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Chico Felitti lança biografia de Elke Maravilha

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Chico Felitti explora todas as camadas e trajetória desde personagem, e desta mulher incrível em “Elke: Mulher Maravilha”

Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura

“Essas biografias normalmente são um saco, chatas demais”, diz Elke Maravilha para Chico Felitti. Falou em uma das entrevistas realizadas por ele com a artista há 15 anos. Em 2006, ainda estudante de jornalismo, Chico pretendia realizar um perfil biográfico da jurada televisiva como trabalho de conclusão de curso na faculdade. Quando ligou para ela pela primeira vez solicitando uma conversa, a resposta foi: “É claro, criança”.

Foto de Elke Maravilha. Foto: Daryan Dornelles
Foto de Elke Maravilha. Foto: Daryan Dornelles

Dessa maneira, apesar dos encontros e do material gravado, como TCC, o projeto não vingou. Até 2018, dois anos após a morte de Maravilha, quando Chico foi convidado pela plataforma de audiolivros Storytel para reavivar a voz dos encontros com Elke. Também deveria realizar novas entrevistas com pessoas que conviveram com ela para uma série biográfica sonora. Agora, em 2021, “Elke: Mulher Maravilha” foi transformado em livro. É editado pela Todavia Livros.

A personagem Elke

Há um aspecto trágico na história de Elke, escondido sob a risada espalhafatosa – marca registrada -, que Chico Felitti consegue detectar com muito êxito nesta biografia.

Elke Maravilha era personagem digna da melhor história de ficção. Ou seja, era fluente em oito línguas, um trunfo que coroou a vitória em seu primeiro concurso de beleza. Além disso, se tornou a modelo mais requisitada do país, foi apátrida e foi presa política durante a ditadura militar. Também foi uma das primeiras mulheres famosas a ir a público no Brasil dizer que havia realizado um aborto.

Ainda, na TV, debateu, na grade vespertina, o racismo e a homossexualidade, além de celebrar um casamento gay – vinte anos antes do país legalizar a união igualitária. Foi rica e foi pobre: numa fase ajudou muitos, na outra evitou pedir ajuda o quanto suportou. 

De onde ela veio?

Sobre a origem da artista, o jornalista revela um fato que é destaque neste perfil biográfico. Que Elke Grünupp não tinha origem brasileira, era de conhecimento público. A pele alva e os cabelos loiros-quase-brancos tinham origem europeia. Junto de sua família, ela desembarcou no Brasil em 1949, em fuga de um continente sob a Segunda Guerra Mundial.

“Meu pai dizia que, quando a gente pusesse o pé no Brasil, seríamos brasileiros”. Elke afirmava ter nascido na Rússia, em Leningrado – antigo nome de São Petersburgo. Esta informação foi, inclusive, anunciada em seu obituário no Jornal Nacional. Não era verdade. Ela nasceu, na realidade, em Leutkirch, uma pequena cidade alemã. Amigos comentam sobre fatos e anedotas contados por ela que não tinham acontecido exatamente como ela narrava. “Pessoas de seu círculo íntimo afirmam que ela contava a história da vida que desejava ter tido, não da vida que teve de verdade.”

Neste aspecto, é interessante notar como, apesar dessa espécie de “ficcionalização” do próprio passado, Elke Maravilha se incomodava quando consideravam que aquela em frente às telas era uma personagem. “Eu não atuo”, ela repetia. Essa era a visão de muitos acerca de sua gargalhada, os figurinos exóticos, as perucas e a maquiagem exagerada. “Eu não sei fazer outra coisa, sou eu mesma. Aquilo sou eu, vestida de eu, falando as coisas que eu falaria.”

Elke e o audiovisual brasileiro

Conhecer a história de Elke, é também ter um olhar privilegiado sobre a história do audiovisual brasileiro dos anos 70 ao início dos anos 90. A troca de cadeiras dos canais de televisão aberta pela preferência dos espectadores ao longo dessas décadas, por exemplo. Elke passou, então, por várias destas emissoras, como jurada de programas de calouros, apresentadora de talk-show ou atriz na dramaturgia. Chacrinha foi seu “painho”.

Já Silvio Santos era “maquiavélico”. Sua relação com essas pedras fundamentais da televisão brasileira é outro destaque do livro. No cinema, atuou em trabalhos emblemáticos de diretores como, por exemplo, Cacá Diegues e Hector Babenco.

Períodos

O fim é melancólico e está refletido na própria divisão do texto de Chico Felitti. Ou seja, grande parte desta biografia registra um período que vai, aproximadamente, de 1972 a 1993. Em resumo, quando Elke foi figura carimbada nas telinhas brasileiras.

No início de 1994, seu talk-show no SBT, mesmo com ótimos índices de audiência, foi cancelado após poucos meses no ar. Sendo assim, curiosamente, no último programa ela havia celebrado um casamento homossexual em rede nacional. Deste ano até 2016, ano da morte, a presença na TV foi ocasional e intermitente. Assim, um menor número de páginas dão conta deste período.

Redescubro Elke Maravilha neste texto ágil, quase uma conversa, de Chico Felitti. É como se eu estivesse sentado em um dos bares do centro de São Paulo ou da região da Avenida Paulista onde os dois conversaram lá em 2006. Encontros regados a cachacinha ou cerveja com Campari.

Não se preocupe, Elke. Sua história dá um livro e não há nada de chato no delicioso e sensível texto que Chico costura a partir dela. 

Encontre “Elke: Mulher Maravilha” aqui.

Capa do livro Elke Mulher Maravilha. Créditos: Todavia
Capa do livro Elke Mulher Maravilha. Créditos: Todavia

Gabriel Pinheiro é jornalista e produtor cultural, sempre gasta metade do seu horário de almoço lendo um livro. Seu Instagram é @tgpgabriel (https://www.instagram.com/tgpgabriel/)

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