Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Gorete Milagres festeja 30 anos da personagem Filomena

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A atriz Gorete Milagres está de volta a BH, onde participa da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança com “Filomena – 30 Anos de Peleja”

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Plena. Essa foi a palavra mais usada pela atriz Gorete Milagres para definir o momento atual – como profissional e como mulher. E é assim, feliz e realizada, que ela apresenta, dentro da 49ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, o espetáculo “Filomena – 30 anos de Peleja”. Em cena, a popular personagem que, como o nome da peça indica, está completando três décadas em atividade. O início de tudo aconteceu precisamente no dia 30 de maio de 1994, no extinto (e saudoso) Bar do Lulu, localizado no bairro Santo Antônio.

Filomena, a famosa (e querida) personagem criada pela atriz Gorete Milagres (Leandro Furia/Divulgação)
Filomena, a famosa (e querida) personagem criada pela atriz Gorete Milagres (Leandro Furia/Divulgação)

“Filomena – 30 Anos de Peleja” terá a primeira apresentação na Campanha já neste domingo, dia 28, no Grande Teatro do Sesc Palladium, às 17h. Depois, na terça-feira, dia 30, às 20h, no mesmo local. E, finalmente, no sábado, dia 3 de fevereiro, no Teatro Sesiminas. A direção é de Carloman Bonfim. Em entrevista ao Culturadoria, Gorete Milagres, hoje com 60 anos, falou não só da personagem, mas da carreira em geral, dos novos projetos e da vida pessoal. Confira!

Situação das domésticas

Primeiramente, pedimos a Gorete Milagres para traçar um paralelo entre o momento em que Filomena emergiu, há três décadas, com a realidade que ela vê hoje, no Brasil, envolvendo as empregadas doméstica. “Olha, a Filomena saiu há 30 anos da roça com os dentes podres, e foi para a cidade grande. Na verdade, ela chegou em Belo Horizonte com o sonho de ir para São Paulo. Em BH, fez o pezinho de meia, mas ainda assim chegou em São Paulo com os dentes podres. E era real aquilo ali. Havia muitas pessoas como ela”, opina.

Mas Filomena foi vencendo por meio do trabalho como doméstica. “Assim, tratou os dentes. Claro, teve uma ajudinha de um patrão, e de uma outra pessoa, bem humanista. Mas lutou muito e teve momentos de glória, chegou a montar uma agência de emprego, foi uma microempresária”. Mas Gorete cita um momento chave no exercício da profissão aqui, no Brasil: o PEC das domésticas.

Novos tempos

Assim, com a alteração, a realidade das domésticas no Brasil mudou. Muitas profissionais perderam o emprego, já que os patrões não queriam assumir as novas obrigações previstas em lei. “Claro, muitas pessoas continuaram nos empregos, essas que já trabalhavam com patrões de alto padrão social e financeiro. Mas muitas foram demitidas. Os patrões não queriam pagar os encargos, então, elas viraram diaristas”. Dentro desse universo, Gorete ressalta que muitas não recolhem o INSS. “Desse modo, o sonho da aposentadoria vai ficando cada vez mais longe”.

Para Gorete, as diaristas que passaram a trabalhar duas vezes por semana para os ex-patrões têm que trabalhar muito mais. “Assim, todos os dias da semana. Algumas folgam só no domingo ou nem isso. Veja, elas até podem ganhar mais, mas também trabalham mais e ficam mais distantes do sonho da aposentadoria. Então, essa é a realidade atual de muitas domésticas no Brasil. Aliás, eu vou falar sobre isso também no espetáculo. Esse é um momento muito caótico (para muitos trabalhadores)”.

Trabalho análogo à escravidão

Acima de tudo, Gorete Milagres diz ser esse o universo real das várias Filomenas espalhadas pelo país. “Muitas empregadas sofrem muitos abusos. E veja que volta e meia ainda se noticia a descoberta de pessoas em situação análoga à escravidão. Então, a Filomena vai passar um pouco de tudo isso. É o que vou tentar mostrar no espetáculo”.

Livro

Em 2012, Gorete Milagres lançou um livro – “Filomena, Minha História” – que, diz, foi “ditado por Filomena”. “Porque eu, Gorete, sou uma das patroas da Filomena. E ela ditou porque era analfabeta – hoje não é mais”. O universo do livro, repassa, era o da própria infância da atriz. “Eu sou tataraneta, bisneta, neta e filha de fazendeiros, então, encontrei várias mulheres empregadas domésticas nessas fazendas todas, da minha vida”, diz Gorete, que nasceu em Conselheiro Lafaiete.

