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De Graça

Repertório de Elis Regina é revisitado pelo gaúcho Darwin Del Fabro

Darwin Del Fabro, que revisita o repertório de Elis Regina (Lucio Luna/Divulgação)

Darwin Del Fabro, que revisita o repertório de Elis Regina (Lucio Luna/Divulgação)

Gaúcho como a Pimentinha, o ator e cantor Darwin del Fabro acaba de lançar, nas plataformas, o disco “Revisitando Elis Regina”

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Para muitos, a iniciativa poderia ser definida pura e simplesmente como “temerária”. No entanto, o cantor, ator, produtor e roteirista Darwin Del Fabro resolveu seguir um chamado interno e, assim, soltar a voz a partir de um repertório considerado icônico: o defendido por  ninguém menos que Elis Regina (1945 – 1982), considerada por não poucos como a maior voz feminina da história da MPB. E foi desse modo que, no último dia 26 de janeiro, as plataformas dedicadas à música receberam as dez faixas que compõem o disco “Darwin Del Fabro – Revisitando Elis Regina”, produzido pela pianista, cantora e arranjadora Delia Fischer.

Gaúcho como a eterna “Pimentinha”, Darwin, na verdade, se encantou pelo canto de Elis Regina há tempos. Mas não foi só a voz e o repertório da artista que o cooptaram: tal qual, a personalidade deste ícone que, ressalta ele, desafiava os padrões da época e, assim, o ensinou a ser livre. Desse modo, na hora de definir o repertório, Darwin se permitiu levar a seleção para o âmbito pessoal, inclusive trocando o gênero em algumas letras, bem como alterando alguns detalhes. Desse modo, sustenta, ganhou uma liberdade e, mais que isso, “uma conexão”. “Eu comecei a escutar essas músicas de modo diferente. Queria que cada canção se tornasse, de certa forma, minha, com a minha mensagem. Claro que sempre honrando os grandes artistas (no caso, os compositores) que vieram antes de mim”, ressalta.

Repertório

E qual o repertório do disco? Primeiramente, “Como Nossos Pais”, de Belchior, autor também da faixa seguinte, “Velha Roupa Colorida”. A seguir, vêm “Tatuagem” (Chico Buarque/Ruy Guerra), “Alô, Alô Marciano” (Rita Lee/Roberto de Carvalho), “O Bêbado e a Equilibrista” (João Bosco/Aldir Blanc), “Casa no Campo” (Zé Rodrix/Tavito), “Atrás da Porta” (Chico Buarque/Francis Hime), “O Que Tinha de Ser” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) e, para encerrar, “Fascinação” (versão de Armando Louzada para a valsa de Dante Pilade “Fermo” Marchetti, com letra original por Maurice de Féraudy). Ou seja, um belo Lado A de Elis Regina. “São canções que  reverberam em mim há muito tempo”, explica. (abaixo, a capa do disco, em foto de Lucio Luna com arte de Tonio Vanzolini)

Toque pessoal

No entanto, desafiado a citar a faixa de “Revisitando Elis” com a qual mais se identifica, Darwin diz ser uma pergunta de difícil resposta. “Porque, antes desse álbum, eu já havia gravado alguns EPs. E como eu sou ator também, sempre penso que as canções têm que contar uma história que vai acabar se tornando algo muito pessoal para mim. Todas elas têm um porquê. No mais, adoro brincar com um ‘segredo escondido’ que eu espero que as pessoas captem e, assim, se emocionem cada vez mais. Mas para isso, acho que é preciso escutar mais de uma vez, porque eles (os segredos) estão bem escondidos”.

“É um detalhe aqui, uma forma de cantar ali, uma mensagem, uma troca de palavra pequena… Mas que, ao fim, muda todo o sentido… Assim, todas as músicas que gravei me emocionam de forma diferente. Agora, se eu tivesse que destacar uma, talvez ‘Velha Roupa Colorida’, por conta do trecho: ‘No presente a mente, o corpo é diferente/E o passado é uma roupa que não nos serve mais’. Não precisa falar mais nada, né?”, instiga. Confira, a seguir, outros trechos da entrevista.

Opção por Elis

Darwin, antes de bater o martelo por visitar o repertório de Elis Regina, passava pela sua cabeça um outro caminho? Sei lá, talvez um disco com músicas inéditas, por exemplo?

Não, eu sabia exatamente o que queria. Sabia que se voltasse a cantar em português, seriam sucessos de Elis Regina. Que são obras dos melhores compositores do mundo, na minha opinião. Ao mesmo tempo, também abrindo essa discussão sobre gênero, trocando algumas palavras e trazendo as letras para o meu ponto de vista e as minhas experiências de 2024.

Feedback

O disco “Revistando Elis” foi lançado nas plataformas no dia 26 de janeiro… Como tem sido o retorno?

Eu acho que todo artista sempre cria as maiores expectativas quando se trata de um trabalho tão pessoal e difícil, como foi esse de revisitar Elis Regina e esses compositores, principalmente trazendo uma ótica não binária. Posso dizer que coloquei o meu coração ali. Então, eu estava esperando bons resultados, por se tratar de um trabalho muito genuíno e muito verdadeiro para mim. No entanto, a surpresa é que a recepção está superando as expectativas. Veja, em duas semanas, a gente atingiu um milhão de plays no Spotify. Para um artista independente, que fez esse disco através de uma pequena (e própria) produtora, é mais do que eu poderia imaginar. Eu estou muito, muito, muito feliz.

Acessos

Qual a música de “Revisitando Elis” que tem sido mais acessada nas plataformas?

Olha, muitas músicas ficam empatadas, já que os views e os acessos, quando eu vejo na administração, estão sendo muito parecidos. Assim, não tem uma que está indo melhor, ou uma pior, o que me deixa ainda mais feliz. E isso também significa que as pessoas começam a escutar e vão até o final. Em um mundo tão louco, no qual a gente não consegue parar para escutar 15 segundos de qualquer coisa, obter esse resultado é, penso, o meu maior presente.

Ponte Rio-NY

Você mora em Nova York. O que te fez voltar ao Brasil, agora?

Na verdade, moro em Nova Iorque há oito anos, e, desde então, não tinha voltado ao Brasil. Mas decidi voltar agora para gravar esse álbum e falar de uma questão muito importante, que é a questão de gênero, da não-binariedade. Mas já voltei para Nova Iorque e sigo aqui, muito feliz com a repercussão do álbum e com os frutos que estou colhendo desse trabalho que é tão importante para mim.

No cinema

Você atuou como um dos protagonistas do filme “They/Them”, de temática LGBT, que marcou a estreia, na direção, do roteirista John Logan. Queria que me falasse sobre a experiência, uma vez que o elenco incluiu nomes consagrados, como os de Kevin Bacon e Anna Chlumsky (atriz dos filmes “Meu Primeiro Amor” e da série “Inventando Anna”)…

Olha, foi uma oportunidade incrível. Meu primeiro papel como ator nos Estados Unidos. E o trabalho me abriu portas também como escritor e produtor. Tudo isso veio na esteira da decisão de parar de tentar seguir uma forma na qual estavam tentando me encaixar. Assim, comecei a batalhar por um espaço genuíno, me encontrando cada vez mais com o meu verdadeiro eu, tanto pessoal quanto artístico. Ou seja, acho que eu estou começando a colher os frutos de ser quem eu realmente sou.

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