Cinema

“Homem com H” celebra a coerência e a complexidade de Ney Matogrosso

Filme dirigido por Esmir Filho, com atuação marcante de Jesuíta Barbosa, retrata o artista em sua seriedade, liberdade e coerência artística

Homem com H Foto Marina Vancini

A cinebiografia Homem com H, dirigida por Esmir Filho, tem um mérito fundamental: nasce com o aval direto do biografado. Ney Matogrosso não apenas autorizou, mas, de certa maneira, acompanhou de perto o processo, conferindo ao roteiro um grau raro de autenticidade. O resultado é um filme que emociona ao retratar um dos artistas mais singulares da música brasileira sem abrir mão da densidade que sua trajetória exige.

O corpo como extensão da arte

A interpretação de Jesuíta Barbosa é um dos pontos centrais da obra. Mesmo sem semelhança no rosto evidente com Ney Matogrosso, o ator entrega uma performance corporal tão precisa que, em cena, seu corpo parece se fundir ao do artista que interpreta. O trabalho de caracterização e de expressão física é minucioso — e talvez esteja aí uma das maiores virtudes do filme.

Também chama atenção o esmero da direção de arte, com reconstituições de época que situam bem cada fase da história. O filme opta por um recorte específico da vida de Ney, evitando a armadilha da linha do tempo exaustiva e apostando em uma narrativa que privilegia atmosferas e relações.

Entre a rigidez e a liberdade

Um dos aspectos mais marcantes do retrato proposto por Esmir Filho está na complexidade da personalidade de Ney Matogrosso. Ao mesmo tempo em que se apresenta como um homem de postura séria e contida, Ney também revela-se um artista radicalmente aberto à experimentação — com o corpo, a voz e os afetos. O filme reconhece essa multiplicidade e a transforma em força dramática.

Nesse sentido, a relação com o pai, interpretado por Rômulo Braga, ganha destaque. O roteiro se detém com delicadeza nos conflitos e reconciliações entre os dois, sem apelar para sentimentalismos. A forma como essa relação se desenha e se encerra no filme acrescenta uma camada emocional densa à narrativa.

A importância da preservação da memória

Mais do que contar uma história de vida, Homem com H reforça a importância de registrar a trajetória de artistas fundamentais da cultura brasileira enquanto ainda estão em plena atividade. Ney Matogrosso, hoje com mais de 80 anos, segue em turnê, se apresentando em estádios com a mesma coerência artística que o filme evoca.

Filmes como esse são documentos. Guardam, celebram e transmitem a memória de quem moldou parte do imaginário nacional. E é por isso que Homem com H não apenas comove — ele também afirma: essa história precisa ser lembrada.

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Publicado por Carol Braga

Publicado em 29/05/25

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