Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Em “Navio pirata” BaianaSystem navega por ritmos e continentes sem perder sonoridade raiz

O trabalho é o primeiro ato do disco OxeAxeExu e passou pela Tanzânia, Jamaica e promete diálogo com mais ritmos atracando na América do Sul

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Se tem uma coisa que não combina com o grupo BaianaSystem é a mesmice. A banda não fez nenhuma apresentação virtual no último ano (nem pretende fazer). Entretanto, embarcou em uma pesquisa de ritmos e sonoridades que resultou no álbum OxeAxeExu. Ele é dividido em três atos. O primeiro é Navio pirata, lançado em 12 de fevereiro. Ainda em março, o grupo lança Recital instrumental e América do SolO trabalho chega dois anos após O futuro não demora (2019). Mostra o poder de reinvenção do grupo, muito bem feito por sinal. Tudo isso sem perder as raízes na guitarra baiana, percussão marcada e nas letras fundamentais que passam por críticas sociais, poesia e até mesmo religiosidade. 

Ancestralidade e religiosidade

O disco é uma verdadeira viagem. Parte da Bahia, passa pela África Oriental e chega de volta à América Latina. A primeira faixa de Navio pirata é Reza forte e conta com a participação de BNegão, parceiro de longa data. Letra e música unem elementos religiosos para falar de proteção e criticar a sociedade ditada por dinheiro. Outra curiosidade é que a música começa com um trecho de Cantata para alagamar, peça musical de 1979 de José Alberto Kaplan & Waldemar José Solha. Em seguida, Raminho dá continuidade com uma reza de Dona Ritinha acompanhada de uma guitarra. Ela é uma rezadeira do sertão paraibano e a oração foi retirada do documentário O ramo, de Breno César.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Russo Passaputo, vocalista, explica que o grupo buscou expressões africanas que não passassem por Europa ou Estados Unidos. 

navio pirata
Capa do disco Navio Pirata. Arte de Cartaxo a partir da obra 'The new brazilian flag #2', de Raul Mourão

 

Da Tanzânia à América Latina

É interessante como Navio pirata é um disco que se apresenta em nuances. Da agitação à calmaria de Dona Ritinha, o navio atraca na Tanzânia novamente com ritmo acelerado que une a sonoridade do BaianaSystem ao singeli music. Trata-se de um movimento/ritmo musical produzido nas ruas de Dar es Salaam, capital do país. Essa união ocorreu quando o grupo baiano conheceu o produtor Jay Mita, o cantor Makaveli e o agitador cultural Abbas Jazza pela internet. Dessa forma, Makaveli e Jay Mita participam diretamente da música Nauliza, que traz, inclusive, versos em suaíli, língua local da cidade. Além disso, a referência oriental na sonoridade é evidente, já que a Tanzânia é um país com grande influência do Oriente na África.

Rota

No meio do caminho, a cantora Céu também marca presença no disco. Ela participa da faixa O que não me destrói me fortalece. A canção, mais uma vez, mostra como o BaianaSystem e a cantora transitam entre diferentes sonoridades. Isso porque a faixa está baseada no dub, um gênero de música eletrônica jamaicana e derivado do reggae. 

Chapéu Panamá encerra o disco com o som do BaianaSystem que já conhecemos dos trabalhos anteriores. Após uma viagem que passou pela África Oriental e pela Jamaica, por exemplo, o primeiro ato abre caminho para a chegada na América do Sul. Os atos Recital Instrumental e América do Sol, que completam o disco OxeAxeExu chegam em 5 e 26 de março respectivamente. 

Em resumo, Navio pirata reflete a face característica do BaianaSystem dialogando com culturas, línguas e sonoridades distintas. Tudo isso resulta em uma música que revela novas possibilidades sonoras tanto para o grupo quanto para o público que não vê a hora de explodir em um show presencial da banda. No entanto, o que resta para todos é aguardar e aproveitar o novo projeto que promete, já que a primeira parte está excelente. 

 

Navio pirata
Arte do disco Navio Pirata. Arte de de Cristiano Rafael

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