Filme

Ela conta que o livro lançado em 2012 teve uma trajetória feliz, dado que foi adotado em escolas destinadas ao público infantojuvenil. Certo dia, ela deu um exemplar da obra para um roteirista que conheceu em Jericoacoara. “E ele é sócio da Miração Filmes e levou para lá. O Sergio Roisenblit leu o livro também e me convidou para fazer um filme. Eu assinei contrato com eles, nós inscrevemos um projeto para escrever o argumento pela Lei Paulo Gustavo, assim, estamos esperando o resultado”, diz Gorete. “Mas, ao mesmo tempo, fizemos um acordo: se não entrar for aprovado, vamos escrever de qualquer forma e tentar fazer o filme”.

“Eu e Eles”

Na pandemia, Gorete fez uns quadros, esquetes, sobre a vida sexual dos pais, “Eu e Eles”. “É que meus pais tiveram 14 filhos – aliás, eu sou a 14ª. Então, na nossa família não havia tabu para falar sobre sexo. A gente conversava sobre o tema na mesa de jantar. Acho que foi uma forma que o meu pai e a minha mãe combinaram para criar os filhos – principalmente, pelo fato de terem tido sete filhas. Assim, chegaram na velhice com uma comicidade muito grande sobre a vida sexual deles. A minha mãe, ela ficou 70 anos com o meu pai, mas, na verdade, o sonho dela era se separar dele. Porém, não conseguia. Ela falava que, naquele tempo, “não se usava”. Então, suportou muita coisa, como traições. Mas, no final da vida, meu pai morria de ciúmes dela. E ela sempre amou demais o meu pai”.

Stand up

Gorete Milagres avisa que, em breve, quer fazer um stand up. “Eu quero costurar quem eu sou, através dos meus pais. E também quero incentivar mulheres a serem quem eu sou hoje. Hoje, sou uma pessoa livre. Eu tive quatro casamentos, mas, atualmente, sou uma mulher livre. Sobrevivi a quatro separações de grandes amores de vida – com dois deles eu tive filhos”. Assim, ao todo, ela passou 29 anos da vida casada. “E eu tive forças para me separar, ao contrário da minha mãe”.

No entanto, Gorete conta que, na iminência das separações, sempre ouvia da família: “Não, dá mais uma chance, olha suas filhas, vai ser ruim, a separação”. Debalde. “Tive coragem de me separar e hoje me sinto uma mulher muito plena. Estou num momento de solitude. Não é que eu esteja totalmente sozinha, tenho amores líquidos. Vivo como se não houvesse amanhã. Assim, quero fazer um stand up para incentivar mulheres que não estão felizes a saírem de relacionamentos abusivos, a exorcizar os maridos”.

Feliz, dentro da solitude

Da mesma forma, Gorete quer, cada vez mais, vou divulgar o destino turístico Jericoacoara para essas mulheres que se sentem presas em relacionamentos falidos. “Para que elas possam viver felizes, passarem uma temporada lá. Dançar forró, conhecer homens do mundo inteiro (como os velejadores, que constantemente passam por lá). Neste dois anos, eu me inspirei muito por Jeri e estou pensando em costurar esse stand up e aconselhar mulheres a serem livres e felizes, dentro da solitude”. Mas a atriz avisa: “Vou precisar de tempo (para ter o material pronto)”. Mesmo porque, em meio a tudo isso, ainda há a agenda da Filomena. “Mas sim, vou começar a fazer pequenos ensaios, inclusive com vídeos, para ver se este stand up fica pronto rápido. Porque acho importante as mulheres descobrirem a força que têm”.

TV

Gorete Milagres conta que, por ora, não tem nenhum trabalho engatilhado na TV. “Fiz a Band, foi um trabalho muito importante. Afinal, tinha 17 anos que não fazia a Filomena na TV, só no canal no YouTube. Mas, infelizmente, não foi um programa que teve força para ir para uma segunda temporada. Infelizmente mesmo. Então, não tenho nenhum trabalho agora na TV, mas estou morrendo de vontade de ter um namoro com alguma TV de Minas. E fazer alguma coisa por aqui”, revela.

