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Gonçalo M. Tavares explora Europa oriental em novo livro

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Bucareste-Budapeste: Budapeste-Bucareste, de Gonçalo M. Tavares, apresenta três narrativas e personagens singulares

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

No novo livro do angolano radicado em Portugal Gonçalo M. TavaresBucareste-Budapeste: Budapeste-Bucareste, traçamos um percurso histórico e geográfico por capitais da Europa Oriental. Três breves narrativas compõem o trabalho. Com elas, Tavares cria histórias e personagens singulares. A ficção é permeada por importantes acontecimentos definidores na história não só destes países, mas do mundo, no século XX. 

Foto do autor Gonçalo M. Tavares. Foto: Nely Rosa
Foto do autor Gonçalo M. Tavares. Foto: Nely Rosa

No texto que dá nome ao volume, dois irmãos têm um plano para furtar uma volumosa estátua – de uma importante figura histórica – abandonada à própria sorte em um galpão. Eles querem cortar a cabeça. Assim, um atravessará a fronteira Bucareste-Budapeste com o crânio. O outro, por sua vez, levará o restante do corpo, como forma de tentar enganar os guardas da fronteira. Em paralelo, um filho vai até Budapeste buscar o corpo da mãe morta, para enterrá-la em sua terra natal. Assim que encontrá-la, ele deverá atravessar a fronteira no sentido contrário dos dois irmãos, Budapeste-Bucareste.

Gonçalo M. Tavares intercala os parágrafos das duas narrativas. Assim, cria uma progressão na expectativa do leitor quanto ao clímax das histórias. Ambos os corpos, a estátua degolada e o corpo morto em processo de decomposição, não poderiam atravessar a fronteira entre os dois países.

Exercício de gêneros

Um vampiro é o foco da segunda história, “A fotografia – história do Vampiro de Belgrado”. Mas Radislav Gunvaz Vujik é um vampiro diferente. Gonçalo desenvolve toda sua narrativa permeada pelo terror, para dizer dessa figura estranha e a maneira como ela se relaciona com o mundo. O autor trabalha algumas características do gênero para desenvolver a atmosfera do conto. Entre elas, por exemplo, a noite, a escuridão, a solidão.

Se eu disse que Vujik é um vampiro diferente, é porque ele não se interessa por sangue. Ao menos não aquele que escorre de um pescoço mordido. Ele é um devorador de fotografias. O autor diz aqui da nossa própria relação com as imagens, do consumo voraz em um mundo rodeado e saturado por elas.

Por fim, “Episódios da vida de Martha, Berlim” é a mais fragmentada – e menos narrativa – das três histórias. Nascida e criada na capital alemã, Martha se incomoda com a presença de estrangeiros na cidade. Para ela, por exemplo, são pessoas que não tem “a cor de Berlim” ou falam em idiomas incompreensíveis, com um discurso marcado pela xenofobia e pelo racismo. A pequena história da personagem encontra eco em uma maior, mais complexa, de uma cidade, de um país, de um continente.

Do micro ao macro

Os personagens de Gonçalo M. Tavares lidam com diferentes fantasmas. São espectros de períodos históricos que seguem reverberando ao longo das décadas. Por exemplo, os escombros da União Soviética, o racismo que é a base do nazismo, a cidade cindida por um longo muro. Em narrativas que aparentemente dizem do micro, o autor, na verdade, fala de acontecimentos macro, que fundamentam as histórias dos países onde se situam as narrativas e da Europa. 

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Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural, sempre gasta metade do seu horário de almoço lendo um livro.

Seu Instagram é @tgpgabriel

Capa do livro Bucareste Budapeste. Crédito: Oficina Raquel

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