Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“As Linhas da Minha Mão”, de João Dumans: um filme necessário

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Grande vencedor da Mostra Aurora do Festival de Tiradentes de 2023, “As Linhas da Minha Mão” se debruça sobre estados emocionais complexos

Grande vencedor da Mostra Aurora do Festival de Tiradentes de 2023, o filme “As Linhas da Minha Mão”, de João Dumans (codiretor de “Arábia”), entra em sua segunda semana em exibição na capital mineira, além de ampliar praças Brasil afora. Desse modo, nesta quinta-feira, dia 18 de abril, estreia nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus. O longa, vale lembrar, nasce a partir de uma série de encontros entre o cineasta e a artista Viviane de Cássia Ferreira. Neles, ela fala sobre a vida, trabalho e a experiência com a loucura.

Dumans explica: “Minha questão em relação à Viviane, minha percepção e fascinação por ela, estão muito relacionadas à clareza e a precisão com que ela é capaz de articular certas ideias sobre a vida e sobre a loucura”. O cineasta entende que, para tal êxito, Viviane se vale de um poder de síntese e de explicação de realidades e estados emocionais complexos. “Coisas que me parecem ser bem difíceis de formular. Seja em relação à loucura, à solidão, a questões afetivas e sexuais”, pontua o diretor de “As Linhas da Minha Mão”.

Sapos e Afogados

Atriz do núcleo Sapos e Afogados, um dos grupos teatrais mais importantes do Brasil na área de criação e saúde mental, Viviane se abre diante da câmera sobre questões delicadas. Neste sentido, ela aborda o próprio adoecimento, já que convive desde os 30 anos com o diagnóstico de Transtorno Bipolar. “’As Linhas da Minha Mão’ é sobre meu modo de existência. Um cinema do puro acontecimento”define Viviane Ferreira.

O filme nasce a partir de uma série de encontros entre o cineasta e a artista Viviane de Cássia Ferreira (Frame)
O filme nasce a partir de uma série de encontros entre o cineasta e a artista Viviane de Cássia Ferreira (Frame)

Já o cineasta Dumans entende que “o longa apresenta uma ética de vida muito particular de Viviane, sem oferecer receita ou saída”. Assim, prossegue ele, “As Linhas da Minha Mão” quer apresentar como que alguém, do interior do seu sofrimento, criou uma ética própria de vida para atravessá-lo e, desse modo, para produzir artisticamente”.

Temas intrincados

No filme, a artista também fala de forma aberta sobre a própria solidão e sobre a sexualidade, dois temas tabus para mulheres mais velhas na sociedade brasileira. No entanto, em “As Linhas da Minha Mão”, o faz de uma maneira leve, engraçada e cativante, o que leva as pessoas a se identificarem com a personagem. Tal qual, a perceberem essas questões de um ângulo diferente.

A depressão

Viviane Ferreira comenta: “Fico pensando na depressão como uma senhora fria e triste que vai ao nosso portão todas as manhãs, como diz o verso de uma banda da minha época. Na música, a pessoa sorri e manda ela ir embora. Tenho que fazer esse exercício diário”. Ainda de acordo com ela, a cada vez que consegue obter êxito, a sensação que vem é a de juventude. “Ou seja, de que tenho mais vida. Porque a depressão é o polo oposto, é a pulsão de morte. A euforia é uma pulsão de vida. No entanto, não posso ir para lá, nem para cá, tenho que ficar navegando”.

Rede de afetos

Nesse sentido, Viviane lembra que é importante ter pessoas em quem possa confiar. Afetos. “E dá certo. Normalmente, são pessoas mais jovens que eu. Gosto da força da juventude. Fui mãe muito cedo, aos 16 anos, e isso interfere… Parei tudo e fui criar minha filha. Trabalhei muito. E deu certo. Cada batalha que ganho da doença me deixa tão feliz… Isso me rejuvenesce um tanto”, conta a artista.

“Para mim, as coisas super se confundem, porque gosto mesmo de trabalhar. Nem me chamo de atriz, me nomeio ‘performer entre arte e vida’”, diz Viviane. Sendo assim, ela constata que, no trabalho que desenvolve, há uma verdade muito pessoal – “particular e subjetiva”. E o contrário também é verdade. “Quero que a minha arte reflita isso. Por isso foi muito legal o meu encontro com o João Dumans (em “As Linhas da Minha Mão”), porque ele se dispôs a isso”.

Ao fim, ela pondera que o mais quente da interpretação é a própria vida. “Isso se confunde o tempo todo, mesmo quando são só memórias. Nossas memórias estão cheias de vida”, compreende Viviane.

Sinopse

Por meio de uma série de encontros imprevisíveis, uma atriz fala sobre a experiência com a arte e a loucura. Dividido em sete atos, o filme “As Linhas da Minha Mão” é, ao mesmo tempo, o retrato de uma mulher e um estudo sobre as possibilidades desse retrato.

Confira, a seguir, o trailer

Serviço

“As Linhas da Minha Mão”

Cinemas e horários da exibição em BH

Una Belas Artes – Sessão às 13h50 (segunda, não abre)
Cinema do Centro Cultural Unimed BH Minas – 16h10

Na segunda-feira, dia 22 de abril, será exibido às 19h30, em sessão dupla com o curta “Material Bruto“, de Ricardo Alves Júnior (com a presença dele)

A produção é da Katásia Filmes; a distribuição, da Embaúba Filmes. 

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