Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“Hannah Arendt – Uma Aula Magna”, com Eduardo Wotzik, faz temporada em BH

Gostou? Compartilhe!

Espetáculo com o ator, diretor e dramaturgo Eduardo Wotzik ecoa os pensamentos de Hannah Arendt; peça ocupa Teatro II do CCBB BH

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Cerca de cinco, seis anos atrás, durante um jantar no qual estava como convidado o ator, diretor e dramaturgo Eduardo Wotzik ouviu, de uma editora de cultura de um importante jornal do Rio de Janeiro, que o único medo que ela tinha era da massa silenciosa. “Fiquei assustado com aquilo! Falei: ‘Poxa, ela tem medo de uma massa silenciosa'”. Por conta disso, de seis anos para cá, ele começou a prestar atenção nas manifestações que ocorriam país afora. “De uma massa que antes era silenciosa e que hoje começa a se manifestar cada vez mais. (Começou a esquadrinhar) que tipo de manifestação ela estava apresentando para a gente e para o mundo”.

Eduardo Wotzik leva ao palco ideias, pensamentos, experiências e filosofias de Hannah Arendt (Kassius Trindade/Divulgação)
Eduardo Wotzik leva ao palco ideias, pensamentos, experiências e filosofias de Hannah Arendt (Kassius Trindade/Divulgação)

A massa silenciosa

Não tardou a Wotzik perceber que as citadas manifestações estavam vindo de um lugar que ele chama “de muita ignorância”. “(Tal qual) E que precisávamos reaprender, precisávamos reeducar a população. O tempo que passamos sem educar a massa, sem educar as pessoas, estava, ali, nos fazendo muita falta”. Daí nasceu o espetáculo “Hannah Arendt – Uma Aula Magna”, que passa a ocupar agora o palco do CCBB BH.

“Resolvi fazer um espetáculo sobre educação, e, principalmente, com essa personagem que passou a vida defendendo, ao mundo, a importância, a valorização da construção de um pensamento, de uma ideia própria, da diferença, da criação de uma identidade pensante”, pontua Wotzik. “Assim, o espetáculo fala sobre a educação, fala sobre cidadania, fala sobre as nossas crianças, sobre a escola, fala sobre Eichmann, que é um dos temas centrais da tese da Hannah… E muito mais”, diz, sobre “Uma Aula Magna”.

É preciso estar atento

“Hannah Arendt” ocupa o Teatro II do CCBBBH de 24 de novembro a 18 de dezembro, com ingressos a partir de 15 reais a meia entrada. Haverá bate-papo com Eduardo Wotzik após as sessões dos dias 2 e 16 de dezembro. Em cena, o elemento humor se faz presente, mas, que fique claro, como amparo às questões sérias tratadas no palco. “O tema da peça é sério, pois vivemos em um momento de urgência. Vivemos no momento onde o perigo do fascismo não é nem mais iminente, ele é permanente – e precisamos estar alertas a ele 24 horas por dia. Assim, prestando atenção para não deixarmos que o fascismo tome conta do mundo. Mas aprendi também que o humor é um caminho extraordinário de comunicação. Na verdade, é o melhor caminho para comunicação”, explana Eduardo Wotzik.

O humor

O ator, diretor e dramaturgo lembra que veio de Millôr Fernandes, um aprendizado importante. “Ele me ensinou que o humor não é comédia, não é ser engraçado. O humor é o uso da inteligência. Perceber o mundo, os fenômenos do mundo. Nesse sentido é que eu acho que a peça leva o nosso humor a extraordinariedade. Desse modo, exige o nosso humor, exige o uso da nossa inteligência para perceber a humanidade. Nesse sentido acho que o espetáculo tem muito humor”, analisa Eduardo.

“‘Hannah’ também veio dizer, para a gente, que é muito importante construir um pensamento e que é muito divertido raciocinar. Durante muito tempo, fomos ensinados que pensar era uma coisa muito desagradável, chata. Pelo contrário. Pensar talvez seja a coisa mais divertida que a gente possa fazer. O que nos difere dos outros seres vivos. E, além de tudo, pensar é a coisa mais barata e livre que um ser humano pode fazer”, advoga Eduardo, na entrevista ao Culturadoria.

“Ideias Que Chocaram o Mundo”

À reportagem, Eduardo revela que Hanna Arendt entrou na vida dele quando assistiu ao filme “Hannah Arendt – Ideias Que Chocaram o Mundo”, de Margarethe von Trotta. “Que, aliás, é filme extraordinário. Inclusive, recomendo a todos que vejam, porque é lindo. Mas ela entrou mesmo, e falo de meter o pé no meu peito, assim, quando eu resolvi fazer esse espetáculo sobre a educação. Quando eu resolvi fazer esse espetáculo sobre a educação, as minhas experiências de vida não eram suficientes para abarcar um tema tão importante, tão bacana, que precisa ser tão valorado”.

“Puxada de pé”

Daí, Eduardo Wotzik brinca que, um belo dia, Hannah Arendt veio puxar o seu pé. “E disse: ‘Vamos descer para o play, vamos. Vamos brincar lá embaixo. Vamos brincar de fazer teatro, vamos pensar juntos como é que a gente pode trazer para o mundo contemporâneo, me trazer para o mundo contemporâneo, trazer a Hannah Arendt para o mundo contemporâneo. Ou seja, como é que ela pode invadir o teatro para falar sobre as urgências das pessoas hoje. Sobre as causas que nós estamos defendendo, no que ela podia ajudar”.

E aí, prossegue ele, Hannah Arendt veio falar sobre a massa silenciosa, sobre a importância da construção de um pensamento… “E veio me falar também da diferença entre educar e ensinar. É muito diferente você educar as pessoas e você ensinar as pessoas. Ela veio me trazer tantas ideias novas, que fui cooptado. E aí quando isso acontece no meu ser cênico, eu sou obrigado a dividir, a compartilhar com os espectadores. Assim, é o que eu estou fazendo. Essa é a minha missão. Vou estar lá, no CCBB BH, com a maior alegria, em todos os dias de apresentação, compartilhando essa experiência. Logo, compartilhando as ideias, os pensamentos dessa filósofa tão importante para o nosso mundo”.

Serviço

Espetáculo: Hannah Arendt – Uma Aula Magna
Período: 24 de novembro a 18 de dezembro – sexta a segunda, às 20h
Local: Teatro II – CCBBBH – Praça da Liberdade
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), disponíveis no site ccbb.com.br/bh e bilheteria, a partir de 15/11

*Bate-papo após as sessões dos dias 2 e 16 de dezembro.

Gostou? Compartilhe!

[ COMENTÁRIOS ]

[ NEWSLETTER ]

Fique por dentro de tudo que acontece no cinema, teatro, tv, música e streaming!

[ RECOMENDADOS ]