Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“Os Bruzundangas” e a atemporalidade de Lima Barreto

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Em cartaz no CCBB BH até 19 de agosto, “Os Bruzundangas” adapta a obra homônima de Lima Barreto e marca estreia da Bruzun Company

Patrícia Cassese | Editora Assistente*

Já vinha de algum tempo a vontade de Renato Carrera em encenar um texto de Lima Barreto ((1881-1922). “No entanto, todas as adaptações que chegaram até a mim tinham um lugar dramático. E eu queria montar uma comédia satírica, que fosse para outro lugar. Me pergunta: ‘Será que o Lima Barreto não tem nada (nessa linha)’? Não era possível, pela história que ele tem”. E foi numa ida a uma livraria que, nas prateleiras dedicadas ao escritor, Renato percebeu um exemplar que está mais para fora que os demais. Era “Os Bruzundangas”. “Peguei, li e falei: ‘É esse! Achei’.

A comédia satírica musical “Os Bruzundangas”, dirigida por Dani Ornellas e Renato Carrera, está em cartaz no Teatro II do CCBB BH (Sabrina Pivato da Paz/Divulgação)
A comédia satírica musical “Os Bruzundangas”, dirigida por Dani Ornellas e Renato Carrera, está em cartaz no Teatro II do CCBB BH (Sabrina Pivato da Paz/Divulgação)

Só mais tarde Renato se deu conta que o texto nunca havia sido transposto para o teatro. Com a cara e a coragem, ele e Dani Ornellas decidiram dirigir a montagem que, até o próximo dia 19, cumpre temporada no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB BH. As sessões acontecem de sexta a segunda, às 20 horas. Detalhe: além de dirigirem o texto de Lima Barreto, os dois também compõem o elenco, junto a Hugo Germano e Jean Marcell Gatti. Ah, sim! Além do ineditismo da adaptação, a peça também marca o início da Bruzun Company, grupo que reúne os citados. A direção musical de “Os Bruzundangas” é de Maíra Freitas.

Temática

A peça “Os Bruzundangas” é apresentada como uma comédia satírica que bebe da fonte do teatro de revista. Assim, se propõe a apresentar a vida brasileira nos primeiros anos da Primeira República, incluindo números de vedetes, questões políticas e canções. Tudo isso tendo, como calço, uma dramaturgia que foi formatada por meio das várias crônicas de Lima Barreto que trazem a temática social brasileira sob um viés político.

Leitura

Na verdade, voltando ao citado momento da descoberta do exemplar da obra de Lima Barreto na livraria, Renato explica que, ali, naquele momento, não sabia as dificuldades que estavam por vir. “O livro é de crônicas. Logo fiquei com vontade (de montar), mas com a incógnita: ‘Como fazer isso no palco?'”. Assim, propôs aos demais atores para começarem a empreitada com muita antecedência em relação à data dos ensaios. Praticamente, quatro meses antes. “Primeiramente, vieram as leituras do livro, em voz alta, conjuntamente. Para tal, fazíamos encontros semanais nos quais líamos a obra inteira”.

“Ali, já ia anotando e percebendo o que era interessante para cada voz, embocadura, personalidade”, situa o ator e diretor. Depois, Renato assume ter se enfurnado com suas anotações, bem como voltou a ler o livro. “Daí me aprofundei nos questionamentos que cada ator tinha colocado durante a leitura”. Já nos ensaios propriamente ditos, outros questionamentos emergiram – e não só por parte dos atores e diretores, como também dos demais envolvidos na produção.

Atualidade

O ator Jean Marcell Gatti ressalta a atualidade do texto de Lima Barreto, que, na verdade, ressalva foi escrito cem anos atrás. A opinião dele é partilhada por Hugo Germano, que acrescenta: “O espetáculo tem a coisa da sátira, da comédia satírica. A gente vai na leveza, mas também apontando os problemas do Brasil. Afinal, a Bruzundanga é o nosso Brasil. Então, o espectador assiste à peça com a pulga atrás da orelha. Daí, vai para casa e certamente vai repensar algumas coisas. Como, por exemplo, o que está fazendo desse Brasil através do seu voto, através da sociedade na qual está inserido, do olhar que tem pelo subúrbio etc”.

Para ele, parte importante (“e significativa”) da montagem é quando o exemplar livro é levado para a plateia. “Que, assim, lê a palavra do Lima Barreto. Lê o texto, ali, e vê que o que o escritor falava cem anos atrás é a mesma coisa hoje. Então, é momento de repensar algumas coisas. Essa é a importância do nosso Lima Barreto para o nosso Brasil”. Aliás, Hugo Germano cita outro momento que considera especial da peça, que ele chama de a parte do voto. “Na qual você passa a se questionar em quem vai votar, e se esse candidato vai de fato te representar. Neste ponto, penso na minha família, bem como nos que já se foram e nos que virão”.

Já Dani Ornellas, atriz e diretora de “Os Bruzundangas”, entende que sua missão como atriz, como mulher negra (“retinta”), é “iluminar lugares nos quais a nossa sociedade, a escola, não chega”. “Se a pessoa que assistir à peça sair do teatro sabendo um pouco mais de Lima Barreto, se a montagem despertar nela o desejo de conhecer mais a palavra deste escritor, já deu certo”.

(*com material de divulgação do espetáculo)

Serviço?

Espetáculo Os Bruzundangas

Onde. CCBB BH – Teatro II (Praça da Liberdade, 450)

Quando. Até 19 de agosto, de sexta a segunda, às 20h

Quanto. R$ 30 (inteira), e R$15 (meia). A meia é válida para estudantes, professores, profissionais da saúde, pessoa com deficiência (e acompanhante, quando indispensável para locomoção), maiores de 60 anos e clientes BB com cartão Ourocard. À venda no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria física do CCBB BH. 

Duração: 90 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

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