Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Entenda como os filmes da pornochanchada marcaram a história do cinema nacional

Narrativas eram baseadas no humor, erotismo, temáticas amorosas e populares

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Na passagem para a década de 1970 surgia um gênero tipicamente brasileiro no cinema: a pornochanchada. Uma série de fatores contribuiu para a ascensão e o sucesso desse tipo de narrativa. Entre eles a influência das comédias populares da Itália, a liberação dos costumes entre 1960 e 1970 e a absorção desses pensamentos pelo cinema, além do baixo custo das produções.

À época, a denominação foi utilizada para todos os filmes de baixo orçamento, mal elaborados ou acabados. No entanto, a pornochanchada em si inclui roteiros marcados por piadas, erotismo, temáticas permeando a virgindade, conquistas amorosas e maior exibição do corpo feminino. Além disso, os títulos tinham duplo sentido. Cabe dizer, ainda, que o nome do gênero une pornô à chanchada, gênero anterior marcado pelo humor ingênuo e popular.

Críticas e principais nomes

É claro que o surgimento de narrativas tão pouco tradicionais chamaram muita atenção. Com a variedade de temáticas, a produção de pornochanchada criou uma verdadeira era de ouro no cinema brasileiro. Por exemplo, das 25 maiores bilheterias entre 1970 e 1975, nove foram de filmes pornochanchada. Além disso, os longas nacionais da época somaram 30% dos ingressos. Ou seja, cerca de 120 milhões de bilhetes vendidos. Isso incomodou as grandes distribuidoras, principalmente as dos EUA. 

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Sônia Braga no pôster do filme "A dama da lotação", de Neville d'Almeida. Crédito: Regina Filmes

Críticas pesadas vieram também de setores conservadores e grupos moralistas. Entre eles a censura da ditadura militar e críticos de cinema, que julgavam os filmes grosseiros, apelativos e vulgares. 

Entre os principais diretores estavam Reginaldo Faria, Alberto Pieralisi, Pedro Carlos Rovai e Antônio Calmon. Vale destacar também os alguns atores. Entre eles Vera Fischer, Matilde Mastrangi, Arlete Moreira, Elza de Castro, Sônia Braga e David Cardoso. Esse último conhecido como o “Rei da Pornochanchada”. 

O fim do gênero

Após anos de intensa produção, a pornochanchada começou a encontrar esgotamento na temática, estética e na economia. Com os constantes boicotes e cortes de financiamento, ficou cada vez mais difícil produzir. Além disso, o esgotamento se deu na época da crise econômica do fim da ditadura militar, o que afetou também as salas de cinema. Paralelo a isso, a ascensão da pornografia hardcore vinda dos Estados Unidos, ou seja, sexo explícito, tomou conta do mercado. Vários diretores brasileiros aderiram ao movimento. Então, a pornochanchada chegou ao fim. 

Em resumo, o gênero tipicamente brasileiro inovou nas formas de produção e narrativas do cinema nacional, popularizou ainda mais as histórias, mesmo com críticas, e expandiu o público. 

Principais filmes

Claro que não poderia faltar alguns dos principais filmes do período. A dama da lotação, por exemplo, de Neville d’Almeida, tem base no conto homônimo de Nelson Rodrigues. Conta a história de Solange (Sônia Braga) que, após ser violentada pelo marido (Nuno Leal Maia) na lua de mel, fica traumatizada e começa a se encontrar com vários homens desconhecidos. O filme é a sétima maior bilheteria do Brasil com mais de seis milhões de espectadores.

Além disso, os filmes Os paqueras, de Reginaldo Faria, Memórias de um gigolô, de Alberto Pieralisi, e Adultério à brasileira, de Pedro Carlos Rovai, são considerados os primeiros da pornochanchada. Trechos e os longas completos estão disponíveis no YouTube.

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Pôster do filme “Os paqueras”, de Reginaldo Faria. Ilustração de Ziraldo. Crédito: Produções Cinematográficas R.F. Farias Ltda.

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