
Cena de O Irlandês. Foto: Netflix/Divulgação
O Irlandês, o primeiro filme que o diretor Martin Scorsese faz para o catálogo da Netflix estreou com explosão de estrelas da crítica especializada. Isso, lógico, eleva qualquer expectativa. Então, o primeiro aviso para quem se animar a dedicar 3h29 minutos de seu tempo ao filme é ter paciência. Principalmente porque tem sido cada vez mais difícil conseguir largar o celular para se concentrar na televisão. Nesse sentido, o ritual do cinema colaboraria para o estado de presença.
De todo modo, no meu ponto de vista, há um excesso. Mesmo vendo Robert De Niro em uma das melhores performances da carreira, assim como Al Pacino, Joe Pesci e outros. O Irlandês prende a atenção quando falta cerca de 90 minutos para acabar. Entendo que Scorsese calculou tudo isso. É como se fosse, inclusive, uma afronta ao ritmo do cinema contemporâneo.
Aliás, haverá algum detalhe naquele filme que não foi calculado? Por isso, caro leitor, espere até o fim pois a meia hora final faz valer a pena.
O longa começa com um plano sequência. O espectador não sabe ao certo se entramos com a câmera em um hospital ou coisa parecida. É, na verdade, uma casa de repouso onde encontramos Frank Sheeran (Robert De Niro). Dali em diante, o roteiro de Steven Zaillian para o livro de Charles Brandt dá saltos no tempo para contar a história da máfia americana. Vamos combinar que Martin é fera em filme de gângster. Embora não seja meu gênero favorito, é fácil reconhecer a maestria no desenvolvimento da trama.
Elementos secundários
Ao longo das duas primeiras horas, como as costuras daqueles homens não prendiam minha atenção – sim, amigas, é um filme de homens – comecei a me encantar com os detalhes. O primeiro deles, como tem figurante nesse longa! São muitos e o trança trança parece ter sido ensaiado.
Então, se você se distrair do elemento principal da cena, veja como o diretor trabalha a presença de quem está ali para compor a cena. Ele é rigoroso.
Aí, à medida em que você vai reparando os detalhes, a direção de arte começa a ganhar relevo. O Irlandês é sério candidato a levar as categorias técnicas do Oscar 2020. O cuidado estético aparece em tudo. Observe como a fotografia trabalha os tons de azul em perfeita sintonia com os elementos, inclusive os figurinos. Isso sem dizer no rejuvenescimento dos atores.
Trama
Frank Sheeran (Robert De Niro) é conhecido como “O Irlandês”. Ele foi caminhoneiro antes de se tornar o homem de confiança de Russell Bufalino (Joe Pesci). Prestava alguns serviços também para Jimmy Hoffa (Al Pacino), líder sindical envolvido com artimanhas políticas daquela época. Entram aqui, pinceladas sobre os bastidores da política daquela época, anos 1960.
Os dois terços iniciais de O Irlandês são dedicados a mostrar as relações da máfia. No terço final, Scorsese abre espaço- ainda que bem sutil – para reflexões sobre finitude. E isso aparece, principalmente, no olhar de Frank. Aliás, é um olho que também vai perdendo o brilho com o tempo. Como é forte o silêncio de todas as mulheres desse filme. Em especial, das filhas de Frank.
No fim das contas, O Irlandês acabou me emocionando por ser um filme que faz refletir sobre o envelhecer. Sobre as escolhas feitas ao longo da vida. Sem julgamentos, afinal de contas, é um filme de gângster.

Joe Pesci e Robert De Niro em O Irlandês. Foto: Netflix/Divulgação