A vida em Jeri

A temporada de dois anos em Jericoacoara, conta Gorete Milagres, foi nada menos que maravilhosa. Neste período, aliás, ela fez sete mudanças de casa. “E foi muito… Uau! Eu tive muito trabalho, foi muito exaustivo. Sendo que um ano eu fiquei entre lá e São Paulo, fazendo a Band. Mas foi muito mágico. Jeri é um lugar lindo, maravilhoso, de uma energia muito boa, de muita alegria, de muita dança. E eu amo dançar”.

Aliás, ela descobriu que, dançando, consegue meditar, descansar a mente. “Assim, passei momentos maravilhosos. Minha casa vai muito bem, virei uma super hostess, implantei meu negócio – a Casa Milagres. Foi cansativo demais, mas valeu muito a pena. Claro, tive um arquiteto, um construtor muito bom. Em um ano e meio, eu construí três casas e montei o negócio. Agora, terceirizei, treinei os funcionários, deixei uma equipe lá e e voltei para a capital mineira”.

Moradas

Gorete Milagres voltou a morar em BH e diz que a capital mineira será o ponto de apoio para viajar pelo Brasil. Mas, claro, nunca deixará de lado as idas a Jeri, para visitar o negócio. Tal qual, rever o lugar “que amo”. “Então, minha residência fixa vai ser BH e Jeri, e está muito bom. Lá, no Ceará, recebo muitos hóspedes estrangeiros, outros brasileiros. As pessoas amam o lugar, tem uma vista maravilhosa, de 360 graus, dunas, montanha. Morar em Jeri foi um grande presente da minha vida, de grande relevância para a mulher que sou hoje. Mas, por outro lado, descobri que o meu lugar no mundo também não é lá, e, sim, no palco. Tenho uma vontade imensa de voltar ao palco e fazer o outro rir, porque é isso que alimenta a minha alma”.

Prazeres

Perguntada sobre as atividades que mais gosta de fazer fora do palco, nos momentos de lazer, ela nem titubeia. “Dançar, dança (diz, com um tom de voz esfuziante). Eu amo dançar. E amo paquerar! Dou curso de paquera, o meu stand up vai ter curso de paquera. Com ele (curso), as mulheres tímidas arrumam uns paqueras, beijam na boca, é uma delícia. Eu me diverti muito fazendo isso em Jeri. Adoro dançar e paquerar…”

Gorete Milagres hoje

“Como falei, estou me sentindo muito plena. Plena, no momento de muita maturidade. Passei muita coisa na vida, na carreira, Ave Maria. Agora estou num momento no qual todo mundo sabe quem eu sou, de onde eu vim, o que eu passei, o que foi bom, o que foi ruim. Assim, acho que estou em um momento de plenitude”. Gorete acrescenta que é muito bom chegar em um momento como o que está vivendo, com a idade que tem. “E com a certeza do que eu quero pra mim e para a minha vida”.

Não só. “Descobri um lugar no mundo que gosto”, diz, referindo-se, mais uma vez, a Jericoacoara. Mas ela também se declara a Minas Gerais. Além de BH, Gorete diz amar Lapinha da Serra. “Quero fazer um cantinho pra mim lá, além do de Jeri e em BH. Quero trabalhar. A mulher que eu sou hoje é uma mulher que quer trabalhar, e viver do meu trabalho”.

Até o fim

A criadora de Filomena revela que quer trabalhar até a hora de morrer. “Igual à minha mãe… Minha mãe trabalhou, trabalhou, trabalhou. Meu pai faliu, minha mãe reconstruiu a família fazendo comida para fora. Trabalhou muito e teve uma velhice digna, fruto do trabalho dela e com os filhos ajudando”, diz Gorete. “E eu também ajudei muito, a minha família, minha mãe. Então, gostaria de ter uma velhice digna assim, de garantir o meu futuro numa casa de repouso bem animadinha, para poder dançar um forrózinho com rapazes bem mais jovens”, diverte-se. E conclui: “Ai, Deus! Essa é a mulher que sou hoje, tudo que penso para mim”.

Serviço

“Filomena – 30 Anos de Peleja”, com Gorete Milagres

,Apresentação neste domingo, dia 28, às 17, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Depois, na terça-feira, dia 30, às 20h, no mesmo local. E, finalmente, no sábado, dia 3 de fevereiro, no Teatro Sesiminas (rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia)

Classificação: Livre

Duração: 85 minutos

Valor: R$ 25 (valor da venda nos postos Sinparc). Nas bilheterias do teatro, o preço segue a política de cada local.

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