
Aldir Blanc, Foto: Alaor Filho / AE
Quando escritores, músicos, pintores, dançarinos e artistas em geral morrem, eles deixam conosco a sua obra. Além de serem lembrados pelo conjunto criado, deixam também memórias de afeto. Pensando nisso, aqui vão cinco dicas de livros de escritores que nos deixaram neste ano. Além de Aldir Blanc, Sérgio Sant’Anna e Rubem Fonseca, também destacamos Luiz Alberto Mendes e Luiz Alfredo Garcia-Roza.
Indicamos aqui os livros para você começar a conhecer a produção de cada um. Esta é uma forma de manter viva a memória e prestar uma homenagem.
Confira!
Rua dos Artistas e Arredores, de Aldir Blanc
Aldir Blanc se formou em medicina, mas foi na música que se encontrou. Desde a adolescência já escrevia e participava de festivais de música. Entre os maiores sucessos estão Bala com bala, O bêbado e a equilibrista, Catavento e girassol e O mestre-sala dos mares. Isso só para citar algumas poucas músicas.
Na literatura, atuou principalmente como cronista, tendo publicado em periódicos como O Pasquim, O Dia, Jornal do Brasil, Última Hora e O Globo. Dos escritos para O Pasquim nasceu Rua dos Artistas e Arredores. Uma coletânea de crônicas que, em geral, retratam cenas do cotidiano, de ruas e personagens da infância de Aldir Blanc em Vila Isabel. Um dos maiores letristas da música brasileira morreu em 4 de maio vítima do novo coronavírus.
Feliz ano novo, de Rubem Fonseca
Rubem Fonseca se destacou na literatura por construir narrativas de ficção mescladas com histórias reais. Por exemplo, o livro Agosto que se passa no contexto do suicídio de Getúlio Vargas. Outra característica de Fonseca é a narrativa ágil, direta, moderna e clássica, na qual os personagens mais variados se misturam, como assassinos, prostitutas, delegados, políticos e outros.
Exemplo disso é o livro Feliz ano novo. Trata-se de uma coletânea de contos que apresenta histórias de violência, sexo e conflitos entre classes sociais. Assim que foi lançado, se tornou best-seller, vendendo 30 mil exemplares. Entretanto, as temáticas e formas com que foram abordadas levaram à proibição pela ditadura militar brasileira por “ferir a moral e os bons costumes”. Com o fim da ditadura, foi liberado novamente, mas só ganhou novas edições a partir de 1989.
Só para exemplificar a importância do autor para a literatura brasileira, ele recebeu, em 2003, o Prêmio Camões (o principal da literatura portuguesa) e, em 2015, o Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras. As duas premiações foram pelo conjunto da obra. Rubem Fonseca nos deixou aos 94 anos, no dia 15 de abril em decorrência de um infarto.

Sérgio Sant’Anna, Foto: Leo Martins / Agencia O Globo
O voo da madrugada, Sérgio San’Anna
Apesar de escrever em outros gêneros, Sérgio San’Anna se destacou principalmente como contista. A produção é marcada pelo experimentalismo estético. No livro O voo da madrugada (2003) é possível perceber isso. Os 16 contos que compõem a obra promovem reflexões sobre assuntos comuns, como sexo, desejo e morte, por meio da metaliteratura. Só para exemplificar, um dos contos, O gorila, mostra um personagem que vive passando trote em mulheres até ser pego. O volume também mostra o fascínio de Sant’Anna pelas artes plásticas.
Ao longo da carreira, Sérgio ganhou quatro Prêmios Jabuti, três APCA, o troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte, e um prêmio da Biblioteca Nacional. Além de escritor, formou-se em direito e foi professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Aos 78 anos, o autor também faleceu vítima do coronavírus no último dia 10 de abril.
Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes
Luiz Alberto Mendes ficou conhecido pelo livro Memórias de um sobrevivente, o primeiro de uma trilogia que narra a sua vida durante e depois do cárcere. Os relatos refletem sobre a dor, o encarceramento e a violência. Foi publicado em 2001, quando Luiz ainda estava encarcerado.
Quando foi preso, aos 19 anos, por homicídio e outros crimes, se interessou pela leitura por incentivo de uma enfermeira e participou de concursos de artes dentro da prisão. Dessa forma, ao conquistar a liberdade, deu continuidade na escrita e criou um programa de recuperação social. A partir dele, atuava em penitenciárias dando oficinas de leitura e escrita, bem como na periferia de São Paulo. O escritor morreu em 8 de abril por causa de um aneurisma aos 68 anos.

Luiz Alfredo Garcia-Roza, Foto: Tasso Marcelo / Estadão Conteúdo / Arquivo
O silêncio da chuva, de Luiz Alfredo Garcia-Roza
O escritor é um dos maiores nomes do romance policial no Brasil, se destacando principalmente pelo detetive Espinosa, personagem principal das histórias. A primeira aparição do detetive é no livro O silêncio da chuva, ficção de estreia publicada por Garcia-Roza e que rendeu a ele, em 1997, o Prêmio Jabuti de melhor romance. Além disso, também foi agraciado com o Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira pelo mesmo livro.
A narrativa se dá a partir da misteriosa morte de um executivo no Rio de Janeiro. Trata-se de um assassinato complexo de investigar. Ao mesmo tempo que procura solucionar o mistério, o inspetor Espinosa reflete sobre a vida, sentimentos e se esforça para realizar o seu trabalho, que ocupa grande parte da sua rotina.
Luiz Alfredo Garcia-Roza, antes de atuar na ficção, estudou filosofia e psicologia e dedicou grande parte da vida à academia. Deu aula na Universidade Federal do Rio de Janeiro e escreveu livros sobre psicanálise e filosofia. Ele morreu em 16 de abril aos 84 anos. Já estava internado há meses depois de sofrer um AVC.