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“Dias vazios”: a crise existencial da adolescência agravada por fatores regionais

Com as descobertas e experimentações da adolescência, surgem também muitas crises existenciais. O fim do ensino médio, especificamente, é um momento delicado por significar o fim do caminho natural comum a todos. Chega o momento de tomar decisões tão importantes quanto aterrorizantes.

A dificuldade pode ser ainda maior para um jovem que vive no interior. As opções são mais limitadas: ou ele se muda para um grande centro, ou se acomoda onde está, e segue o caminho dos pais.

É esperado que a complexidade de tais decisões e as pressões exercidas por todas os lados – inclusive internamente – afetem a saúde mental dos jovens. Esse foi o contexto escolhido pelo diretor Robney Bruno Almeida para abordar o tema do suicídio em seu filme “Dias Vazios”, exibido na Mostra de Tiradentes. O longa concorre ao troféu Barroco da Mostra Aurora.

 

O filme

Trata-se de uma adaptação do livro “Hoje está um dia morto”, de André de Leones. Acompanhamos Fabiana e Jean, um casal de namorados que leva uma vida pacata até demais em Silvânia, cidade do interior de Goiás. Levava. O romance fora interrompido precocemente pelo suicídio dele.

O ato não fora totalmente inesperado. Jean demonstrava sinais de tristeza e falta de perspectiva há algum tempo. Pouco antes de tirar a própria vida, ele relatara a uma professora sobre um sonho que tivera com Deus, em que lhe fora revelado que ficaria preso na cidade para sempre.

Devastada, Fabiana desapareceu. Mas ela não foi a única afetada. Toda a cidade ficou extremamente abalada. Nesse contexto surge Daniel, um jovem escritor que tentava produzir um livro sobre o episódio. Sua vida parecia seguir o mesmo caminho da de Jean, em seus últimos dias.  Mesmas palavras, mesmas atividades, mesmas pessoas e mesmo lugar. A sensação de Dejavu é desesperadora para o espectador.

Neste momento, somos representados pela personagem da diretora da escola. Uma irmã católica que se esforça para conhecer e orientar esses jovens, incentivando-os a traçarem objetivos e permanecerem firmes. Enfim, salvá-los.

Dividida em três partes, a narrativa se alterna entre momentos distintos na vida desses jovens. Além de brincar com a linearidade, a realidade criada no filme se alterna com a ficção literária do livro de Daniel em alguns momentos, o que pode causar certa confusão.

Silvânia

A cidade em que se passa a história é retratada como um lugar frio, deserto, onde nunca acontece nada. A fotografia desbotada, retratando um céu sempre nublado, reforça essa ideia. Um cenário perfeito para viver dias vazios.

No debate realizado após a exibição, o diretor fez questão de explicar que a intenção não era transformar Silvânia em um personagem. O que se vê aqui é visão que esses jovens carentes de perspectiva têm da cidade. “Na realidade, trata-se de um lugar ensolarado e movimentado. O que foi uma pedra no caminho da produção”, explicou o diretor.

A discussão sobre perspectiva de vida dos jovens em cidades do interior parece ter uma relevância especial por aqui. Afinal, falamos de uma cidade do interior de Minas Gerais com pouco mais de 7000 habitantes. Alguns Tiradentinos com certeza se identificariam com as questões retratadas em “Dias Vazios”.

*Viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

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