britânico Ken Loach, longa-metragem está em apenas dois horários na cidade

Carol Cassese (Especial para o Culturadoria)

Em uma das cenas de “O Último Pub” (“The Old Oak”), o filme mais recente do cineasta britânico Ken Loach, a personagem Yara (Ebla Mari) fala de como, para ela, uma refugiada síria que chega à Inglaterra, é menos doloroso olhar para as situações horríveis que presenciou por meio de uma câmera. De pronto, é possível estabelecer um paralelo com a maneira com a qual o próprio diretor do filme enxerga o mundo, já que, ao longo de sua carreira, Loach optou por realizar filmes que retratam diferentes mazelas sociais – caso de “Eu, Daniel Blake” (2016) ou “Você Não Estava Aqui” (2019).

Ebla Mari interpreta uma jovem síria no filme de Ken Loach (Synapse Distribution no Brasil)
Ebla Mari interpreta uma jovem síria no filme de Ken Loach (Synapse Distribution no Brasil)

A nova produção do cineasta é um drama que explora a vida em uma comunidade do interior da Inglaterra, primordialmente afetada pelo fechamento de minas de carvão que garantiam o sustento de grande parte dos habitantes. No momento em que a narrativa se inicia, a chegada de refugiados sírios faz com que a dinâmica na comunidade fictícia focada por Loach se altere – em especial, por conta de um grupo violento que se recusa a aceitar os imigrantes, temendo a desvalorização dos imóveis.

No entanto, há também importantes manifestações de solidariedade no lugarejo. Caso do solitário TJ Ballantyne (Dave Turner), o personagem principal, que toca o pub do título. Já na primeira cena do filme de Loach, ele tenta defender Yara da agressão de um local. Aos poucos, em um movimento capitaneado por um voluntária, Laura (Claire Rodgerson), se empenha em mobilizar o entorno com o intuito de auxiliar os novos moradores. Não bastasse, está cônscio que os locais também sofrem com a pobreza.

Despedida

A importância de falarmos sobre o trabalho do diretor é evidente – e não apenas pelo fato de Ken Loach – que está com 88 anos e atua no cinema há mais de 60 – ter anunciado que “O Último Pub” será seu último filme. Mas, principalmente, porque as questões abordadas em várias de suas obras se configuram cada dia mais relevantes. Afinal, fenômenos como a uberização e a perda de direitos sociais (temas frequentemente discutidos em seus filmes) afetam diferentes partes do mundo contemporâneo, agravando desigualdades já existentes.

Além disso, o drama humanitário de imigrantes e refugiados, uma das questões centrais de “O Último Pub”, também pauta discussões em diversos locais do planeta. O tema é certamente relevante para as eleições estadunidenses de 2024, já que alas mais extremistas do Partido Republicano têm defendido teorias da conspiração que tratam da suposta (obviamente não comprovada) existência de um plano deliberado para “substituir” a população nativa de um país por imigrantes, de diferentes grupos étnicos ou religiosos. Tais discursos fortalecem ainda mais o preconceito sistêmico que essas populações precisam enfrentar ao chegarem num novo país.

Temática

Ao longo do filme, percebemos que as soluções para muitas dessas mazelas estão necessariamente associadas a um modo de vida comunitário, em que os moradores se esforçam diariamente para ajudarem uns aos outros. Ressaltamos que o tema do individualismo é central para várias das problemáticas abordadas nas obras de Loach. Em “Você não estava aqui”, por exemplo, um homem precisa trabalhar como entregador para sustentar sua família e sofre com os efeitos de um modo de produção cada vez voltado para o desempenho individual.

A partir de “O Último Pub”, também podemos refletir que, para certos nichos conservadores (muitos deles, também oprimidos), é muito mais cômodo jogar a fatura de seus problemas na conta dos que são ainda mais marginalizados. Desse modo, desviam-se dos reais responsáveis pela brutal desigualdade que permeia tanto oriente quanto ocidente. Estes, vale dizer, estão bem longe, possivelmente encastelados, isolados do “mundo real” e, pior, certamente concentrados em desenvolver novas estratégias de exploração.

Confira o trailer

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