A mostra apresenta 12 fotografias e uma instalação em lambe-lambe de Coniiin, e foi selecionada no 7º Programa de Seleção da Piccola Galleria
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Desde que começou a dar vazão ao lado fotógrafo, o artista Coniiin passou a acalentar também o desejo de ter exposta ao menos parte do material resultante deste trabalho. A boa notícia veio quando o nome dele foi um dos selecionados no 7º Programa de Seleção da Piccola Galleria, um dos espaços expositivos da Casa Fiat de Cultura. Assim, a partir desta terça-feira, dia 2 de abril, e até o dia 19 de maio, Coniiin ocupa a galeria com a mostra “Revela”, que apresenta 12 fotografias e uma instalação em lambe-lambe.
Batizado como Marconi, Coniiin – o nome artístico deriva do apelido que ganhou ainda criança – atua há anos com a cobertura de eventos. Como o próprio material referente à mostra destaca, “em especial da cena de reggae e hip hop, com artistas negros”. “Essas referências podem ser vistas em seus registros, que também contemplam composições artísticas, o contraste de luz e sombra e a sutileza dos movimentos”, prossegue a apresentação, lembrando que essa é a primeira exposição de Coniiin.
Profícuo
Na verdade, Coniiin, hoje com 28 anos, já registra dez anos de trajetória. Profícuo que só, já soma mais de 100 mil fotografias. Um montante assombroso, lembrando que o primeiro contato dele com uma câmera fotográfica se deu há tão pouco tempo. Precisamente, quando trabalhava em uma fábrica na zona leste de Belo Horizonte, região na qual nasceu e onde vive até hoje. Um ponto importante a se destacar: Coniiin é míope e, assim, sente que a visão foi de certo modo ampliada por intermédio das lentes.
O Culturadoria conversou com o fotógrafo, que já soma vasta experiência em eventos, como o Planeta Brasil, bem como o Festival Batekoo SP. Tal qual, ao acompanhar o músico Djonga no Festival Rap Cena, bem como no Festival João Rock. Sendo assim, confira, a seguir, trechos do bate-papo, por tópicos.
Exposição
“Na verdade, o desejo de ver minhas fotos expostas vem desde o meu próprio início na fotografia, por ter várias referências de fotografia documental. Assim, eu inclusive já separava algumas fotos de eventos, de rua e dos ensaios que fazia”, ressalta Coniiin. Por outro lado, ele conta que a mostra “Revela” traz, no título, uma referência também ao fato de ele ser uma pessoa de natureza mais tímida. “Ou seja, eu sou mais na minha. Mas, ao mesmo tempo, tenho muita vontade de querer expressar o que sinto, o que eu vejo, as coisas nas quais acredito, sabe?”.
Coniiin prossegue: “O nome da mostra também fala muito sobre algo que estava guardado. E a seleção das fotografias inclusive se deu já com essa cabeça de querer incluir, na exposição, várias expressões artísticas de pessoas que passaram pelo meu caminho. Que fizeram parte do meu caminho, como em uma forma de colab”.
Seleção
O fotógrafo admite que só quando foi aprovado no processo seletivo da Casa Fiat de Cultura soube que a exposição contaria com poucos trabalhos – na verdade, em consonância à própria proposta do espaço e ao espaço físico. “Ou seja, vi que era algo ‘menor’ (em termos de quantidade de obras) do que tinha imaginado, mas, ao mesmo tempo, percebi que poderia ser algo grandioso”, pontua Coniiin.
“Assim, a seleção das 12 imagens reflete um pouco de todo o meu processo, com ensaios, fotografias de rua e de eventos que incluem pessoas que fazem parte da minha vida, que são referências pra mim. Pessoas que me trouxeram uma consciência cultural, uma consciência que somou demais, politicamente mesmo, para a vida. Então, acho que é sobre relembrar bons momentos e, ao mesmo tempo, falar sobre auto-estima e dar voz a pessoas nas quais eu acredito, sabe?”, arremata ele.
Planos futuros
Coniiin conta que, no futuro, quer ir mais para o lado do cinema. “Assim, poder criar, poder direcionar… No entanto, ao mesmo tempo quero continuar podendo registrar o caminho de outros artistas, poder registrar as ruas – tipo a minha cidade. E, claro, a minha família. Quero poder falar mais sobre a fotografia, o quanto ela pode ser uma espécie de porta-voz, o quanto pode dar para uma sociedade. Uma sociedade que tem muito o que expressar, uma sociedade periférica. Ou seja, falar sobre cultura negra. E também como uma forma de lazer. Para que as pessoas possam registrar os melhores momentos da própria quebrada, da família, de coisas que acreditam”, lista.
Nome artístico
O nome artístico, Coniiim, conta ele, é uma derivação do nome de batismo, Marconi. “É um apelido que eu tenho desde criança. Foi dado pelos meus familiares e, com o tempo, eu fui achando que fazia sentido sabe? Por conta disso, por me fazer lembrar de muitas coisas da minha infância, que hoje moldam meus trabalhos, meus desejos”.
Acima, detalhe de uma das obras de Coniiim, que pode ser vista na Casa Fiat de Cultura (Leo Lara/Divulgação)
“Abrindo os Caminhos”
Um dos destaques da mostra é “Abrindo os Caminhos”, que Coniiin conta ser uma montagem com vários momentos fotografados por ele. “E cada um tem o seu significado, tipo tem a foto do primeiro show da DV Tribo, e outras fotografias mais de rua. Ou seja, uma junção de vários momentos que foram muito importantes tanto para mim quanto para cultura hip-hop, a cultura negra em Belo Horizonte”. Da mesma forma, ele se detém sobre “Ilumina”, de 2017, que, comenta, traz pouco do DeSkaReggae. “Ou seja, quando eu descubro a cultura do Sound System aqui, em Belo Horizonte”.
E também diante de expoentes desta cena, como os Irmãos Channel One. “Que não são daqui, mas que são pioneiros do Sound System. Este trabalho também fala um pouco sobre eu estar descobrindo a miopia, logo ali, no meu primeiro contato com a fotografia. Assim, o que me despertou uma certa magia foi poder focar, ver nitidamente uma imagem, bem como vê-la mais ampliada. Aliás, eu sempre gostei de registrar com pouquíssima luz. E registrar detalhes, como os de rostos”.
Já “Identifica” deriva da ideia de fazer um projeto que iria se chamar “Traços”. “Por conta de falar um pouco sobre ter essa consciência cultural através desse registro, desses detalhes desse registro, de traços lá de trás, que falam sobre uma identidade”.
Lista de obras
Universo (lambe-lambe)
Ilumina (2017)
Identifica (2018)
Transparecer (2017)
Instante – Henrique (2017)
Abrindo os caminhos (2017)
Satisfaz my soul – Mayí (2017)
Ponto de vista (2017)
Traçando caminhos (2019)
A rua fala (2018)
Referências da minha área – Niko (2018)
Coniiin (2018)
Plenitude – Primeiro Ensaio – Flávio Roque (2018)
Serviço
Exposição “Revela”, de Coniiin, na Casa Fiat de Cultura
Período expositivo: 2 de abril a 19 de maio de 2024
Visitação presencial: terça-feira a sexta-feira das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h (exceto segundas-feiras)
Tour virtual no site do espaço
Bate-papo e visita com o artista
2 de abril, às 19h, na Casa Fiat de Cultura
Casa Fiat de Cultura
Praça da Liberdade, 10 – Funcionários – Circuito Liberdade
Horário de Funcionamento
Terça-feira a sexta-feira, das 10h às 21h
Sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h