Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Filme de Bárbara Paz sobre Hector Babenco é um tratado sobre o amor

Documentário ‘Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou’ foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes depois de vencer o leão de ouro em Veneza

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Sim, é triste registrar a morte de alguém. Mas a atriz Bárbara Paz, em sua estreia como diretora, mostra que a tarefa pode ser bonita, poética e extremamente emocionante. Ela resume tudo em uma palavra: “um filme sobre amor”. É assim que costuma apresentar o documentário Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou.

É bem difícil escrever sobre este filme. Por que será? Talvez por tratar de intimidade, sentimento, despedida e, nestes casos, nem sempre as palavras me saem com facilidade e objetividade. Ao longo dos 70 minutos, tive a impressão de estar compartilhando com Bárbara e Hector um pouco da conexão que desfrutaram ao longo da vida. Nem todo mundo tem a sorte de encontrar uma parceria deste tamanho. O filme deixa nítido o quanto Bárbara admirava Hector. Mais que isso, o quanto aquele amor foi – e é – verdadeiro.

Quando terminou a projeção na Mostra de Cinema de Tiradentes, dia 01 de fevereiro, fiquei pensando no quanto o amor também se revela na inutilidade do ser amado. Mesmo nos momentos críticos da doença, em devaneios e alucinações, havia este elo permanente entre eles. Inabalável. Entre Hector, Bárbara e o cinema.

Hector Babenco em cena no documentário Babenco - alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou. Foto: Imovision/Divulgação

É claro que o documentário pode ser analisado a partir de diferentes pontos de vista. Inclusive técnicos e estéticos. Mas como o aspecto emocional foi o que mais me pegou, não tem como seguir caminho diferente por aqui.

A doença

Hector Babenco conviveu com doenças desde os 38 anos de idade, quando descobriu o primeiro câncer. Foi logo após receber uma indicação ao Oscar de melhor diretor. Dali em diante, a rotina foi uma batalha constante pela vida. Ele queria sempre a oportunidade de fazer um novo filme.

Foi um amor obstinado a este ofício. Em meio a uma cena e outra, de arquivo ou especialmente captada para o documentário, o cineasta vai deixando o claro o quanto precisava filmar para viver. O sentimento aparece nas entrelinhas. Por exemplo, na forma como Hector ensina Bárbara a operar a câmera, na devoção como conduz os sets de filmagem. Assim como o nome do documentário, as cenas são todas muito poéticas. Como Bárbara conta no vídeo, ela fez questão de cuidar pessoalmente de todas as etapas de elaboração do longa.

 

 

Montagem

Boa parte da equipe de Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou é de Minas Gerais. Cao Guimarães, por exemplo, foi o último montador convidado e quem finalizou o longa ao lado de Bárbara. Ela queria alguém que tivesse um olhar artístico que fosse além do cinema. Cao, mais que cineasta, é também artista plástico. Esta experiência claramente agregou. Assim como a de O Grivo na trilha sonora e a participação da Orquestra Ouro Preto e Rufo Herrera.

O filme é todo em preto e branco. Fazendo assim, eles alcançaram uma unidade nas imagens, o que contribui ainda mais para a narrativa. Para quem não conhecia o cineasta, o documentário cumpre a função de apresentar Hector e a filmografia dele. Para quem já acompanhava a carreira dele, atesta a paixão pelo ofício.

Porém, o documentário não faz isso de modo convencional ou banal. As cenas dos filmes – fez 14 longas na carreira – vão complementando a narrativa sobre o diretor. É muito curioso perceber uma coisa: parece que o tempo inteiro, Hector usou o cinema para também falar de si.

Lucidez

Hector Babenco sempre foi um homem muito lúcido em relação a vida e à morte. Isso fica claro nas falas usadas em off ao longo do documentário. Aliás, deve ter sido um trabalho imenso escolher cada uma delas. A sensação que dá é que cada vez que ele falava, havia algo a contribuir. Mesmo que a forma não fosse exatamente sutil.

Enfim, Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou é um emocionante retrato de alguém que amou. A vida, a mulher, os amigos, o cinema.

 

A atriz e diretora Bárbara Paz na Mostra de Cinema de Tiradentes. Foto: Leo Lara/Universo Produção

Culturadoria viajou a Tiradentes a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

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